Até onde vai o ciclo de alta dos EUA e quais os riscos para o mercado brasileiro?

Os antifrágeis Luiz Fernando Roxo e Richard Rytenband contam se 10 anos de otimismo é demais ou Wall Street tem mais fôlego

Weruska Goeking

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SÃO PAULO – As bolsas em Wall Street chegaram ao fundo do poço em março de 2009 e desde então vêm num ciclo de alta e colecionando recordes. O índice Dow Jones cravou 15 máximas históricas somente neste ano e alcançou o topo em 3 de outubro, aos 26.828,39 pontos.

Para parte do mercado, 10 anos de otimismo é mais do que se podia esperar quando o mundo começou a retomar o crescimento após a crise de 2008 e já não há mais espaço para surfar ganhos em Wall Street o que seria, em tese, corroborado pela queda recente das bolsas americanas.

No entanto, o gestor de investimentos Luiz Fernando Roxo, da ZenEconomics, e o economista Richard Rytenband, CEO da Convex Research, acreditam que tem mais um “chorinho” nessa escalada de valorização.

“Não é um começo de um bear [ciclo de baixa], é o movimento final de um bull [ciclo de alta] de curto prazo. De qualquer maneira, é um final de ciclo com mais um ano, um ano e meio de alta”, projeta Roxo.

“O mercado de alta vai acabar. Vai, mas ainda não”, disse Rytenband em episódio do programa Os Antifrágeis, para quem os investidores não devem deixar impressionar pelo noticiário eventualmente desanimador. “Tem que distinguir sinais de ruídos. Sinal é tudo aquilo que importa e ruído é o que te distrai, te levando a tomar decisões não muito inteligentes”, explica. 

Com base nas ideias do pensador Nassim Taleb (inspirador da série Os Antifrágeis), do matemático Benoît Mandelbrot (criador da geometria fractal) e do gestor e consultor de investimentos Jarbas Gambogi, a dupla elencou um método de análise de quatro “camadas” do mercado, com o objetivo de identificar fragilidades de um sistema financeiro, como o norte-americano.

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Cada camada é válida para um horizonte de tempo e, quando se alinham, dão sinais mais fortes para a direção de alta ou de baixa. A primeira grande camada é a análise fundamentalista, que revela se as empresas listadas em bolsa estão caras ou baratas. Para se ter ideia da fragilidade do sistema, porém, é preciso levar em conta todas as quatro camadas. Atualmente, as empresas estão caras no mercado norte-americano, com preços acima dos grandes picos históricos, explica Rytenband. 

A segunda camada é de médio prazo e formada pelos indicadores econômico antecedentes, que conseguem antecipar movimentos em seis meses ou mais, como o PMI industrial. Rytenband explica que há algumas “rachaduras” na economia norte-americana, mas os indicadores antecedentes estão “intactos” ainda. 

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A terceira camada é do sentimento econômico, que sinaliza se o mercado está eufórico – todo mundo comprado e vulnerável a quedas – ou pessimista – propenso a altas. Um desses indicadores para medir o “pulso” do mercado é a razão entre o volume das opções de venda e de compra. Rytenband explica que esse dado começa a sair do neutro para um viés pessimista atualmente. No curtíssimo prazo, a quarta camada é a ação dos preços, que mostra pouca alteração até então. 

A conclusão de Rytenband é que o mercado norte-americano acredita que a próxima “pernada” de alta pode ser a última ou a penúltima antes de uma reversão do ciclo de alta. “Se acontecer um ‘sell-off’ com um volume monstruoso é sinal de compra”, diz Rytenband, destacando que o objetivo não é prever quando terá início da derrocada do mercado em Wall Street, mas ter ferramentas para ajustar as posições dos investimentos.

E o Brasil? Mesmo com as perspectivas positivas para o futuro governo de Jair Bolsonaro, o mercado doméstico tende a não sair ileso quando a tendência em Wall Street azedar. 

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“Se os Estados Unidos fossem impactados agora, ou quando eles forem porque isso em algum momento vai acontecer, o Brasil sofre igual, independentemente de estar barato”, diz Roxo, destacando que os mercados são interligados e dependentes.

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Assim, agora não é o momento de ter temor com o mercado internacional, mas a reversão das bolsas por lá está perto de acontecer – e com grande potencial de afetar o Brasil.