Bancos brasileiros estão bem posicionados para superar caso SVB, mas percepção de risco pode aumentar no setor

XP vê bancos brasileiros bem posicionados, enquanto BBI aponta que, mesmo com impacto limitado, autoridades financeiras podem se tornar mais rígidas

Equipe InfoMoney

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O colapso do SVB – Silicon Valley Bank – abalou os mercados de todo o mundo e principalmente ativos do setor bancário, com investidores preocupados com o contágio para outras instituições. As ações dos principais bancos brasileiros, contudo, ainda que fechando em queda na sessão desta segunda-feira (13), não entraram no “modo pânico”. Os ativos do Bradesco (BBDC4) fecharam em baixa de 1,11% (R$ 13,42), Itaú (ITUB4) caiu 1,20% (R$ 23,78), o Santander Brasil (SANB11) teve baixa de 1,05% (R$ 26,34) e o Banco do Brasil (BBAS3) teve queda ainda menos expressiva, de 0,63% (R$ 38,15).

Na última quarta-feira (8), o banco americano SVB anunciou a venda de US$ 21 bilhões no valor de títulos (uma perda antes dos impostos de cerca de US$ 1,8 bilhão) e estava organizando uma venda de ações de cerca de US$ 2,25 bilhões, o que despertou no mercado preocupações com a solidez do seu balanço, levando a uma queda de 60% em sua cotação no dia seguinte (9), quando a ação deixou de ser negociada. Com isso, na sexta-feira (10), o banco sofreu intervenção.

Já no domingo (12), o Fed divulgou comunicado conjunto com o Tesouro e o FDIC, informando que os depositantes do SVB e do Signature Bank teriam acesso a todo o seu dinheiro a partir desta segunda (13). “Destacamos que o Signature Bank foi fechado no domingo pelos reguladores do estado de Nova York, a fim de evitar a propagação de uma crise bancária”, aponta o Bradesco BBI.

A XP destaca que, embora recentemente tenha havido uma maior deterioração do sentimento em relação ao setor bancário brasileiro (o setor já foi impactado no início deste ano pelos eventos de crédito corporativo), os indicadores do balanço das instituições do país levam os analistas a acreditarem que o setor está em boa posição para superar o overhang (potencial de excesso de ações no mercado, pressionando as ações) trazido pelo caso SVB.

Ao fazerem uma análise com base no observado pelo caso SVB e estimando possíveis impactos, os analistas da casa concluíram que os bancos brasileiros apresentam índices saudáveis de empréstimos por depósitos.

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Com relação às margens com mercado, novos impactos são esperados para 2023, mas não tão grandes quanto no ano anterior, já que não há expectativa de novos aumentos na taxa Selic. Além disso, a existência de LFTs (títulos flutuantes de longo prazo emitidos pelo governo – Letra Financeira do Tesouro) traz um nível adicional de proteção aos balanços dos bancos.

Ao comentarem sobre o Indicador de Liquidez de Curto Prazo (LCR), os analistas destacam que os bancos incumbentes excedem facilmente o requisito mínimo de liquidez (maior que 100%).

O Bradesco BBI aponta que há quatro grandes implicações do evento do SVB para as ações dos bancos brasileiros e da América Latina: (i) afetar o desempenho de ações de bancos, inclusive da América Latina; (ii) afetar a disponibilidade de capital para financiamento; (iii) as autoridades financeiras provavelmente se tornarão mais rígidas, e (iv) pode haver impacto na trajetória dos juros pelo Fed.

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Sobre o primeiro ponto, embora as ações dos bancos ainda possam ser impactadas pela derrocada do SVB, os analistas do BBI acreditam que o anúncio do Fed para proteger os clientes e garantir o acesso aos depósitos possa trazer algum alívio para as ações dos bancos globalmente, aliviando as preocupações sobre um transbordamento maior e/ou uma crise financeira.

“No entanto, os investidores podem continuar a reduzir o risco da carteira, favorecendo as ações de valor versus crescimento neste contexto”, avaliam. Finalmente, veem os bancos brasileiros de grande capitalização experimentando baixas perdas de títulos mantidos até o vencimento como porcentagem do patrimônio líquido (cerca de 3%).

Em relação ao segundo ponto, o evento do SVB deve somar-se aos desafios que as empresas em crescimento provavelmente enfrentarão para obter acesso a capital e financiamento, algo já difícil num contexto de taxas de juro mais elevadas e menos capital disponível. Também deve haver mais escrutínio de investidores em termos de alocação de capital e é provável que eles exijam maiores retornos  – ou seja, os custos de financiamento se elevam.

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“Embora as empresas de nossa cobertura não tenham exposição direta aos depósitos do SVB (limitando quaisquer
grandes impactos de curto prazo em termos de liquidez/solvência), acreditamos que o cenário geral deve se tornar mais
difícil para tais players – notadamente para empresas que estão em estágios iniciais de crescimento que possuem maior risco de execução”, avaliam os analistas.

Com relação ao terceiro ponto, as as autoridades financeiras provavelmente se tornarão mais rígidas. Os analistas veem que, assim como na crise de crédito de 2008, as autoridades (bancos centrais, reguladores, entre outros) provavelmente aumentarão/refinarão os requisitos de capital e incluirão mais controles sobre as políticas de gestão de ativos e passivos/alavancagem, bem como monitorar de perto as exposições às taxas de juros.

Por fim, está o impacto na política monetária. “Por fim, observamos que os problemas podem levar a aumentos menores das taxas do Fed, conforme observamos no CME Fedwatch [ferramenta de monitoramento], com a probabilidade de um aumento de taxa de 50 pontos-base na próxima semana caindo para 0%, de cerca 40% na última sexta-feira, enquanto
um aumento de taxa de 25 pontos-base subiu para 85% (de 60% na sexta-feira passada), e agora há uma expectativa de 15% de nenhuma mudança de taxa (ante 0% na sexta-feira)”, apontam os analistas. Isso, por sinal, levou a um alívio para as ações de crescimento na sessão desta segunda-feira.