ASAI3: corte nas projeções de abertura de lojas pode estancar queda do Assaí na B3?

XP e JPMorgan veem anúncio como neutro, enquanto BBA e Genial apontam notícia como positiva em um cenário precificado com forte queda das ações

Lara Rizério

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Entre as maiores quedas do ano entre as ações do Ibovespa, com baixa acumulada de 48%, a rede de atacarejo Assaí (ASAI3) informou ter revisado as suas projeções, reduzindo sua previsão de abertura de lojas em 2025 para cerca de 10, contra expectativa anterior de abrir aproximadamente 20 lojas no próximo ano.

Segundo a companhia, as revisões consideram principalmente as recentes altas da Selic e as mudanças nas expectativas da curva de juros para os próximos anos, “influenciando diretamente o custo de carregamento da dívida líquida da companhia”.

O Assaí prevê investimentos entre R$ 1 bilhão e R$ 1,2 bilhão na “visão caixa” para 2025, e um patamar de alavancagem, medido pela relação entre dívida líquida e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações), em 2,6 vezes ao final de 2025, conforme fato relevante divulgado ao mercado.

A XP vê o anúncio como neutro, uma vez que o guidance divulgado veio aproximadamente em linha com nossas estimativas. Isso exceto pela expansão de 2026, para a qual adota uma postura mais conservadora, dada a alavancagem ainda alta da companhia ao final do ano e riscos de alta para as taxas de juros.

“Além disso, enxergamos potenciais acordos de desmobilização de imóveis (sale and leaseback) como uma alavanca para reduzir o capex (investimentos) de 2025, embora às custas de despesas adicionais com aluguel”, apontam os analistas.

Já o Itaú BBA vê a revisão da abertura das lojas como positiva. O Assaí tem sinalizado cada vez mais possíveis atrasos em seu ciclo de abertura de lojas, à medida que as taxas de juros se aproximam de 12%. Portanto, a maioria das informações divulgadas se alinham estreitamente com as estimativas do BBA (e talvez do consenso).

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Em outros termos, vê positivamente a decisão da empresa de priorizar a desalavancagem, principalmente devido ao aumento substancial no capex por loja desde a pandemia (que também impacta as estimativas marginais de ROIC, ou retorno sobre o capital investido).

Em termos práticos, assumem-se as premissas de: (i) 10 aberturas a menos (cerca de R$ 70 milhões/loja), (ii) pagamento das dívidas mais caras e (iii) economia unitária de uma loja no ano 1.

“No entanto, é importante observar que acreditamos que a maioria dos investidores não estava assumindo 20 aberturas, resultando em um impacto limitado nas estimativas do consenso”, avalia o banco. A elevação da competição e da canibalização, evidenciadas pelo desempenho ainda moderado das vendas de metros quadrados maduros do negócio legado, continuam a pressionar os retornos marginais, apontam os analistas.

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“No entanto, acreditamos que após a significativa liquidação do ano até o momento (-48%), muitas das revisões de lucros para baixo do consenso já foram precificadas”, reforça o BBA, que pretende atualizar suas projeções em breve.

A Genial Investimentos ressalta que, com a revisão, o guidance da companhia converge para a sua estimativa. A companhia, contudo, mantém a projeção de normalização de abertura de 20 lojas em 2026 – estimativa alvo de ceticismo pela casa, levando em conta a atual curva de juro do Brasil. “Em nossa projeção, utilizamos como premissa 15 novas unidades no período, normalizando apenas em 2027”, reforça.

De qualquer forma, a divulgação do guidance é vista como um catalisador positivo que pode trazer redução na posição vendida nas ações (atualmente em cerca de 6% do free float) e pavimentar o caminho para um fluxo comprador ao longo das próximas semanas. “Infelizmente, dado a volatilidade da curva de juros e cenário fiscal ainda incerto, sabemos que o risco Brasil ainda é um grande empecilho para o investidor gringo aumentar exposição em seu portfólio”, reforça.

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Utilizando como premissas um cenário onde o Assaí (i) cresça o faturamento em cerca de duas vezes o valor da inflação esperada para 2025 (cenário otimista), (ii) eleve a margem Ebitda para 7,4% (+10 pontos-base versus a estimativa da Genial para 2024) e (iii) reduza o capex de 2025 para R$ 1,2 bilhão, topo do guidance fornecido (o que implicaria em uma redução de R$ 800 milhões versus a nossa estimativa utilizada na projeção), poderia adicionar em até R$ 1,00 de upside ao preço-alvo esperado pela Genial para tese. A casa tem recomendação de compra para o ativo, com preço-alvo de R$ 10, o que implica em um potencial de valorização de 41% em relação ao último pregão.

O JPMorgan, por sua vez, segue neutro com a ação. “No geral, nenhuma diferença significativa nas expectativas, enquanto a redução do capex e da expansão confirma as visões de que o foco está na desalavancagem da empresa em meio a um ambiente desafiador para o FCF (fluxo de caixa livre) e o balanço em meio ao aumento das taxas e ao cenário competitivo acirrado. Em suma, não acreditamos que as notícias sejam uma surpresa para o mercado e não devem ser um catalisador do preço das ações”, concluem.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.