Ata do Fomc deve ser “tira-teima” sobre ritmo de alta de juros nos Estados Unidos, dizem economistas

Ainda que Jerome Powell tenha indicado alívio no ciclo de aperto monetário, autoridades regionais do Fed apontaram para necessidade de novas altas de juros

Mitchel Diniz

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Quando o Banco Central dos Estados Unidos elevou os juros do país em mais 75 pontos-base, no último dia 27 de julho, a autoridade monetária optou por não indicar qual seria a magnitude dos próximos ajustes. Preferiu deixar a “porta aberta” e tomar uma decisão com base nos indicadores econômicos que saírem até próximo encontro, marcado para os dias 20 e 21 de setembro. Mas a impressão que ficou no mercado com a fala de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, após a decisão, foi a de que o aperto monetário entraria em um ciclo mais brando. A ata da reunião de julho, que vai ser divulgada nesta quarta-feira, tende a ser um tira-teima.

Isso porque, após as falas de Powell, presidentes regionais do Fed como Mary Daly (San Francisco)  e Charles Evans (Chicago) voltaram a falar sobre a necessidade de uma política monetária mais restritiva. “A ata vai ser importante para entender o que gerou a comunicação do Jerome Powell, se ele se atrapalhou ou se foi de fato uma visão coordenada do colegiado”, afirma Angelo Polydoro, economista da ASA Investments.

A ata chega ao mercado com um certo cheiro de naftalina, pois alguns indicadores importantes saíram após a última reunião da autoridade monetária, trazendo novas perspectivas. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) ficou estável em julho, interrompendo um ciclo de alta e surpreendendo o mercado. “Na reunião, o Fed ainda não tinha a visão mais clara dessa descompressão acentuada do CPI de julho. Mas já estava ciente de que preços de combustíveis e commodities mais baixos suavizam o cenário de inflação e talvez já comentem sobre isso na ata”, diz Andrea Damico, sócia e economista-chefe da Armor Capital.

Um outro ponto de atenção é o quanto o Fed está levando em conta a desaceleração de alguns indicadores de atividade econômica, sobretudo índices de confiança. “A inflação não foi provocada apenas por um aumento de demanda. E os indicadores já mostram um arrefecimento da atividade”, observa análise da Levante Ideias de Investimento. Chamou a atenção o desempenho da atividade industrial medido pelo índice Empire State que, em julho, que teve a segunda maior queda de sua série histórica.

“A ata vai mostrar até qual momento foi a análise do Fed. Se, em sua avaliação, os membros do Fomc olharam apenas para a aceleração dos preços (no passado) ou se já começaram a incluir na análise a provável quebra do ritmo da atividade
decorrente da piora da demanda (no futuro)”, escreveram os analistas da Levante.

O Credit Suisse acredita que a desaceleração de indicadores de atividade foi, sim, assunto na última reunião do Fed e acredita que a autoridade monetária deve reduzir o ritmo de alta de juros. Por outro lado, não vê sinais de que a taxa deva voltar a cair já no ano que vem. “O Fed indicou que seus membros viram a desaceleração da inflação como encorajadora, mas em níveis ainda muito altos”, diz a análise do Credit, que prevê inflação ainda muito acima da meta em 2023.

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Mesmo indicando inflação zero em julho, o CPI acumulado é de 8,5% em 12 meses. O núcleo do índice, sem levar em conta preços voláteis como alimentos e energia, subiu 5,9% no período. Já a inflação de consumo americana, medida pelo PCE (PCE Consumption Expenditures) acumula alta de 6,8% até junho e seu núcleo, alta de 4,8% no período. Os dois indicadores estão muito acima dos 2% estabelecidos como meta para a inflação dos EUA.

“Ainda tem uma rodada de dados mensais até a reunião de setembro. Imagino que esses dados vão definir o tamanho da próxima alta e que o Fed continue refletindo essa dependência do cenário”, conclui Luciano Sobral, economista-chefe da Neo Investimentos.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados