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Esta quarta-feira (20) é marcada pelas decisões monetárias do Banco Central brasileiro e do Federal Reserve (Fed), mas o mercado, nos dois países, estará mais de olho nas sinalizações que as duas instituições darão sobre suas movimentações futuras. No Brasil, investidores estarão atentos para ver se o comunicado dará sinais da continuação do ciclo de queda dos juros. Nos Estados Unidos, as projeções de um possível início é que darão o ritmo da Bolsa.
Em parte, a pouca importância das decisões se dá pelo fato de elas já “estarem dadas”. No Brasil, o BC deve cortar a Selic novamente em 50 pontos-base, para 10,75%. Nos EUA, o Fed deve manter a sua taxa inalterada no intervalo entre 5,25% e 5,50%.
No cenário interno, na última semana, especialistas passaram a precificar uma Selic terminal (nível onde o Banco Central encerrará seu ciclo de queda) mais alta, por conta de dados macroeconômicos mais fortes do que o esperado. Números do varejo, Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) e o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) foram alguns dos indicadores econômicos que colocaram em alerta o ritmo do processo de desinflação.
“No Brasil, as surpresas podem vir em afirmações referentes ao ritmo de corte da Selic. O Copom tem reafirmado que considera adequado o ritmo atual, mas vem sendo ventilado entre analistas de que é possível uma sinalização no sentido de diminuir o compromisso com o ritmo e deixar outras possibilidades em aberto”, diz Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad.
No caso de o Banco Central brasileiro sinalizar um ritmo mais lento de corte de juros, para controlar a inflação, o provável é que a Bolsa brasileira sofra, com o Ibovespa no vermelho. Juros mais altos inibem a atividade econômica, diminuindo lucro das empresas, aumentam os gastos financeiros e ainda tiram dinheiro da Bolsa de valores, já que a renda fixa paga mais.
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“A grande dúvida é se eles tirarão a sinalização de cortes futuros na mesma magnitude do que a atual, que é o chamado Forward Guidance. Se irão tirar a palavra cortes do plural para o singular”, fala Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master. “Se não tirarem, será uma sinalização dovish”.
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Nos EUA, a dinâmica será parecida. Sinalizações mais fortes de cortes de juros tendem a puxar o mercado para cima e as de manutenção, para baixo. “Em ambos os casos a preocupação é que nos modelos de projeção das autoridades já estejam sendo consideradas maiores dificuldades em trazer a inflação para a meta”, fala Igliori, da Nomad.
Por lá, uma atenção especial ficará para o gráfico de pontos do Fed – que mostra as expectativas dos diretores quanto aos cortes de juros no ano.
A Levante, em seu morning call de hoje, lembra que os investidores esperam cortes nos juros já a partir da reunião do Fomc agendada para junho. “No entanto, os diretores do banco central americano vêm repetindo em todas as oportunidades possíveis que a política monetária dependerá dos indicadores econômicos”, acrescentam.
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A questão é que indicadores recentes, por lá, também vêm mostrando “uma economia com ritmo vigoroso”, que, no olhar da casa, “precisa mais de freios do que de estímulos”. Por lá, os últimos dados de atividade e emprego ainda aquecidos e uma constatação da inflação resiliente, em especial a de serviços, alimentam certo pessimismo sobre o início dos cortes – hoje precificado para junho – e começou a ser estendido para o tamanho da flexibilização.
“Com as recentes surpresas altistas, o risco na projeção de inflação é para cima, o que aumenta, sim, a chance de redução do tamanho dos cortes de juros”, avalia Andressa Durão, economista ASA Investments, que pondera considerar esse cenário como “alternativo”.
Ela também diz acreditar que Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, não deve mudar muito sua principal mensagem na tradicional coletiva após a decisão. Ele deve ir pela linha de que o Fed precisa de mais dados para ter mais confiança na desaceleração da inflação em direção à meta. “Mas deve dizer isso de forma que indique, indiretamente, que junho é uma opção melhor que maio”, estima.