Azul: ação cai 12% com prejuízo e revisões; analistas divergem sobre se vale comprar

JPMorgan tem recomendação neutra para o ativo, enquanto Goldman segue com compra

Lara Rizério

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Os números no segundo trimestre de 2024 (2T24) da aérea Azul (AZUL4) não foram bem recebidos pelos investidores, assim como as suas projeções para o restante do ano. A companhia divulgou seu resultado antes da abertura do mercado nesta segunda-feira (12) e as ações fecharam com queda de 11,95% (R$ 7,00) na sessão.

A aérea encerrou o segundo trimestre com prejuízo líquido ajustado de R$ 744,4 milhões, alta de 31,3% sobre a perda de um ano antes, com queda no resultado operacional e forte impacto de variação cambial. A empresa ainda cortou projeções (guidance) de desempenho para este ano, revisando para baixo a perspectiva de crescimento de oferta e de Ebitda e ampliando a projeção de alavancagem.

A companhia agora espera que a sua oferta cresça 7% este ano ante expansão de 11% estimada anteriormente. A previsão para o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) foi revista de cerca de R$ 6,5 bilhões para acima de R$ 6 bilhões. A estimativa para a alavancagem cresceu de cerca de 3 vezes para aproximadamente 4,2 vezes.

Segundo o balanço da Azul, o impacto negativo de variação cambial no trimestre foi de cerca de R$ 3,1 bilhões ante um desempenho positivo de R$ 1 bilhão no mesmo período de 2023.

Analistas destacam a revisão do guidance como um fator negativo, assim como balanço com desempenho abaixo do esperado, tendo como destaque o Ebitda ajustado de R$ 1,05 bilhão, recuo anual de 9%, 6% abaixo do consenso da Bloomberg, 1% abaixo do esperado pelo JPMorgan e 18% aquém do projetado pelo Goldman Sachs. Com isso, a margem Ebitda ficou em 25,2%, 1,9 ponto porcentual menor do que no segundo trimestre de 2023.

“Observamos que o resultado abaixo do esperado foi devido à receita unitária menor do que a esperada, que foi apenas parcialmente compensada por custos unitários mais baixos”, avalia o Goldman Sachs.

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As receitas unitárias (RASK) diminuíram cerca de 5% na comparação anual (e por volta de 10% trimestre a trimestre, significativamente pior do que a sazonalidade implícita de cerca de 3% frente o 1T). Enquanto isso, os custos unitários (CASK) caíram cerca de 2% na base anual, com o CASK de combustível em queda de 1% ano a ano e o CASK excluindo combustível caindo em cerca de 2% na mesma base comparativa. Para o JPMorgan, a queda de custos foi menor do que a esperada.

Ao olhar para a queda da margem Ebitda, o Goldman Sachs vê uma margem anualizada de aproximadamente 29%. “Se aplicássemos apenas a sazonalidade típica nas margens para o 2S24 [segundo semestre de 2024], veríamos margens anuais de cerca de 29% [como referência, modela uma margem Ebitda de cerca de 32% para 2024, com os resultados do 2T24 implicando um risco de queda para nossas estimativas]”, aponta o banco.

O JPMorgan reforça que a empresa revisou seu guidance para o ano inteiro para baixo, atualmente esperando um Ebitda acima de R$ 6,0 bilhões (abaixo dos R$6,5 bilhões anteriores e versus projeção do JPMorgan em R$ 6,1 bilhões) devido a uma redução na expansão do ASK (número de assentos disponíveis multiplicado pelos quilômetros voados) para 7% na comparação anual (de +11%, e versus a estimativa do JPMorgan em +9% na comparação anual).

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Por outro lado, a companhia afirmou no comunicado que as tendências de reservas no 3T têm sido encorajadoras, com uma aceleração na demanda corporativa, levando ao aumento das tarifas. “Espera-se que essa tendência continue ao longo do 2S24”, avalia o JPMorgan, que também ressalta a alavancagem, que passou de 3,7 vezes no 1T24 para 4,5 vezes no 2T24 (dívida líquida sobre o Ebitda) devido às variações cambiais, enquanto a liquidez imediata encerrou o trimestre em R$ 2,5 bilhões (13% das receitas dos últimos 12 meses), abaixo dos R$ 2,7 bilhões no 1T (14% das receitas dos últimos 12 meses).

A alavancagem agora deve terminar 2024 em 4,2 vezes (incluindo caixa, equivalentes de caixa, investimentos e recebíveis), comparado com os 3,0 vezes anteriores e em linha com as estimativas do JPMorgan.

Para o Itaú BBA, as projeções revisadas não são uma surpresa total, dado: i) aumento dos custos de combustível, ii) depreciação do real; iii) operações interrompidas no aeroporto de Porto Alegre; e iv) problemas contínuos na cadeia de suprimentos impactando as entregas de aeronaves de nova geração (e mais eficientes). “Dito isso, a Azul conseguiu entregar um CASK 2% menor na base anual no trimestre, refletindo um controle de custos eficaz. Por fim, acreditamos que o setor deve reverter a tendência de queda observada nos rendimentos no 2T24 (os da Azul caíram 6% na base anual no 2T24) durante o 2S24”, avaliam os analistas.

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Recomendações

Apesar das sinalizações pouco positivas, o Goldman manteve recomendação de compra ou equivalente para a Azul, enquanto o JPMorgan tem recomendação neutra para os ativos.

O Goldman Sachs destaca acreditar que a empresa deve manter o poder de precificação à medida que toda a indústria permanece racional e focada na reconstrução da lucratividade, o que deve permitir o repasse de custos para as tarifas e abrir espaço para a expansão da margem.

“No entanto, observamos que a combinação de resultados fracos no 2T e a revisão para baixo na orientação pode levar a uma reação negativa no preço das ações hoje”, afirmou em relatório antes da abertura do mercado, o que de fato aconteceu.

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Já o JPMorgan tem recomendação neutra para as ações, ressaltando que o papel negocia atualmente a uma relação de EV (enterprise value, valor de mercado de uma empresa somado a sua dívida líquida, descontando o valor de caixa)/Ebitda de 4,9 vezes o esperado para 2024, em comparação com os pares (ex-Gol GOLL4) de 4 vezes.

O Itaú BBA e o Bradesco BBI possuem recomendação equivalente à compra para os ativos. O BBI tem novo preço-alvo para AZUL4, passando de R$ 29 em 2024 para R$ 20 em 2025. De acordo com compilação da LSEG com analistas que cobrem a ação, 4 possuem compra, 5 possuem manutenção e 1 de venda.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.