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SÃO PAULO – Bem distante do sonho brasileiro, tendo em vista que o Ibovespa acumula somente em 2014 queda de 9,55%, as bolsas dos Estados Unidos iniciam no dia 10 de março seu 6° ano de “bull market” (expressão usada para definir uma valorização de pelo menos 20% em relação ao seu menor nível atingido durante o período anterior marcado por fortes quedas). Se o avanço atual das bolsas durar mais 16 pregões, ele será o quarto mais longo, ultrapassando o encerrado em 1987. Não para menos, na última sexta-feira (7) o S&P 500, um dos principais índices acionários norte-americanos, encerrou em nível recorde de alta pela 51° vez nos últimos 12 meses, a 1.878 pontos.
Desde que deixou para traz seu pior “bear market” (definido por um período de queda superior a 20%) nos últimos 100 anos, que durou de 2007 a 2009, o S&P já subiu mais de 170%. A Média Industrial Dow Jones saltou 151% desde o seu mínimo de 9 de março, que se seguiu à crise financeira. E o Índice Composto Nasdaq subiu 242%. (Para efeitos de comparação, o Ibovespa ganhou míseros 25,9% no mesmo espaço de tempo).
Esse cenário de bull market nos EUA, no entanto, foi construído a duras penas em um ambiente econômico global conturbado. “Esse bull market foi construído com liquidez e pessimismo, não com crescimento e otimismo”, argumentou o estrategista-chefe de investimentos do Bank of America Merrill Lynch, Michael Hartnett, em nota a clientes nessa semana.
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O maior motor das bolsas dos EUA até agora tem sido a determinação do Federal Reserve de impedir uma recessão e corrigir os problemas de seu sistema financeiro. O Fed cortou os juros do overnight para quase zero em 2008 e, depois, empurrou para baixo os juros de longo prazo através da compra dos títulos de dívida do mercado, no que gastou mais de US$ 3 trilhões desde aquele ano.
Os estímulos impulsionaram o mercado norte-americano no pós-crise de 2008, enquanto o Brasil, que não viu sua Bolsa ser tão penalizada naquele ano, passou a entregar resultados reduzidos nos anos seguintes, em meio a essa melhora da economia dos EUA, falta de credibilidade com a política interna e a piora da economia chinesa.
Até quando vai durar?
Especialistas se dividem entre uma forte correção em breve e a continuidade do bull market.
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Do lado dos que acreditam em continuidade da tendência atual, aparece Sam Stovall, chefe da equipe de análise da S&P Capital IQ. Em recente entrevista ao portal americano Market Watch, Stovall disse que seriam necessários 6 fatores para que isso ocorra: a economia dos EUA alcance crescimento de 3% no final de 2014, suportada por ganhos nas vendas de automóveis e casas; ganhos por ação cresça juntamente com a receita das companhias (Stovall espera crescimento de 8% no LPA (Lucro Por Ação) com receita subindo 3,7%); o Congresso norte-americano precisaria indicar que está trabalhando em direção à uma reforma fiscal significativa em 2015; e, por fim, que o valuation das empresas continuem suportando esse otimismo.
Por outro lado, em fevereiro começaram burburinhos de que uma correção de 10% estaria próxima. O ápice do pessimismo veio com a divulgação do gráfico denominado “Paralelo Assustador”, no qual indicava uma forte correlação do comportamento do mercado antes do crash de 1929 e o atual.
Além disso, uma pesquisa com investidores feita pelo Market Watch apontou que quase metade indicava um sentimento pessimista com o mercado. Outro reforço de peso ao time “bearish” veio depois que o gestor norte-americano George Soros, que administra US$ 28,6 bilhões, revelou que aumentou para US$ 1,3 bilhão no quarto trimestre do ano passado sua aposta na queda do S&P 500.