BB (BBAS3) em alta, Santander (SANB11) em baixa: analistas revisam recomendações para “bancões” após balanços

Tendências nos próximos trimestres, com atenção para carteira de crédito e inadimplência, guiam avaliação de analistas sobre instituições financeiras

Lara Rizério

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A temporada de resultados dos grandes bancos foi importante para definir ainda mais as preferências do mercado com relação a essas instituições financeiras.

Após a divulgação dos resultados, o Bradesco BBI elevou a recomendação para as ações do Banco do Brasil (BBAS3), enquanto o Itaú BBA reforçou a sua preferência para as ações dentro do setor e elevou o preço-alvo para os ativos. O BBA, por sua vez, logo após a divulgação do balanço do Santander, rebaixou a recomendação das ações.

O Bank of America, por sua vez, destacou perspectiva positiva para o setor em geral, mas cortou os preços-alvos dos quatro maiores bancos listados na Bolsa brasileira, incluindo Bradesco (BBDC4) e Itaú (ITUB4).

O BBI elevou a recomendação para as ações do Banco do Brasil de neutra para outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra), também subindo o preço-alvo para o ativo de R$ 40 para R$ 45, ou potencial de valorização de 25,3% em relação ao fechamento de quarta-feira (18).

Para os analistas Gustavo Schroden, Otavio Tanganelli e Eric Ito, o primeiro trimestre de 2022 apresentou uma perspectiva positiva para o ano, quando o banco deve conseguir manter um baixo custo de risco, devido à sua carteira defensiva que tem menor exposição a pessoas físicas em comparação com seus pares. Já o NII – resultado líquido com intermediação financeira – do banco deve melhorar com taxas de juros mais altas, levando a uma expansão mais rápida dos lucros em 2022 e em 2023.

Além disso, apontam, o Banco do Brasil tem um dos níveis de capital CET-1 (índice de Basileia de melhor qualidade, indicando o colchão de liquidez) mais altos entre os grandes bancos, o que poderia suportar um crescimento mais rápido dos empréstimos à frente.

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O lucro líquido recorrente de 2022 estimado pelo Bradesco BBI de R$ 26,5 bilhões implica em um crescimento de 26% na variação anual, 10% acima do consenso da Bloomberg. Como resultado, apontam, o Banco do Brasil deve entregar um Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) de 17,5% em 2022 e 17,3% em 2023 (acima de 15,8% em 2021). Assim, reduziria a diferença com pares privados para cerca de 2 pontos percentuais, versus aproximadamente 4 pontos de diferença em 2021.

Com um perfil de lucros e ROE claramente melhorando, os analistas veem a avaliação atual do Banco do Brasil como
descontada injustamente, negociando a um múltiplo de 3,8 vezes a relação entre preço e lucro (P/L) estimado para 2022. Isso implica um desconto de 40% em sua média histórica e cerca de 60% de desconto em relação à média de pares privados.

O Itaú BBA, por sua vez, elevou o preço-alvo das ações BBAS3 de R$ 42 para R$ 47 (potencial de valorização de 31%) e reiterou o BB como top pick no setor bancário.

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A estimativa de lucro líquido foi elevada para R$ 27 bilhões, o que implica um crescimento de aproximadamente 30% na base anual e acima do limite superior da faixa de orientação do banco de R$ 23-26 bilhões. Isso decorre de uma melhor qualidade de crédito e NII, bem como um controle rígido das despesas.

“Esperamos que tal crescimento superior, a consistência e um lucro sob patrimônio líquido de 17% para o ano fiscal de 2022 fechem gradualmente o enorme desconto de cerca de 50% que a ação tem sido negociada atualmente em relação a seus pares”, apontam.

Leia também: Inadimplência de bancos sobe e se aproxima de nível pré-pandemia, mas com impacto diferente entre instituições

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Analistas apontam que a NII do Mercado do BB provou ser a mais previsível do setor em virtude da sua maioria de títulos pósfixados (por exemplo, notas governamentais e corporativas). “Desta maneira, estimamos que a NII consolidada do BB deve aumentar ao menos 15% em base anual. Isto é duas vezes mais rápido em relação ao Santander e Bradesco, cujas NII do cliente mais elevada foram compensadas pela fraca NII do mercado”, ressaltam.

Por outro lado, no fim do mês passado, o BBA rebaixou a recomendação da unit do banco Santander SANB11 de “neutra” (desempenho em linha com a média do mercado) para venda, reduzindo o preço-alvo de R$ 39,50 para R$ 31 (valor 6% menor frente o fechamento da véspera).

“Avaliamos que a instituição está entrando em um período de alta no índice de inadimplência, levando a uma retração dos
resultados mais cedo do que o esperado. Embora a história do banco permaneça sólida no longo prazo, preferimos evitá-la por enquanto”, apontaram Pedro Leduc e William Barranjard, analistas do banco.

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Para eles, os resultados brandos do primeiro semestre provavelmente serão os mais fortes do ano. “Estimamos que as provisões para perdas e despesas operacionais devem continuar crescendo, superando o avanço da receita líquida. Considerando esse movimento, reduzimos nossa estimativa de lucro líquido para 2022 em 5%, para R$ 14,7 bilhões, implicando em um ROE de 18,5%, sustentado pelo seu negócio de custo mais baixo e taxas mais altas”, avaliam os analistas.

Já a previsão para o índice de inadimplência e despesas com provisão piorou em 6%, para R$ 20,6 bilhões, com custo do risco de 4%. O índice de inadimplência de varejo do Santander já retornou aos níveis pré-pandêmicos e os indicadores de curto prazo sugerem uma pressão crescente sobre a inadimplência no início do segundo trimestre de 2022, ressaltam. Eles projetam que o Santander termine o ano com um Índice de Inadimplência de 3,6%, acima do índice pré-pandemia de aproximadamente 3%, em vista do mix de produtos de maior risco.

O índice de cobertura total (que mede o colchão de provisões no balaço do banco) de 215% está se aproximando da média histórica de cerca de 200%, e não deve conciliar com a aceleração do índice de inadimplência. “Portanto, esperamos que os resultados piorem durante os próximos trimestres”, avaliam.

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Tendências a serem monitoradas

O Bank of America, por sua vez, reduziu os preços-alvos para as ações de todos grandes bancos após os resultados, ainda que reiterando uma visão positiva no geral para o setor. O target de SANB11 foi de R$ 38 para R$ 37 (upside de 12%); de Itaú, passou de R$ 32 para R$ 30 (upside de 20,5%); Bradesco, de R$ 25 para R$ 23 (upside de 17,6%); Banco do Brasil, de R$ 50 para R$ 46 (upside de 28%). O Santander também é a ação “menos preferida”: a recomendação é neutra para SANB11 e de compra para os demais.

A visão positiva para o setor é sustentada por “sólidas perspectivas de geração de receita, com base em um ambiente de taxas mais altas e avaliações atrativas”. O BofA continua monitorando as tendências de qualidade de ativos diante da inflação pressionada, alto nível de endividamento dos consumidores e tendências macroeconômicas fracas, “embora os altos índices de cobertura de reservas nos deem algum conforto de que os bancos estão preparados para enfrentar a deterioração contínua, de volta aos níveis pré-Covid”.

O UBS BB também seguiu com visão positiva sobre os bancos brasileiros após o fim da temporada de balanços. Com relação aos primeiros três meses do ano, os analistas apontaram que os lucros ficaram em linha com as projeções do mercado, com exceção do Santander, que ficou 3% acima da sua projeção, mas 0,2% abaixo do consenso.

Os analistas destacam preferência pelas ações PN do Bradesco e do Itaú, ambos com recomendação de compra e targets respectivos de R$ 25 (potencial de valorização de 28%) e R$ 30 (upside de 20,5%).

Assim, após os resultados, a preferência pelo BB tem ganho espaço, enquanto o Santander Brasil é visto com mais ressalva entre os analistas, enquanto o Itaú e o Bradesco aparecem dividindo as preferências.

O Credit Suisse, depois do balanço das instituições, reiterou a recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) com preço-alvo de R$ 45 para o BB, um potencial de alta de 25,3% frente o fechamento da véspera, avaliando que a ação continua sendo uma das principais escolhas do banco no setor, em conjunto com o Itaú (cuja ação tem preço-alvo de R$ 32, ou potencial de valorização de 28%). “Vemos o Banco do Brasil com a maior assimetria de valuation dentro do setor no Brasil, especialmente considerando o forte impulso dos lucros”, avaliaram. Já para BBDC4, a recomendação também é outperform, com preço-alvo de R$ 24 (ou upside de 23%) enquanto que, para o Santander Brasil, a visão é neutra, ainda que com target de R$ 42 (ou potencial de valorização de 28,5%).

Os analistas da XP também reiteraram BBAS3 como a top pick do setor após o balanço, com recomendação de compra com preço-alvo de R$ 52 (upside de 45%) enquanto que, para SANB11, a recomendação é de venda, com preço-alvo de R$ 36 (ou potencial de alta de 9%). Já para Itaú e Bradesco, a recomendação é neutra, com preços-alvo respectivos de R$ 28 (upside de 12,5%) e R$ 26 (upside de 33%).

Confira as recomendações para as ações de bancos, segundo compilação feita pela Refinitiv:

Empresa Ticker Recomendações de compra Recomendações neutras Recomendações de venda Preço-alvo médio Upside*
Banco do Brasil BBAS3 13 1 0 R$ 47,78 33%
Bradesco BBDC4 12 3 0 R$ 25,18 29%
Itaú ITUB4 10 5 0 R$ 30,78 24%
Santander SANB11 4 9 2 R$ 40,37 22%

*em relação ao fechamento da última quarta-feira (18)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.