Balanços dos bancos: quem ganhou e quem perdeu na quarta temporada de 2024?

Temporada dos bancos foi marcada por números fortes mas preocupação de analistas e investidores com o que esperar para os próximos períodos

Camille Bocanegra

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Apesar de ainda estarmos na metade da temporada de resultados do quarto trimestre de 2024, todos os principais bancos já reportaram seus dados. Em mais de um caso, números em linha com as expectativas e guidance animador ou mais conservador não foram o suficiente para segurar as ações no positivo.

Na ponta positiva, o Santander (SANB11) animou investidores com lucro acima do esperado e boas mensagens para os próximos e desafiadores trimestres. O Itaú (ITUB4), por sua vez, mostrou que altas expectativas podem ser a receita para decepção. Os números fortes do gigante não foram suficientes para impressionar o mercado, que esperava muito. Nem mesmo os altos proventos anunciados, em R$ 18 bilhões somando dividendos, JCP e recompras, levantaram os papéis, que encerraram o dia seguinte ao anunciou com alta de 0,18%, a R$ 34,17, após muita oscilação na sessão.

O Bradesco (BBDC4) apresentou lucro de R$ 5,4 bilhões, com alta de 88% na comparação anual. O valor veio 2% acima do consenso da Bloomberg, mas, ainda assim, as ações caíram 3,93% no dia seguinte à apresentação do balanço. O mesmo aconteceu com o Banco do Brasil (BBAS3). Com lucro em linha e dividendos robustos, os papéis do Banco do Brasil caíram 2,98% na quinta-feira, 20, logo após a apresentação dos números também.

Banco do Brasil

Para Pedro Gonzaga, sócio da Mantaro Capital, o balanço trouxe alguns pontos de preocupação e não foi visto como positivo. Em sua visão, o tema do resultado foi a deterioração contínua e, agora, mais acentuada. Como esperado por analistas, a carteira prorrogada de agro seguiu decepcionando e atingiu patamares inéditos.

A XP seguiu a linha de preocupação com a qualidade de ativos, mesmo destacando que o lucro chegou amplamente em linha e que o ROE (Retorno sobre o Patrimônio) foi mantido em 21%. Assim como destacou Gonzaga, a análise da corretora reforçou o aumento de PDD (Provação para Devedores Duvidosos) devido ao setor Agro. As más notícias não pararam por aí. O banco também reduziu o guidance de crescimento da carteira de crédito e alterou a previsão para o payout (pagamento de dividendo em relação ao lucro). A partir de agora, ao contrário da orientação anterior (que previa distribuição de 45%), o payout ficará no intervalo entre 40-45%.

Em coletiva de imprensa, executivos do BB minimizaram preocupações e afirmaram que a o ajuste, tanto do guidance quanto da expectativa de payout, tem mais a ver com adequação necessária por um contexto macroeconômico desafiador do que reduções reais. A orientação geral segue sendo a busca pela faixa superior, segundo a mensagem passada.

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Para o Agro, as declarações foram otimistas, apostando na super safra prevista, assim como a safrinha, para dirimir dificuldades financeiras que o agronegócio tem apresentado. Para analistas, no entanto, mesmo com os bons resultados esperados no campo, não será suficiente para consertar questões que parecem ser mais profundas e preocupantes no banco.

Santander

Já o Santander (SANB11) trouxe dinâmica oposta, com salto no lucro e, mais importante, números demonstrando preparo para os desafios macro. O banco inaugurou a temporada de resultados do quarto trimestre de 2024, com alta de 74,9% no lucro. Com isso, as ações subiram 6,20%, a R$ 27,07.

“O Santander Brasil apresentou resultados sólidos novamente, em sua maior parte em linha com nossos números, mas com EPS (lucro por ação) acima”, destaca a equipe de análise da XP em relatório.

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Na visão de analistas da corretora, mesmo com deterioração do cenário macroeconômico e elevação de taxas de juros, os resultados apresentados foram consistentes e qualidade de ativos segue positiva. Além disso, um dos destaques positivos foi o índice de inadimplência (NPL) acima de 90 dias, que permaneceu em 3,2%, considerado um nível confortável.

Itaú

A leitura positiva do balanço do Santander deixou a barra alta demais e, embora os resultados do Itaú tenham correspondido, não surpreenderam. Os números vieram com alta de 15,8% na comparação anual no lucro. Um dos destaques para analista foi o guidance para 2025 mais conservador que o esperado, em especial no crescimento da carteira de crédito.

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A expansão estimada ficou entre 4,5% e 8,5%, contra os 15,5% observados no ano passado. Para os analistas da XP, Bernardo Guttmann, Matheus Guimarães e Rafael Nobre, o guidance mais conservador é visto de forma positiva. O crescimento da carteira, ainda que abaixo dos níveis de 2024, deve refletir também captura de spreads maiores, refletidos na maior expansão de NII (receita líquida de juros).

Bradesco

Para o Bradesco, a quarta temporada de 2024 ainda não será lembrada com carinho. Mesmo caminhando para recuperação, a velocidade da retomada põe o banco à prova para analistas. Os números apresentados vieram em linha com as expectativas e um guidance conservador também não foi surpresa para analistas. O mercado, no entanto, recebeu mal o balanço.

Assim como Banco do Brasil, a preocupação tem menos a ver com as temporadas passadas e mais com as expectativas para os próximos períodos. Com cenário macroeconômico mais apertado e juros mais elevados, as expectativas eram de melhor panorama.

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“O Bradesco segue avançando em seu plano de reestruturação após o primeiro ano de gestão sob o novo CEO. O banco transmitiu uma mensagem de cautela, priorizando o crescimento rentável, mas em um ritmo mais lento”, aponta a equipe de análise da XP em relatório.

Ao contrário do BB, no entanto, a carteira de crédito trouxe boas surpresas para analistas. A carteira voltada para grandes empresas veio mais forte, assim como o avanço da carteira voltada ao agro.