B3 (B3SA3): discussões sobre concorrência ressurgem após operação feita pelo Mubadala; ações caem

Com recursos do fundo de Abu Dhabi, ATG poderia retomar plano de concorrer com a Bolsa brasileira, mas analistas do Goldman ponderaram impacto

Mitchel Diniz

B3  Bovespa  Bolsa de Valores de São Paulo  (Germano Lüders/InfoMoney)
B3 Bovespa Bolsa de Valores de São Paulo (Germano Lüders/InfoMoney)

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A Americas Trading Group (ATG), empresa brasileira de tecnologia, recebeu, nesta semana, um aporte da Mubadala Capital, responsável por fazer a gestão de ativos do fundo soberano de Abu Dhabi. O valor dos recursos não foi divulgado. Mas, de acordo com o comunicado do Mubadala, a injeção de capital têm como objetivo acelerar o crescimento da plataforma da ATG e fomentar o desenvolvimento de novos tecnologias.

A ATG é dona de uma plataforma de negociação eletrônica de ativos financeiros e faz o trading de ações listadas em Bolsas da América Latina. Com o aporte do Mubadala, a empresa poderá retomar o propósito de quando foi criada: lançar uma nova Bolsa no Brasil e, dessa forma, se tornar um competidora da B3 (B3SA3).

Com isso, a ação B3SA3 fechou em baixa de 1,32%, a R$ 11,95, ainda que analistas ponderem os efeitos da concorrência para a operadora da Bolsa.

“Ainda que competição seja um risco conhecido para a B3, a possibilidade de um competidor local tem sido pouco falada desde o começo de 2020”, diz relatório do Goldman Sachs. Os analistas do banco explicam que a Bolsa brasileira já se mostrou ciente de que novos competidores apareceriam em algum momento.

“Esse cenário não é necessariamente negativo para a companhia, já que poderia criar novas oportunidades em trading, pós-trading, dados e arbitragem”, afirmam os analistas do Goldman.

Na visão do banco, o principal risco competitivo estaria na parte de negociação de ações, mas ainda assim com impacto limitado a 5% da receita da B3. “Mas notamos que a criação de uma nova Bolsa poderia, potencialmente, aumentar o volume de negócios do mercado como um todo, expandindo o mercado”.

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Por outro lado, o Goldman também acredita que novos competidores poderiam comprometer o negócio de clearing – que faz a compensação e liquidação de ordens eletrônicas – responsável por 35% das receitas da B3.

“Novos competidores poderiam fazer esse mercado menos eficiente e demandariam investimento significativo na criação de outra câmara”, assinala o Goldman.

O banco lembra que, em 2021, o Mubadala também fez um aporte na Cerc, empresa de recebíveis de cartão de crédito que pediu ao Banco Central um registro para atuar como central depositária e clearing. 

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“Notamos que a B3 tem esperado novos competidores ajustando preços, taxas de custódio e diversificando suas receitas por meio de fusões e aquisições”, diz o Goldman.

O banco tem avaliação neutra sobre o papel B3SA3 e preço-alvo de R$ 12,80. “De qualquer forma, notícias de qualquer competição em potencial para a empresa pode adicionar riscos ao preço da ação no curto prazo”, avalia, o que pressiona os papéis na sessão.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados