Banco do Brasil: lucro veio acima do esperado, a R$ 5 bi, mas resultado foi bom? Analistas divergem

XP destaca o resultado como positivo, com boa qualidade de ganhos, enquanto Credit e Itaú BBA veem números como mistos e têm maior cautela com papel

Lara Rizério

Aplicativo do Banco do Brasil
Aplicativo do Banco do Brasil

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SÃO PAULO – Último dos grandes bancos a divulgar seus resultados do segundo trimestre de 2021, o Banco do Brasil (BB) registrou lucro líquido ajustado de R$ 5,039 bilhões no segundo trimestre deste ano, 52,5% superior aos R$ 3,311 bilhões reportados para igual período de 2020. O resultado ficou 2,6% acima do ganho reportado nos primeiros três meses deste ano, de R$ 4,913 bilhões.

“Ao final do primeiro semestre deste ano, nosso lucro ajustado alcançou cerca de R$ 10 bilhões”, disse o presidente do banco, Fausto Ribeiro, em mensagem transmitida junto ao material de divulgação do balanço. Ante o primeiro semestre do ano passado, o crescimento foi de 48,4%.

A carteira de crédito expandida cresceu 6,1% em um ano e alcançou R$ 766,5 bilhões ao fim de junho. Ante o saldo total verificado em março, a carteira avançou 1,1%.

Na comparação anual, os destaques couberam aos segmentos de pessoa física, com aumento de 10,3%, pequenas e médias empresas, que saltaram 24,8%, e agronegócio, com expansão de 9,7%. “Atingimos a marca histórica de R$ 205,9 bilhões na carteira agro”, comemorou Ribeiro.

Os empréstimos em atraso por mais de 90 dias representaram 1,86% da carteira. Ainda mais baixa que nos dois períodos anteriores, quando a inadimplência beirou os 2%. O retorno sobre o patrimônio líquido ajustado (RSPL) do BB ficou em 14,4% no segundo trimestre deste ano, ligeiramente abaixo dos 14,8% observados no trimestre anterior.

Na sessão desta quinta-feira (5) após o resultado, as ações chegaram a ter um forte ânimo, subindo até 3,63%, também levando em conta o cenário de alta de juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Porém, os papéis amenizaram e, às 13h50 (horário de Brasília), tinham baixa de 0,32%, a R$ 31,31.

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A XP destacou que o lucro foi em linha com as estimativas da casa, de R$ 5,0 bilhões, mas bem acima dos R$ 4,4 bilhões do consenso de mercado (que contava com oito projeções).

O resultado, na avaliação da equipe de análise, também apresentou uma boa qualidade de ganhos, considerando que: i) não houve consumo de cobertura; ii) apresentou melhoria de custos; e iii) taxas recuperadas.

Além disso, o BB também decidiu revisar seu guidance para cima, com o lucro agora possivelmente atingindo o recorde de R$ 20 bilhões em 2021. “Com isso, esperamos uma revisão do lucro por parte do mercado, o que pode beneficiar as ações do banco”, apontam os analistas da XP.

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O lucro veio acima da expectativa também do Itaú BBA, “mas a razão desse desempenho não foi das mais nobres”, segundo os analistas do banco. Isso porque foi reflexo de menores provisões e de uma alíquota de imposto menor.

Ao falar sobre a revisão dos lucros para cima, o BBA ressaltou que a estatal reduziu a indicação para margem com clientes (“spread”), mas também as despesas com provisões – “movimento contrário àquele que normalmente agrada o mercado”. A expectativa para o crescimento da margem financeira bruta foi reduzida de alta entre 2,5% e 6,5% para alta entre 1,0% e 4,0% (provavelmente por maiores despesas de captação), enquanto a expectativa para as provisões foi reduzida de entre R$ 14 bilhões e R$ 17 bilhões para entre R$ 13 bilhões e R$ 15 bilhões.

Também do lado negativo, apontam os analistas, a margem financeira contraiu em 1%, com perda de spread bancário advinda de maiores custos de captação.

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Por outro lado, as despesas operacionais ficaram estáveis na comparação anual, em R$ 7,9 bilhões. O BB também
indicou estabilidade dessa linha no novo guidance, o que é positivo no atual cenário de custos, avaliam os analistas. A carteira segue também com boa qualidade – o índice de inadimplência teve ligeira queda para 1.8%

Levando esses números em conta, o BBA manteve recomendação marketperform (desempenho em linha com a média do mercado), com preço-alvo de R$ 36, ou alta de 14,6% frente o fechamento de quarta-feira.

Já a XP reiterou recomendação de compra com um preço-alvo de R$ 52 (upside de 65%), pois vê o banco negociando barato a 4,5 vezes o preço sobre o lucro, embora os fundamentos pareçam sólidos, avaliam.

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Também destacando o valuation como atrativo e as ações perto das mínimas, o Bank of America também reiterou compra para o ativo, com preço-alvo de R$ 43, ou potencial de valorização de 37%.

A Levante Ideias de Investimentos apontou que a receita de serviços apresentou crescimento de 3,5% em relação ao segundo trimestre de 2020 e de 4,8% comparado ao primeiro trimestre de 2021, atingindo R$ 7,2 bilhões, sendo um dos destaques positivos do resultado. O bom resultado de lucro pode ser atribuído também ao forte crescimento da margem financeira líquida, de 34,2% em relação ao segundo trimestre de 2020.

Na base de comparação trimestral, o Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) caiu 0,65 ponto no trimestre, para 14,4%, ainda assim 0,40 ponto acima da estimativa do Bradesco BBI. A surpresa positiva foi impulsionada por menores provisões e melhores receitas de tarifas bancárias, parcialmente compensadas por menores receitas de intermediação financeira (baixa de 1,9%).

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Já o Credit Suisse apontou que os números foram mistos, mais voltados para o lado negativo. “Por um lado tivemos lucro superando estimativas em função de um custo de risco líquido abaixo do esperado, mas os resultados mostraram uma perda no ‘core’, com o lucro pré-provisão caindo 5% na base trimestral (excluindo impairment do ultimo trimestre) em função de uma margem financeira líquida (NII, na sigla em inglês) mais fraca”, avaliam. Os analistas do Credit seguem neutros em BBAS3, com preço-alvo de R$ 38 por ação, ou alta de 21%.

Os analistas do BBI observam que o crescimento dos ganhos trimestrais do banco foi impulsionado por um aumento na receita de tarifas e outras despesas operacionais menores, compensando uma redução na receita líquida de juros e maiores encargos de provisões.

“Embora reconheçamos que o resultado fraco da receita líquida de juros era amplamente esperado devido ao descasamento entre a reavaliação de ativos e passivos a uma taxa Selic mais alta, acreditamos que a evolução da receita será monitorada de perto pelo mercado”, avaliam.

Por outro lado, eles avaliam que o resultado de intermediação financeira gerencial com clientes foi satisfatória no
trimestre, mostrando poucos sinais de que um melhor mix pudesse ajudar a receita líquida de juros nos próximos trimestres.

“Também observamos que a qualidade dos ativos parece estar sob controle e não deve ser um risco este ano. Por fim, observamos as tendências positivas nas receitas de tarifas, especialmente em bases trimestrais”. Assim, os analistas do BBI mantêm recomendação neutra para o Banco do Brasil. Isso porque, na avaliação deles, não há um catalisador de curto prazo para justificar uma reclassificação de seus múltiplos. O preço-alvo é de R$ 39, ou alta de 24%.

De acordo com compilação da Refinitiv, de 16 casas que cobrem o papel, 10 possuem recomendação de compra, enquanto 6 possuem recomendação neutra. O preço-alvo é de R$ 44,20, ou alta de 41% em relação ao fechamento da véspera.

(com Estadão Conteúdo e Reuters)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.