Assaí (ASAI3) entra no caminho para se tornar uma corporation com redução do Casino: qual o impacto para as ações?

Analistas veem transação como positiva para ativos, com elevação de liquidez de ASAI3, além de reduzir influência do grupo francês na empresa

Lara Rizério

Uma das unidades do Assaí (Divulgação)
Uma das unidades do Assaí (Divulgação)

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A companhia de atacarejo Assaí (ASAI3) anunciou que a sua oferta com esforços restritos de colocação foi precificada na última terça-feira (29) a R$ 19,00 por ação, valor 2% abaixo do preço de fechamento da véspera, de R$ 19,40.

Com isso, diante da colocação de 140,8 milhões de ações no follow-on, o grupo controlador majoritário francês Casino conseguiu levantar R$ 2,67 bilhões na oferta, que era exclusivamente secundária. Com a venda de 10,4% de sua fatia no Assaí, o grupo de Jean-Charles Naouri reduziu sua posição no grupo de atacarejo de 41% para cerca de 30%.

A quantidade de ações inicialmente ofertada poderia ter sido acrescida de um lote adicional de até 49,5 milhões de ações – numa oferta potencial de 190,3 milhões de ações, considerando oferta base e o lote adicional. Isso poderia elevar a operação a R$ 3,7 bilhões, o que representaria uma redução de 14,1% na participação do Casino. Entretanto, apesar da demanda, o grupo francês optou por não seguir com o lote adicional considerando a oferta a esses lotes abaixo de R$ 19, preferindo não diluir mais sua posição no Assaí.

O início da negociação das ações na B3 ocorrerá a partir de quinta-feira (1 de dezembro), com data de liquidação sendo prevista para o dia seguinte, na sexta-feira (02).

A operação é parte do plano do Casino para levantar capital visando reduzir seu endividamento. Conforme destaca a Levante Ideias de Investimento, o grupo passa por uma espécie de recuperação judicial na França, com um plano de desalavancagem de 4,5 bilhões de euros até o fim de 2023.

O Casino havia anunciado no fim de outubro o início dos estudos para a venda de parte da sua participação no Assaí.  Desde então, várias casas de análise destacaram a transação como positiva para a empresa de atacarejo brasileira.

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“E isso porque deve diminuir os riscos de governança, com a redução da influência do Casino na empresa, além de melhorar a liquidez do ativo”, avalia a Levante.

Os analistas da casa apontam que a redução da influência do Casino no Assaí, e a consequente melhoria na governança da companhia, já vem sendo observada, como o anúncio recente da substituição de um membro do Casino por Belmiro
Gomes (atual CEO do Assaí) no Conselho de Administração, além da inclusão de uma nova etapa para aprovação de transações com partes relacionadas.

A XP também vê a transação como positiva, uma vez que: i) melhora a liquidez de ASAI3; ii) deve levar a um ciclo de diminuição da influência do Casino no Assaí; e iii) marca um passo importante para a companhia em direção a se tornar uma corporation (com capital pulverizado).

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Os analistas da casa mantêm recomendação de compra e preço-alvo de R$ 22 por ação, reiterando ASAI3 como uma das suas preferências no setor, sendo a top pick no segmento alimentar. O atual preço-alvo corresponde a um upside de 13,40% em relação ao fechamento da véspera.

Na mesma linha, o Citi tem preço-alvo de R$ 22 e recomendação de compra para os ativos, também apontando que já houve mudanças sensíveis recentes para o Assaí com a diminuição da influência do Casino, mas ainda estão de olho nos próximos passos para mudanças no Conselho. “O discurso consistente de que esse é o primeiro passo de se tornar uma corporação reforça a nossa [estrutural] confiança na transação”, avalia o banco.

Próximos passos

Olhando para frente, a XP aponta ver mais movimentos na direção do Assaí de se tornar uma corportation no curto prazo, como por exemplo i) novas substituições no conselho de administração até 23 de abril (data da renovação oficial do conselho), reduzindo a influência do Casino; ii) Casino potencialmente vendendo uma participação adicional até o fim de 2023 (em linha com a previsão do fim do seu plano de venda de ativos no valor de 4,5 bilhões de euros); e iii) introdução de um plano de opções de ações mais robusto para os principais executivos do Assaí.

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A Levante também acredita que novas substituições no Conselho de Administração devam ocorrer até a data da renovação oficial do Conselho, o que deve diminuir ainda mais a influência do Casino no Assaí, que está avaliado atualmente em R$ 26 bilhões, aponta, lembrando que, no ano, suas ações acumulam uma valorização de pouco mais de 50%.

A casa de análise acredita ainda que o Casino, diante de sua atual situação financeira, venha a se desfazer de mais uma parte de sua participação no grupo de atacarejo em breve.

O follow-on foi uma forma que o grupo francês encontrou de evitar o vencimento antecipado de suas dívidas. O Casino chegou a levantar 4,1 bilhões de euros ao longo do ano com a venda de diversos ativos.

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Em uma das últimas operações realizadas antes de anunciar que estava avaliando vender uma parte de sua fatia no Assaí, ele anunciou a venda da GreenYellow, seu negócio de energia renovável, para a francesa Ardian por 600 milhões de euros. Logo, o grupo deve atingir cerca de 4,5 bilhões de euros com o follow-on do Assaí. Ainda assim, devido à sua situação financeira delicada, o grupo deve continuar vendendo ativos, aponta.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.