Azul (AZUL4) surpreende com Ebitda acima e ação fecha com salto de quase 10%, mas analistas se dividem sobre aérea

Dados operacionais animaram com queda nos custos, mas posição financeira é um ponto de preocupação em comum entre os analistas

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Enquanto os números da Gol (GOLL4) reportados na terça-feira (9) não animaram muito os investidores naquela sessão, o contrário aconteceu com a Azul (AZUL4). Após a divulgação dos resultados do terceiro trimestre na manhã desta quinta-feira (11), os papéis chegam a disparar dois dígitos, tendo máxima de 12,63%, a R$ 29,78. Os papéis fecharam com alta de 9,83%, a R$ 29,04.

A princípio, os números poderiam parecer negativos, uma vez que a aérea reportou uma alta de 82,4% do prejuízo líquido, totalizando perdas de R$ 2,196 bilhões entre julho e setembro de 2021, desempenho, segundo a empresa, afetado pelo aumento das despesas financeiras e variações monetárias e cambiais.

O lucro antes do juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês), por sua vez, somou R$ 485,6 milhões no período, enquanto a receita líquida totalizou R$ 2,71 bilhões, alta de 237,4% em relação ao mesmo período do ano anterior, dados esses que animaram os investidores.

O Itaú BBA destacou que a Azul reportou resultados sólidos no período, com lucro antes de juros e impostos (Ebit) e Ebitda voltando ao território positivo ajudados por uma queda de custos.

O banco destaca que a receita por assento quilômetro (RASK, na sigla em inglês) superou os níveis de 2019 pela primeira vez desde o início da pandemia de Covid-19, o custo por assento quilômetro (CASK, na sigla em inglês) e o CASK ex-combustível diminuíram, apesar das pressões dos preços dos combustíveis e de um cenário cambial desfavorável.

“O custo por assento caiu 13,5% na base trimestral e 19,6% desconsiderando combustíveis, com maior diluição de custos fixos, indicando que a alavancagem operacional vai melhorar com a demanda”, apontaram os analistas.

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Por outro lado, as perdas financeiras não caixa de R$ 1,5 bilhão em meio ao real desvalorizado impactaram a última linha do balanço, levando a uma elevação do prejuízo. A dívida líquida teve elevação expressiva em decorrência disso.

Os analistas reforçam que estão acompanhando atentamente a posição financeira da Azul, levando em conta os R$ 3,5 bilhões em leasing a vencer em 2022 e R$ 3,9 bilhões em 2023, assim como as amortizações de dívidas não relacionadas a aeronaves.

O BBA possui recomendação marketperform (desempenho em linha com a média do mercado) para a Azul, com preço-alvo para 2021 de R$ 41 para os ativos negociados na B3 e de US$ 23,80 para os papéis negociados nos EUA.

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“A Azul tem uma frota diversificada e de tamanho certo, que historicamente contribuiu para que a Azul tivesse um CASK maior do que seus pares; também tem desempenhado um papel fundamental em ajudar a empresa a resistir à pandemia e restaurar sua lucratividade. A empresa também tem uma posição única na maioria das rotas que opera e uma ampla rede por meio de seus hubs. Nós acreditamos que esses atributos não apenas desempenharam um papel crucial no fortalecimento da empresa contra o cenário atual de incertezas mas continuarão sendo a principal vantagem competitiva da Azul em um ambiente normalizado”, avaliam os analistas.

Eles ressaltam verem uma significativa recuperação da margem Ebitda (Ebitda sobre receita líquida), para 27,8% em 2022, com as margens se aproximando dos níveis pré-pandêmicos em 2023. Além disso, também acreditam que a contração do segmento corporativo mais lucrativo poderia ser parcialmente compensada pelo aumento do tráfego de lazer, ganhos de eficiência, efeitos de transformação da frota e dinâmica competitiva positiva (redução da capacidade da indústria, racionalidade tarifária e menor sobreposição de rede), especialmente devido ao potencial para fusões e aquisições.

Porém, avaliam que, apesar das muitas medidas implementadas pela Azul para proteger sua liquidez e sua capacidade de resistir à crise até agora, “o cenário ainda incerto pela frente juntamente com as amortizações programadas da empresa nos levam a consideram que a sua posição financeira deve continuar a ser monitorada. Não descartamos a possibilidade de
empresa acessando o mercado de capitais em um futuro próximo, potencialmente, entre outras razões, para apoiar quaisquer fusões ou aquisições que estão sendo consideradas”, avalia. Cabe ressaltar que tem ganhado destaque no noticiário o interesse da Azul em comprar a Latam Airlines, em recuperação judicial.

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O Bradesco BBI, por sua vez, está mais otimista com o papel, mantendo recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para os ativos, ainda que reduzindo o preço-alvo de R$ 70 para R$ 60, um potencial de valorização de 127% em relação ao fechamento da véspera. A redução do target, por sua vez, ocorre tanto por conta do cenário macro mais complexo, alta do petróleo e aumento da dívida.

Os analistas do banco também destacaram o Ebitda acima do esperado para a companhia e que o preço das passagens aéreas ficou apenas 2% abaixo do nível pré-pandemia do terceiro trimestre de 2019, enquanto houve um aumento da receita de cargas, linha do balanço que é vista com otimismo pela companhia.

Eles ressaltam que os custos mais elevados do combustível de aviação e as despesas com pessoal foram compensados ​​por uma maior diluição de custos, com a empresa ampliando sua capacidade trimestralmente e usando aeronaves com menor consumo de combustível. Por outro lado, taxas de juros mais altas e a depreciação cambial atingiu duramente os resultados financeiros.

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Além disso, avaliam, a Azul foi capaz de manter sua posição de liquidez estável no trimestre, apesar da desvalorização do real de 8,7% que aumentou a dívida líquida para R$ 20,7 bilhões, de R$ 18,5 bilhões no segundo trimestre de 2021.

“Na nossa visão, este resultado confirma que a Azul tem apenas uma sobreposição limitada nas rotas com a Latam
Airlines Group, que é a companhia aérea mais agressiva para aumento de capacidade no Brasil”, apontam. Neste sentido, ressaltam que, apesar da alavancagem financeira, a Azul deve seguir em frente com a sua proposta de aquisição de todo o
Grupo Latam Airlines ou apenas o segmento do Brasil, com expectativa de divulgação da proposta em dezembro.

O Morgan Stanley, por sua vez, manteve recomendação underweight (exposição abaixo da média do mercado) para os ADRs (na prática, ações da empresa brasileira negociados na Bolsa americana) com preço-alvo de US$ 17, ainda um potencial de alta de 17% em relação ao fechamento da véspera, também ressaltando a questão da dívida.

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Os analistas do banco destacaram que o mercado poderia reagir bem (como reagiu) ao bom ritmo operacional.

“No entanto, os resultados também reforçaram o cenário altamente desafiador que a companhia aérea enfrenta do ponto de vista do fluxo de caixa e do passivo com o real mais fraco. Junto com o aumento de R$ 1,9 bilhão na dívida líquida, também sinalizamos o aumento significativo nas amortizações anuais de arrendamento de aeronaves, bem como o aumento no cronograma anual de pagamentos de passivos financeiros”, lembram os analistas.

Sobre os resultados operacionais em si, “reconhecemos que o valor de R$ 486 milhões de Ebitda sugere que a companhia aérea poderia entregar cerca de R$ 700 milhões de Ebitda no quarto trimestre de 2021 (o que a gestão indicou que era alcançável há um tempo), mas ainda vemos a meta da empresa de mais R$ 4 bilhões para 2022 como um grande desafio, dados os níveis mais elevados do preço do petróleo hoje e dado que depende de uma grande expansão da capacidade e das margens Ebitda no próximo ano”. Isso em um contexto em que a recuperação das viagens internacionais deve ser limitada por um real fraco e outros fatores.

Apesar da forte alta dos ativos na sessão, a visão dos analistas sobre o ativo segue dividida. De acordo com compilação feita pela Refinitiv, de 12 casas que cobrem o papel AZUL4, seis têm recomendação de compra, três têm recomendação neutra e três de venda. O preço-alvo médio é de R$ 44,67, ou alta de 69% em relação ao fechamento da véspera.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.