BB (BBAS3) vislumbra ser líder em rentabilidade e analistas reforçam visão positiva após resultado; ação fecha em alta

Tendências positivas com portfolio defensivo e valuation barato são destacados pelos analistas de mercado

Lara Rizério André Cabette Fábio

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A expectativa de grande parte dos analistas de mercado era de que o Banco do Brasil (BBAS3) fosse o destaque positivo da temporada de resultados entre os bancos de grande capitalização.

Contudo, mais do que isso, o banco estatal conseguiu superar ainda mais as projeções já otimistas do mercado, com muitas casas, como a XP e o Itaú BBA reforçando a preferência para a ação dentro do setor após o balanço divulgado na véspera. Com isso, mesmo em um dia a princípio de aversão ao risco no mercado, as ações abriram em alta, mantendo-se no positivo durante toda a sessão. Os ativos fecharam com alta de 2,54%, a R$ 35,16.

O lucro líquido ajustado foi um recorde de R$ 6,6 bilhões no primeiro trimestre de 2022 (1T22), um desempenho 34,6% superior ao reportado no mesmo período de 2021. Na comparação com o quarto trimestre de 2021 (4T21), o aumento do lucro foi de 11,5%.  O consenso do mercado era de um lucro de R$ 5,34 bilhões, segundo os analistas consultados pela Refinitiv; ou seja, o dado efetivo superou em cerca de 24% as projeções.

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A surpresa positiva pode ser explicada principalmente por menores provisões na comparação com o quarto trimestre, enquanto subiu menos do que os pares na comparação anual. Diferente de rivais privados, o BB elevou a despesa com provisão para perdas esperadas com inadimplência de maneira muito menos intensa: a alta foi de 9,3% no comparativo anual, para R$ 2,758 bilhões.

As provisões citadas foram parcialmente compensadas pela menor margem com clientes, uma vez que os custos de captação continuaram pressionados pela alta da Selic, destaca o Bradesco BBI em relatório de análise.

O retorno sobre o patrimônio líquido ajustado (ROE) do trimestre, por sua vez, subiu 3,1 pontos percentuais, para 17,3%, com tendências positivas.

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Em teleconferência com o mercado sobre os resultados na manhã desta quinta-feira, Ricardo Forni, CFO do BB, afirmou que o BB caminha para uma rentabilidade próxima à dos bancos privados, e que o banco reafirma sua estratégia atual. Olhando para 2023, diz que a ambição é superar a rentabilidade dos bancos privados, mantendo a estratégia, continuando, por exemplo, protagonista no agronegócio, sem medidas de alavancagem.

O BB viu a sua carteira de crédito ampliada crescer 16,4% em 12 meses, para R$ 883,5 bilhões no fim de março, com destaque para empresas e para o já citado agronegócio. A previsão do banco para 2022 é de alta de 8% a 12%.  Enquanto isso, avaliam os analistas do BBI, as tarifas e opex – despesas operacionais – ficaram dentro do esperado.

“Destacamos também que o banco apresentou uma leve deterioração da taxa de inadimplência (NPL), mas bem abaixo de seus pares, refletindo a menor exposição ao crédito pessoa física, que se deteriorou no trimestre, enquanto o NPL corporativo melhorou e o NPL agronegócio permaneceu estável”, avaliam os analistas. O índice de inadimplência acima dos 90 dias foi de 1,89%, ante 1,95% um ano antes e de 1,75% no 4T21.

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Como resultado, o índice de cobertura (que representa a proporção que a provisão para risco de crédito é capaz de cobrir os créditos inadimplentes) diminuiu, mas permaneceu bem acima de seus pares. O índice saiu de 325% em dezembro de 2021 para 297% em março de 2022.

Conforme destaca o Bradesco BBI, os números mostraram tendências positivas, uma vez que refletem a carteira defensiva do banco. “Além disso, como o banco possui um dos maiores índices de cobertura do segmento, conseguiu garantir menores despesas de provisão no trimestre. De fato, embora sua receita tenha permanecido pressionado por taxas de juros mais altas, acreditamos que isso já era amplamente esperado pelo mercado”, apontam os analistas.

Eles destacam ainda que esses resultados anualizados do 1T22 ficaram no topo do guidance/orientação de lucro líquido (R$ 23 bilhões-26 bilhões), enquanto as tarifas ficaram acima da faixa de 4,0-8,0% e o opex está no ponto médio (4,0-8,0%).

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Revisões para cima

Os analistas do Credit Suisse ressaltaram possíveis revisões para cima nas estimativas para a companhia após o resultado.

“Acreditamos que há possibilidade de revisão de alta do consenso sobre os lucros para 2022, de R$ 23,6 bilhões, atualmente no limite inferior do guidance da empresa de R$ 23-26 bilhões e da nossa própria projeção de R$ 24,2 bilhões”, avaliam os analistas.

O Credit reiterou a recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) com preço-alvo de R$ 45, um potencial de alta de 31% frente o fechamento da véspera, avaliando que a ação continua sendo uma das principais escolhas do banco no setor, em conjunto com o Itaú (ITUB4). “Vemos o Banco do Brasil com a maior assimetria de valuation dentro do setor no Brasil, especialmente considerando o forte impulso dos lucros”, avaliam.

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Os analistas da XP ressaltam o lucro de R$ 6,6 bilhões acima do esperado e também apontam que, se conduzido um exercício anualizando os dados do trimestre, é possível perceber que os números “estão rodando acima do guidance”. Assim, eles também enxergam chance de revisão para cima nas expectativas contidas no consenso do mercado.

No trimestre, pondera, a margem financeira atingiu R$ 15,3 bilhões, alta de 5,6% frente ao 1T21 e abaixo da projeção para o ano. “Esta performance pode ser atribuída, principalmente, ao maior custo de captação e ao prazo necessário para o repasse destas maiores taxas de juros à operações de crédito”, apontam os analistas do banco suíço.

O destaque positivo foi o crescimento na carteira de crédito, indicando que a demanda permanece forte e deve permitir a recuperação da Margem Financeira Líquida (NII) através do repasse dos maiores custos de captação para os novos empréstimos.

Na teleconferência com o mercado, Forni, CFO do BB, afirmou que o banco acredita que será capaz de alcançar “a ponta alta do guidance” em 2022.

Os analistas da XP reiteraram BBAS3 como a top pick do setor. A recomendação é de compra com preço-alvo de R$ 52, um potencial de alta de 52% em relação ao fechamento da véspera.

O Itaú BBA também reforçou a preferência pela ação no setor bancário. Os analistas apontam que a margem financeira líquida teve alta, apesar das pressões, a receita de serviços foi modesta, mas ainda em linha com as expectativas, enquanto as despesas totais caíram no trimestre.

“Negociando a múltiplos atrativos, o BB deve apresentar o maior crescimento de lucros e a melhor qualidade de crédito entre os grandes bancos sob nossa cobertura. Por isso, continua sendo a nossa preferência no setor”, apontam os analistas. O BBA possui recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para os ativos BBAS3, com preço-alvo de R$ 44, upside de 28% frente o fechamento da véspera.

O Morgan Stanley reforçou que houve crescimento sólido de crédito e tarifas, menor custo de risco e gestão eficaz de custos. Já com relação ao também visto pelos pares no setor, o índice de inadimplência do banco subiu na base trimestral, mas caiu na comparação anual e permanece bem abaixo dos níveis pré-Covid, destacou o banco.

Durante a teleconferência, Forni, CFO do BB, disse haver sinais de aumento da inadimplência, e que o banco olha os dados do primeiro trimestre com cautela. No segundo trimestre, o banco poderá ter mais convicção para realizar ajustes sobre as provisões para o final do ano.

Nos próximos trimestres, já vislumbra que as provisões devem crescer, com aumento da carteira por conta do acréscimo de risco. Ele disse que, embora o banco tenha uma visão positiva quanto a reservas líquidas, as provisões devem voltar a níveis mais próximos aos anteriores da pandemia.

Após os resultados, os analistas do Morgan reiteraram a recomendação overweight (exposição acima da média do mercado) para a ação BBAS3, com preço-alvo de R$ 57, ou potencial de valorização de 66,2% frente o fechamento da véspera, destacando também uma visão geral otimista sobre os bancos de grande capitalização do Brasil.

Assim, os resultados do BB mais positivos do que o esperado fizeram com que muitos analistas confirmassem as projeções positivas para o banco estatal. Uma das exceções, contudo, é o Bradesco BBI, que segue com recomendação neutra para a ação BBAS3, com preço-alvo de R$ 40, ou potencial de alta de 17% em relação ao último fechamento.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.