BC deve subir juros no Brasil, mas por pouco tempo: como atuação deve afetar a Bolsa?

Analistas veem efeitos diversos: renda fixa vai seguir mais atrativa, mas ao mesmo tempo gera efeitos positivos

Lara Rizério

Painel eletrônico mostra cotações de ações na B3, em São Paulo 05/08/2024 REUTERS/Carla Carniel
Painel eletrônico mostra cotações de ações na B3, em São Paulo 05/08/2024 REUTERS/Carla Carniel

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O JPMorgan passou a apostar que o Brasil começará a aumentar os juros em setembro, e diz ver a Selic em 11,5% no início do ano que vem.

O banco agora precifica um aumento de 0,25 ponto percentual na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) deste mês e três aumentos adicionais de mesma magnitude nos próximos meses. A Selic está atualmente em 10,50%.

Outros bancos, incluindo Wells Fargo e grandes gestores de ativos, como XP Investimentos e Legacy, também preveem um ciclo de aperto monetário começando em setembro.

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A equipe de estratégia do JPMorgan, formada por Emy Shayo e Cinthya Mizuguchi, continua vendo as taxas caindo no segundo semestre de 2025 (2S25), atingindo 9,50% no final do ano que vem.

As estrategistas apontam o que tem causado essas mudanças: as leituras do índice de inflação não melhoraram, as expectativas de inflação estão acima da meta, o real se desvalorizou nos últimos dias e o Banco Central interveio no mercado de câmbio.

Olhando do ponto de vista macro, Emy e Cinthya avaliam que a elevação de juros pode ser vista como positiva, pois é um bom presságio para a credibilidade do BC (reancorando as expectativas de inflação) e reduzindo a depreciação do real. Também reforça a independência do BC, especialmente agora durante a transição da presidência (de Roberto Campos Neto para Gabriel Galípolo a partir do ano que vem).

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No mercado de ações, o JPMorgan aponta que os resgates permanecem em vigor tanto de fundos de hedge quanto de fundos locais dedicados a ações. As alocações de ações como porcentagem do total de AUM (ativos sob gestão) estão em 8,5%, bem abaixo da média histórica.

“Portanto, qualquer melhora nessa frente no curto prazo é improvável, considerando que as taxas permanecerão altas por muito tempo, reforçando a renda fixa como um ativo atraente”, avaliam Emy e Cinthya.

Para os investidores estrangeiros, a visão do JPMorgan é que o aumento pode prejudicar os fluxos (ainda que tenha havido entrada dos “gringos” que impulsionou o Ibovespa às máximas históricas), considerando que todos os outros mercados emergentes estão flexibilizando ou mantendo as taxas. Já para os resultados das empresas, taxas mais altas nunca são boas, mas, considerando que é uma elevação rápida, talvez o impacto seja mais insignificante.

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Para os otimistas (bullish), as estrategistas apontam taxas mais altas podem remover o prêmio na ponta longa da curva de juros, o que é bom para as ações.

O JPMorgan destacou o comportamento das ações brasileiras durante os períodos de ciclos de aumento apontando que, em todos os ciclos desde 2008, as ações produziram retornos negativos. Já o comportamento do real é menos claro.

O banco, por sua vez, avalia o que poderia ser diferente desta vez. Em primeiro lugar, o JPMorgan ressalta que este é um ciclo muito menor em comparação aos que vieram antes.

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Segundo, espera-se que todo o aumento seja revertido e até mesmo produza flexibilização à frente, o que alguns podem ler como um custo razoável para levar as taxas a um dígito ao mesmo tempo em que aumenta a credibilidade do BC.

A XP também ressalta em seu relatório mensal sobre o mercado que, até agora, a expectativa de taxas mais altas no Brasil não impactou o rali nas ações brasileiras, já que o ciclo projetado deve ser curto (a estimativa da XP é de alta de 150 bps) e os juros de longo prazo caíram recentemente. Mas, daqui adiante, a questão também é como isso pode afetar os fluxos para a Bolsa.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.