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Os resultados dos “bancões” referentes ao segundo trimestre de 2022 foram marcados pelo crescimento das carteiras de crédito, turbinadas pelo consumo. Os números mostraram que cartões de crédito, cheque especial e outras linhas de financiamento ganharam força. Alguns bancos até revisaram as projeções do ano para cima depois desses resultados. Além disso, as instituições financeiras também estão vendo a inadimplência retornar, aos poucos, ao patamar pré-Covid.
Os bancos também mostraram ter diferentes níveis de defesa contra uma eventual deterioração da qualidade de crédito da carteira. Os analistas, contudo, acreditam que suas margens financeiras estão fortes o suficiente para aguentar uma onda de calotes.
“Todos os bancos apresentaram um crescimento muito forte em sua margem com clientes, mais do que compensando o aumento no custo de crédito”, avalia Pedro Gonzaga, sócio da Mantaro Capital.
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Renan Manda, analista-chefe do setor financeiro na XP, diz que além de resiliência para expandir suas carteiras de crédito em um período de inflação e juros altos, os bancos também mostraram que estão bem provisionados. “Os índices de cobertura para provisões dos bancos ainda estão saudáveis, e bem próximos dos níveis pré-pandemia”, afirma.
Ainda que o crescimento tenha sido sustentado por linhas de crédito com risco mais elevado, os bancos tem agilidade para fazer ajustes rápidos. “São créditos de duração muito curta. Se o banco sente que algum nicho de clientes tem propensão a ficar inadimplente, ele consegue ajustar a régua e ver, de forma rápida, o efeito no consolidado”, diz Manda.
Já Marcelo Ornelas, gestor de renda variável da Kínitro Capital, vê a inadimplência como uma luz amarela para os bancos. “É um ponto a se monitorar. Acho que a inadimplência vai continuar e vira uma preocupação maior no ano que vem, já que a economia brasileira não vai crescer tanto quanto este ano e torna o ambiente complicado, com menos crescimento e juros ainda elevados”, diz.
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Banco | Lucro 2T22 | ROE 2T22 | Carteira de crédito | Inadimplência 90+ |
Santander | R$ 4,08 bi | 20,8% | R$ 523,666 bi | 2,9% |
Bradesco | R$ 7,04 bi | 18,1% | R$ 855 bi | 3,5% |
Itaú | R$ 7,68 bi | 20,8% | R$ 1,084 tri | 2,7% |
Banco do Brasil | R$ 7,8 bi | 20,6% | R$ 919,5 bi | 2% |
Santander e Bradesco: mais vulneráveis à inadimplência?
O Santander Brasil (SANB11) foi o primeiro dos grandes bancos a divulgar seus resultados do primeiro trimestre de 2022. Reportou lucro líquido gerencial de R$ 4,084 bilhões no segundo trimestre de 2022 (2T22), 2,1% abaixo do reportado no mesmo período de 2021 e 2% acima do primeiro trimestre de 2022, informou o banco nesta manhã de quinta-feira (28).
Sua carteira de crédito ampliada alcançou a cifra de R$ 523,666 bilhões, com crescimento na pessoa física em relação ao primeiro trimestre (+1,9%), para R$ 216,389 bilhões, e queda em grandes empresas(-6,6%), para R$ 123,802 bilhões.
Na teleconferência dos resultados, os executivos do banco chamaram atenção para a estabilização da inadimplência. Os índices de 15 a 90 dias (4,2%) e acima de 90 dias (2,9%), consolidando Pessoa Física e Jurídica, ficaram estáveis em relação ao primeiro trimestre. “É uma situação que não acontecia desde o segundo trimestre de 2020”, disse Angel Santodomingo, diretor financeiro e de relações com investidores do Santander Brasil.
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Mas algumas casas de análise avaliaram que estabilidade da inadimplência pode ter sido uma distorção provocado por um alto volume de renegociações. As operações de crédito renegociadas do banco somaram R$ 31,6 bilhões em junho de 2022, com aumento de 14,9% no trimestre e de 43,6% em doze meses.
O Bradesco (BBDC4), segundo maior banco privado do país, teve lucro recorrente de R$ 7,04 bilhões no segundo trimestre, alta de 11% na comparação anual. A carteira de crédito expandida atingiu R$ 855 bilhões (+18% versus o 2T21), com destaque para as operações de pessoas físicas, principalmente produtos de cartão de crédito e crédito pessoal/consignado.
O índice de atrasos acima de 90 dias do banco teve alta de 0,3 ponto percentual entre março e junho na base trimestral e de 1 ponto na anual, para 3,5%. A alta teria sido ainda maior, ao redor de 0,6 ponto na comparação trimestral, não fosse uma venda de carteiras de crédito vencidas, estimada em R$ 2 bilhões.
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Octavio de Lazari, CEO do banco, afirmou que a venda de carteira de créditos estressados é normal. “Não tem a ver com taxa de inadimplência, mas de eficiência”, apontou, explicando que o custo para cobrar esses créditos, geralmente de valores pequenos e vencidos há mais de cinco anos, custa muito mais do que vender a carteira.
“O mercado inteiro está vendendo carteira hoje, não faz sentido administrar isso dentro do banco. Vamos continuar vendendo carteiras quando tivermos boas oportunidades em nome da eficiência de custos internos”, disse Lazari.
Itaú e Banco do Brasil: maior apetite por risco
Os analistas destacam a recuperação de market share do Itaú (ITUB4) em linhas de crédito sem garantia, como crediário, cheque especial e crediário. “O banco havia sido conservador no início da pandemia e agora está retomando sua participação normal”, diz Gonzaga.
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O maior banco privado do país registrou lucro líquido recorrente de R$ 7,679 bilhões no segundo trimestre de 2022, cifra 17,4% maior do que o registrado em igual etapa do ano passado.
A carteira de crédito total do banco cresceu 19,3% entre os períodos, atingindo R$ 1,084 trilhão em junho de 2022. A de pessoas físicas aumentou em 33,1%, atingindo R$ 372,4.
O CEO do banco, Milton Maluhy Filho, reconhece que a Selic no atual patamar ajudou na margem financeira, mas também pressiona a inadimplência.
“Você tem virtualmente as receitas crescendo, mas isso gera uma pressão no custo do crédito. Te ajuda de um lado, mas te atrapalha do outro”, disse. “Nossa visão é que a gente prefere rodar com um nível de taxa de juros mais baixa”, complementou o CEO.
O índice de inadimplência do banco foi de 2,7% no segundo trimestre, elevação de 0,4 p.p. na comparação com igual etapa de 2021.
Na teleconferência sobre os resultados do segundo trimestre de 2022, os executivos do Banco do Brasil (BBAS3) reafirmaram um compromisso de elevar as margens financeiras para concorrer com outros players do mercado.
O objetivo é crescer em linhas que tem maior risco, porém margens maiores também. O cartão de crédito, segundo os executivos, é o carro-chefe da mudança de mix do Banco do Brasil. A base de cartões do banco chegou a 13 milhões no segundo trimestre, alta de 21,5% em relação a um ano antes. O faturamento saltou de R$ 46,1 bilhões para R$ 66,2 bilhões entre os períodos. A inadimplência do cartão de crédito, por sua vez, saltou de 4,41% para 8% em um ano.
“Inadimplência no cartão é reflexo de estratégia de buscar linhas mais rentáveis. É natural que ela ocorra em relação a demais produtos, mas estamos avaliando todo o mercado”, disse a VP de gestão de risco, Paula Teixeira.
O BB foi bem sucedido no resultado deste trimestre ao se aproximar dos seus pares, com rentabilidade sobre o patrimônio líquido de 20,6% no trimestre, um salto de 6,1 pontos percentuais sobre um ano antes, com lucro recorrente de R$ 7,8 bilhões, alta de 54,8% ante mesma etapa de 2021.
“Ao todo, o BB reportou de longe o melhor conjunto de resultados dentro de nossa cobertura bancária nesta temporada (…) reiteramos o BB como nossa primeira escolha nos grandes bancos”, destacou relatório do Itaú BBA logo após o balanço.
Já o Bradesco BBI elevou a sua estimativa de lucro líquido recorrente em 11,5% para 2022 e 2023 após o BB “registrar resultados impressionantes no 2T22, apoiado por tendências encorajadoras em todos os setores”. Os analistas projetam lucro líquido recorrente de R$ 29,6 bilhões para 2022 e R$ 31,8 bilhões para 2023, com ROE de 19,5% e 18,9%, respectivamente.
Desta forma, elevaram o preço-alvo para 2022 em 16%, para R$ 52,00, equivalente a um potencial de alta de 24,5% em relação ao fechamento da véspera, e reafirmando recomendação de compra, pois vê as ações do banco negociando com um valuation atraente.
O Banco do Brasil é a principal escolha do Credit Suisse no setor, junto com o Itaú, mas BB é o mais barato na visão do banco suíço. A recomendação é outperform (desempenho acima da média do mercado), com preço-alvo de R$ 46. Para os analistas da instituição, o trimestre do BB foi um divisor de águas, com um desempenho notável: “o balanço é difícil de ignorar mesmo para quem não quer correr o risco das estatais.”
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