BB (BBAS3): ação cai mais de 4% após balanço; virada na tese ou oportunidade?

Analistas de mercado fazem algumas ponderações sobre a deterioração da qualidade dos resultados, mas em sua maioria ainda veem a ação como uma boa oportunidade de investimento

Lara Rizério

Publicidade

Lucro um pouco acima do esperado e um retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) acima dos 20% guiaram mais um trimestre para o Banco do Brasil (BBAS3), que tem se firmado ao lado do Itaú (ITUB4) como um dos “bancões” com números mais consistentes ao longo das últimas temporadas de balanços.

Porém, as ações fecharam a sessão em queda de 4,37%, a R$ 27,14, nesta quinta-feira (9) pós-balanço, com analistas questionando a qualidade do resultado, enquanto executivos do BB disseram que notaram agravamento no risco da carteira de crédito de pequenas e médias empresas e de grandes companhias, mas ressaltaram que a situação está sob controle. Ainda que o resultado tenha sido mal recebido, analistas seguem em sua maioria vendo a ação com bons olhos.

O lucro líquido recorrente foi de R$ 9,3 bilhões de janeiro ao final de março, enquanto a provisão para devedores duvidosos (PCLD) somou R$ 8,54 bilhões, e a margem financeira bruta 25,7 bilhões. O BB anunciou ainda que aprovou distribuição de dividendos de R$ 940,6 milhões em dividendos e R$ 1,67 bilhão em juros sobre capital próprio complementar, valores estes que serão pagos em 21 de junho, informou a instituição.

O banco apurou inadimplência de operações vencidas há mais de 90 dias de 2,9%, ante 2,92% no final de dezembro, mas acima dos 2,62% do primeiro trimestre de 2023.

O movimento ocorreu em meio a um crescimento da carteira de crédito ampliada de 10,2% no primeiro trimestre ante o desempenho de um ano antes, para R$ 1,14 trilhão, puxada pela alta de 15,5% dos financiamentos ao segmento do agronegócio. O resultado deixou o BB dentro das estimativas para o ano, que preveem alta de 8% a 12% na carteira de crédito e expansão de 7% a 11% na margem financeira bruta. O lucro anualizado, enquanto isso, está na ponta baixa do “guidance” de R$ 37 bilhões a R$ 40 bilhões, enquanto a PCLD se mostra acima da estimativa para 2024 de R$ 27 bilhões a R$ 30 bilhões.

Baixe uma lista de 11 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de crescimento para os próximos meses e anos

Continua depois da publicidade

“Embora os números não tenham sido tão impressionantes quanto os que temos visto nos últimos anos, ainda há destaques notáveis ​​além do robusto ROE: o sólido crescimento da carteira de empréstimos, o NPL [índice de inadimplência] estável em termos trimestrais, as despesas administrativas crescendo abaixo da inflação em termos homólogos e a sólida posição de capital”, avaliam os analistas da XP.

Os pontos fracos, no entanto, foram os spreads de clientes mais baixos, os resultados de tesouraria mais baixos e o custo de crédito pressionado. Para a XP, embora em linha com os seus números, a qualidade dos resultados do primeiro trimestre deteriorou-se ligeiramente. Por outro lado, o Banco do Brasil reafirmou seu guidance, o que vê como um sinal positivo. “Ainda em relação ao guidance, nossa preocupação é apenas com provisões, visto que a taxa do trimestre, se anualizada, ficaria acima do topo da faixa indicativa. Por fim, embora não seja possível afirmar categoricamente que o primeiro trimestre possa representar o início de uma tendência de queda nos resultados do BB, não descartamos uma reação negativa para as ações do BBAS3”, ressaltou a XP em relatório antes da abertura do mercado. A casa reiterou recomendação de compra com preço-alvo de R$ 36,50 por ação.

Para a Genial Investimentos, apesar das eventuais preocupações com uma normalização do desempenho do Banco Patagonia e uma potencial deterioração na inadimplência do agro, o operacional do Banco do Brasil continua resiliente com sólida e consistente geração de lucro. Os múltiplos do banco continuam em patamares bastante atrativos, com um múltiplo de preço sobre lucro (P/L) de apenas 4,1 vezes para 2024 e um P/VP (Preço sobre Valor Patrimonial) de 0,8 vez para o mesmo período, além de um generoso dividend yield de 9,8%. Dessa forma, reiterou recomendação de compra com preço-alvo de R$ 34.

Continua depois da publicidade

Saiba mais:

Confira o calendário de resultados do 1º trimestre de 2024 da Bolsa brasileira

Temporada de balanço do 1º tri ganha força: em quais ações e setores ficar de olho?

Continua depois da publicidade

O Itaú BBA ressaltou que o trimestre não superou projeções devido à volatilidade em “outras” linhas de despesas e a uma taxa de imposto de renda mais alta. “No geral, foi um trimestre bem-vindo. O Banco do Brasil cresce mais rápido que a indústria, de forma lucrativa e sustentável. A orientação para 2024 está no caminho certo e o 1T24 alivia as preocupações do mercado em torno de NIM (taxa anualizada da margem financeira gerencial) e do Agro”, avalia o BBA, que reitera visão positiva, vendo crescimento dos lucros e potencial reavaliação do valuation.

O Bradesco BBI, por sua vez, tem recomendação neutra para a ação do BB, com preço-alvo de R$ 32, ressaltando um forte lucro, mas com preocupação com margem de clientes e qualidade de ativos.

“O forte crescimento anual da margem financeira consolidada continuou a ser impulsionado por um elevado nível de ganhos do Banco Patagonia (apesar da redução trimestral). Além disso, as despesas de provisão permaneceram em patamar elevado, apesar da queda trimestral, crescendo +45,9% ano a ano, e refletindo a deterioração na formação de Non-Performing Loan (NPL) para pessoas físicas e no índice de inadimplência de 90 dias para clientes rurais. Na verdade, observamos que as despesas de provisão têm sido de R$ 34 bilhões (anualizadas), o que está acima do limite máximo do guidance. Em resumo, o Banco do Brasil continuou reportando resultados sólidos e lucratividade, mas continuamos preocupados com sua margem com os clientes e com as tendências de qualidade de seus ativos”, avalia o BBI.

Continua depois da publicidade

O Morgan Stanley reforça o coro ao apontar que o Banco do Brasil apresentou lucro líquido acima das expectativas, mas a qualidade do resultado não foi boa, pois foi impulsionada principalmente pela margem financeira do mercado, não necessariamente um item recorrente. Enquanto isso, os principais itens recorrentes tiveram um desempenho muito pior do que o esperado. “Na verdade, o NII dos clientes, as provisões para perdas com empréstimos e as taxas ficaram aquém das expectativas do mercado por uma ampla margem. Do lado positivo, o crescimento dos empréstimos, a inadimplência e as despesas estão caminhando na direção certa”, apontou, reforçando recomendação equivalente à compra para os ativos e preço-alvo de R$ 45.

(com Reuters)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.