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Na última quarta-feira (12), o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) divulgou seu relatório de oferta e demanda para as commodities do setor. Entre os destaques do documento, ficou a mudança da projeção do crescimento do consumo de carne bovina na China para o próximo ano, que dividiu analistas quanto aos possíveis impactos nos frigoríficos brasileiro como a JBS (JBSS3), Minerva (BEEF3) e Marfrig (MRFG3).
Se em seu último relatório o USDA tinha projetado que a demanda por carne bovina na China iria cair 3% em 2023, agora a expectativa é que ela suba 1% na base anual. Já as projeções para as importações de carne bovina do país asiático nesta frente eram de uma queda de 19,4% em 2023 frente a 2022 e passaram, agora, para um recuo menor, de 9,2%.
“As estimativas oficiais do USDA foram materialmente melhores do que aquilo que foi indicado anteriormente por sua equipe e sugeriram que o Brasil pode até aumentar suas exportações totais de carne bovina em 0,8% no ano, beneficiando-se de ofertas mais baixas de outras regiões produtoras principais e de sua relativa competitividade de preços”, afirma Thiago Bortoluci, analista do Goldman Sachs, em relatório.
Os especialistas da instituição americana veem que o Brasil pode obter vantagens da menor disponibilidade de gado na Argentina e no Uruguai – o primeiro país sendo impactado por custos maiores, que diminuem a oferta, e o segundo por estar focando na exportação de cortes de alta qualidade.
“Com 27% de sua receita dos últimos meses proveniente da China, acreditamos que a Minerva pode se beneficiar particularmente dessa dinâmica. As suas ações caíram 10,5% desde que o relatório preliminar do USDA sobre a China foi divulgado, em 7 de setembro, enquanto o Ibovespa subiu 4,6%”, diz Bortoluci.
O Itaú BBA vai no mesmo caminho, acrescentando que, apesar do avanço da produção interna chinesa, os produtores do país ainda pecam em competitividade, o que beneficia os frigoríficos brasileiros.
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“O USDA espera que o Brasil ganhe participação no mercado global de carne bovina, já que o país tem maior disponibilidade de gado do que seus principais concorrentes e preços mais competitivos do que Nova Zelândia e Austrália”, diz a equipe do banco brasileiro, chefiada por Gustavo Troyano.
Minerva deve ser maior beneficiada
O banco reitera, também, sua preferência pelas ações da Minerva, mencionando que a JBS e a Marfrig devem, no cenário geral, continuar a sofrer por conta do recuo das margens nos Estados Unidos, onde são muito atuantes.
“As estimativas de produção nos Estados Unidos apontam para uma queda de 800 mil toneladas na base anual em 2023 (uma queda de 6% em relação à previsão de 2022), principalmente devido a um gado mais apertado e a um rebanho e retenção de fêmeas potencialmente maior no próximo ano”, explica o BBA.
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O BBA, além da Minerva, afirma que também que tem uma visão positiva para a BRF, mas por um motivo diferente. A companhia, muito atuante na exportação de aves, pode ter, na visão do banco, seu balanço impulsionado por conta da gripe aviária, que vem atingindo os Estados Unidos e a Europa.
“A competitividade do Brasil no comércio global deverá aumentar, pois o país oferece diferentes cortes de frango que são capazes de abastecer todos os grandes importadores da proteína, com melhores preços. Em linha com esse cenário, a USDA agora prevê que as exportações brasileiras aumentarão 175 mil toneladas em 2023 (um aumento de 4% na base anual”, diz a equipe do banco brasileiro.
Bradesco BBI tem visão mais negativa
Os analistas do Bradesco BBI, por outro lado, não tiveram uma visão tão positiva assim do documento publicado pela instituição americana.
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“O documento provavelmente será lido como negativo para as ações dos produtores de carne bovina, principalmente para Minerva, apesar da expectativa de que as exportações totais de carne bovina do Brasil aumentem”, explicam os analistas. “Este relatório é preocupante porque as exportações de carne bovina da Minerva para a China representam cerca de 35% de sua receita total, superior às da Marfrig, de cerca de 10% e da JBS, que é cerca de 5%”.
Para a casa, o que chama a atenção no documento é a projeção de que a China aumentará sua produção de carne bovina em 5% no próximo ano, se tornando menos dependente das exportações – sendo que hoje o gigante asiático é responsável pelo consumo de 30% da produção mundial.
“Este relatório do USDA pode levantar uma bandeira amarela para os investidores de que a China pode continuar a reduzir a dependência das importações de carne bovina, dado o aumento significativo na produção doméstica”, contextualizam. “Isso em um momento em que já estávamos questionando se o país manteria o mesmo nível alto do consumo de carne bovina, uma vez que recuperou sua produção de carne suína que é a proteína favorita do país, após o surto de febre suína em 2018”.
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Por outro lado, a previsão do USDA de que as importações de frango da China aumentarão 15% em 2023 deve ser lida como positiva para a BRF, avalia o BBI.
O Goldman Sachs tem posição neutra para as ações ordinárias da Minerva, com preço-alvo em R$ 16 (upside de 21,2% frente ao preço de abertura de hoje).
O BBI tem recomendação e preço-alvo idênticos para a Minerva, sendo que tem a mesma posição para a JBS, com preço-alvo em R$ 34 (upside de 39,9%) e para a Marfrig, com preço-alvo em R$ 18 (upside de 76,4%). Para a BRF, a recomendação é de compra, com preço-alvo em R$ 27 (upside de 92,1%).
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Na sessão desta quinta, a visão positiva para Minerva predomina, com as ações BEEF3 subindo 4,83%, a R$ 13,89, às 13h20 (horário de Brasília). O ativo da JBS subia 1,14%, a R$ 24,91, no mesmo horário, enquanto BRFS3 tinha ganhos de 0,28%, a R4 14,37, e MRFG3 tinha avanço de 0,77%, a R$ 10,45.