Aversão ao risco domina, mas há oportunidades em ações de varejo e consumo?

Estrategistas fizeram pesquisas com investidores sobre posições em ações do segmento; Itaú BBA aponta que Smart Fit e Mercado Livre lideram as preferências dos investidores

Felipe Moreira

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Depois de organizar um roadshow no Rio de Janeiro com 26 investidores institucionais, o Itaú BBA observou que os investidores estão adotando uma postura conservadora e defensiva em relação ao investimento no setor de consumo e varejo, apontando que valuations baratos não são mais suficientes para tornarem os ativos atrativos.

Segundo o BBA, os resgates consistentes são uma grande preocupação e estão forçando os investidores a adotarem uma abordagem mais orientada para o curto prazo, tentando detectar pontos de inflexão operacionais, em vez de comprar ações baratas para o longo prazo. Nos segmentos, investidores entendem que o momento é bom, mas não forte o suficiente para desencadear rotações de portfólio em direção ao setor. Em resumo, a exposição ao setor continua historicamente baixa, e Smart Fit (SMFT3) parece ser uma escolha consensual entre a maioria dos investidores entrevistados.

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Apesar da maioria dos papéis do varejo negociarem a múltiplos atraentes, investidores não veem um gatilho claro para o setor. Com isso, a exposição ao setor é bastante baixa e investidores não parecem ter pressa de entrar no varejo.

O banco disse ter ouvido em várias reuniões: “Por que devo comprar algo no setor de varejo a 10 vezes lucros de 2025 se a Localiza (RENT3) está sendo negociada no mesmo nível com menos ameaças de longo prazo?”

Smart Fit é a queridinha no setor

De acordo com o BBA, a Smart Fit é a mais procurada entre os investidores no Rio de Janeiro. “As sólidas perspectivas de crescimento da empresa, bem como o ambiente competitivo fraco e resultados mais previsíveis (considerando a captação de membros), são os pontos positivos dessa história de investimento”.

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Em termos de avaliação, os investidores estão dispostos a pagar um prêmio pela empresa (em relação à média do varejo), que também oferece boa execução. O BBA disse gostar do papel, mas alerta que a posição técnica concorrida pode levar a reações desproporcionais de preços em possíveis falhas de lucros (se for o caso) à frente.

Mercado Livre (MELI34)

O Mercado Livre, por sua vez, continua sendo uma das principais escolhas, mas 2024 não parece tão bom quanto 2023. A empresa continua sendo um tópico chave de discussão nas interações do BBA com investidores, e os investidores locais ainda têm uma exposição significativa ao nome.

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A equipe de research destaca que, pela primeira vez em vários trimestres, ouviu investidores historicamente construtivos mencionarem que reduziram a exposição ao nome, devido a base de comparações difíceis para vendas e lucratividade nos próximos trimestres; ventos contrários macroeconômicos na Argentina; um potencial aumento nos níveis de provisão relacionados à reaceleração das concessões de crédito e fluxo de notícias sugerindo um aperto do ambiente competitivo no Brasil. O Itaú BBA disse gostar da história e de seus fundamentos de longo prazo, mas reconhece que pode haver melhores pontos de entrada para a ação ao longo do ano.

Vestuário

No segmento de vestuário, a ação da Lojas Renner (LREN3) tem risco de queda limitado e as expectativas de vendas mais fracas no 2T24 já foram precificadas. Para o segundo semestre de 2024, há potencial de alta devido à base de comparação fácil e diluição das despesas gerais e administrativas.

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Para Arezzo (ARZZ3), alternativamente, apenas alguns investidores concordaram que os níveis de avaliação (10 vezes o P/L para 2025) e o momento de vendas apresentando melhora (e o ambiente de sinergias com a combinação de acordo com o grupo Soma SOMA3) são suficientes para justificar uma abordagem construtiva neste momento. O BBA tem a Arezzo como sua principal escolha no espaço de varejo em 2024.

Varejo alimentar

Já para o varejo alimentar, alguns investidores estão posicionados, mas a posição ainda parece fraca. Em geral, o tema comum foi o ambiente competitivo em deterioração e potenciais fusões e aquisições.

Segundo o BBA, os investidores expressaram preocupação com tendências de vendas mais fracas (dada a desaceleração da inflação dos alimentos) e uma potencial deterioração nas tendências de capital de giro na indústria, à medida que os players implementam outras ferramentas de pagamento nas lojas (por exemplo, pagamentos com cartão de crédito em três parcelas sem juros). O BBA ainda destaca que esta é a visão menos otimista que viu dos investidores em muito tempo sobre as ações.

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Pesquisa com investidores

Na semana anterior, o BTG Pactual publicou pesquisa feita com 80 gestores (sendo 80% locais) sobre posicionamento em consumo e varejo em meio ao cenário de aversão ao risco vivido atualmente. A maioria dos investidores (49%) está pouco exposta, chamando a atenção o fato de 28% estarem mais alocado versus índice no setor (muito provavelmente devido à exposição ao Mercado Livre). Apesar do baixo posicionamento, 46% dos entrevistados têm a intenção de aumentar a exposição no setor como próximo passo ou manter-se neutros (51%), com apenas dois entrevistados com a intenção de reduzir a exposição a nomes do consumo e varejo.

As três opções preferidas (compradas) foram Mercado Livre (17%), seguido por Vivara (VIVA3; 10%) e Lojas Renner (com 10%, que também é um dos shorts preferidos, destacando a natureza controversa do call), Arezzo e Smartfit (9%) e Grupo SBF (SBFG3; 7%). As principais posições vendidas, por sua vez, estão em Renner (15%), Petz (PETZ3; (15%), Carrefour (CRFB3;12%) e Natura (NTCO3;10%).

Para os gestores, os principais empecilhos para o setor do consumo e varejo são o ciclo de flexibilização mais lento (40%) e a falta de revisões positivas das estimativas no curto prazo (28%). Após a recente queda, apenas 3% dos entrevistados mencionaram os múltiplos como um obstáculo. Ao serem perguntados sobre o nome defensivo para se expor ao setor, a RD, ex-Raia Drogasil (RADL3) foi consensualmente considerada como a opção mais resiliente (35% dos entrevistados), seguida por Grupo Mateus (GMAT3; mencionado por 17%).