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2022 começou com frustração pelo fato de o Bitcoin (BTC) não ter conseguido atingir US$ 100 mil como alguns esperavam e terminou com investidores percebendo que estavam reclamando “de barriga cheia”: de US$ 47 mil em 1º de janeiro, a criptomoeda chegou a bater US$ 15.500 em novembro, e encerrou o período a US$ 16.547, segundo dados do agregador CoinMarketCap, um recuo acumulado de cerca de 65% em 12 meses.
Analistas projetam que 2023 seguirá sendo desafiador para ativos de risco como as criptos, mas que o fundo de mercado pode estar mais próximo do que se espera. A ideia é que, apesar do mau momento do setor, a tecnologia blockchain teve sua utilidade provada como forma de eliminar intermediários e sua adoção deve favorecer os ativos que rodam nesse ambiente, e que eventualmente eles irão receber parte do capital parado na renda fixa.
“Subir os juros é muito caro para os países, e pode levar a uma recessão que ninguém quer que aconteça. Então não existe essa história de subir juros indefinidamente”, avalia Helena Margarido, cofundadora da Monett e diretora de operações da Kodo Assets. “As pessoas vão olhar quanto está a inflação e quanto rende a renda fixa, ver que a conta não fecha (o Brasil é exceção), e vão ter que migrar pelo menos parte dos investimentos, voltar a tomar risco em renda variável, em criptoativos”.
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No entanto, o sentimento ainda é de cautela para quando essa retomada irá de fato acontecer. A projeção de especialistas para este ano é, por ora, de mais turbulências no setor, especialmente no primeiro semestre. “Teremos um primeiro semestre muito forte em queda de mercado”, diz o trader Vinícius Terranova, ressaltando que, em 2022, métricas muito utilizadas para analisar criptos caíram por terra após o BTC desabar para abaixo da máxima de 2017.
Fernando Pereira, analista gráfico da Bitget, relembra que crises como a provocada pela falência da FTX intensificaram as perdas do Bitcoin no ano, influenciando diretamente para um desempenho que, na sua visão, poderia não ter sido tão ruim.
Diante disso, os analistas ouvidos pelo InfoMoney acreditam que não só o Bitcoin voltará a receber a atenção de investidores ao longo de 2023, como existem pelo menos outras três criptomoedas que podem ser consideradas escolhas promissoras para investir mirando em uma valorização no longo prazo.
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1. Bitcoin (BTC)
Apesar de ser criticado por não oferecer a mesma utilidade do Ethereum, analistas ainda apontam que o Bitcoin deverá estar no portfólio dos investidores mais propensos ao risco em 2023. Mesmo levando em conta o cenário macroeconômico desafiador, a queda da criptomoeda é vista como esticada demais e, por isso, deverá se reverter mais rapidamente quando o mercado perceber o menor sinal de guinada na política de juros dos Estados Unidos.
O primeiro semestre de 2023 deve apresentar uma boa oportunidade para voltar a se expor ao ativo, avalia o trader Fernando Pereira, da Bitget. “Vemos uma clara formação de pivô de baixa [no gráfico do Bitcoin], mas indicadores de sobrevenda apontam que a queda está próxima do fim”, explica.
Tanto para ele quanto para Terranova, o fundo do Bitcoin, que deve vir na primeira metade do ano, pode ficar em cerca de US$ 12 mil ou, mais abaixo, na faixa entre US$ 9 mil e US$ 10 mil – a partir dos quais se espera uma rápida recuperação.
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É justamente o pessimismo, alerta Pereira, que sustenta a tese de retomada do BTC antes do que muitos esperam. “O mercado de renda variável costuma fazer fundo antes do pior momento do cenário macro, e começa a precificar uma reversão [com antecedência]. Acredito que dessa vez não será diferente”.
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2. Ethereum (ETH)
“O Ethereum é a compra mais óbvia do criptomercado inteiro”, aponta Helena Margarido, da Monett e Kodo Assets. “O Merge (Fusão, em inglês) não foi pequeno e ocasionou um triplo halving (corte na emissão). Isso, somado com a política de queima de tokens que veio lá de 2021, fez com que o Ethereum terminasse 2022 como um ativo deflacionário, com menos ETH em circulação do que no início do ano. Em termos de expectativa de valorização, isso é muito grande”, explica.
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Para a especialista, a quantidade de soluções desenvolvidas em Ethereum continua crescendo, em parte porque aspirantes a rivais não pegaram – como a Cardano (ADA), que tem dificuldades para atrair usuários, e a Solana (SOL), que passou por diversas panes em 2022 e ainda terminou o ano com o preço derretendo pelo elo com a FTX. “Tudo o que tem relevância em cripto está sendo construído em Ethereum”, diz Margarido.
O ponto ideal de compra do ETH ainda é incerto, dadas as condições nos gráficos. O trader Fernando Pereira aponta que, por ora, a cripto tenta fazer uma mínima mais alta que a anterior, mas ainda precisa atingir uma máxima mais alta antes de mostrar reversão.
Já Terranova, que também tem ETH no portfólio, ainda aposta na correlação com o Bitcoin: só partirá em peso para demais criptos, incluindo o ETH, quando o principal ativo digital do mercado mostrar o início de uma retomada sustentada.
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3. Polygon (MATIC)
A tese de que o Ethereum seguirá relevante em 2023 traz consigo a possibilidade de ganhos nos tokens das chamadas redes de segunda camada, que ajudam a desafogar a blockchain do ETH em momentos de picos de uso.
O maior expoente dessa categoria é a Polygon (MATIC), que oferece transações rápidas e baratas, compatibilidade com o Ethereum e ainda vem experimentando tecnologias avançadas de criptografia, como as provas de conhecimento zero (zero-knowledge proof).
Apesar de ainda ter problemas de usabilidade, a Polygon vem se tornando a escolha de muitas empresas (como Nubank e Starbucks) para emissão de tokens e lançamento de projetos de Web3 no geral, frente a concorrentes como Solana, Celo e Cardano.
“Se você olha para o que Polygon já está entregando, apesar dos problemas no passado, também é uma escolha óbvia [para investimento em 2023] porque tende a se sustentar ao longo do tempo”, explica Helena, da Kodo. “O Ethereum não vai correr sozinho, sempre vão existir transações menores que exigem custo de transação baixíssimo que o Ethereum dificilmente vai conseguir entregar”.
O token MATIC, da Polygon, também foi um dos menos caiu em 2022, aponta Terranova, fazendo crer que sua subida poderá ser mais forte num cenário de reversão do mercado. Pereira, da Bitget, afirma que o gráfico do ativo já mostrou sinais de que o preço poderia iniciar uma retomada antes do tempo, evidenciando que “a pressão compradora chegou antes nela, e não em outras moedas”.
“A MATIC é um dos projetos que pode se destacar no curto prazo após a reversão”, diz Pereira.
4. Chainlink (LINK)
Outra criptomoeda que está no radar dos analistas ouvidos pelo InfoMoney é a LINK, do projeto Chainlink, que reina sozinho no segmento de oráculo, oferecendo repositórios descentralizados e confiáveis para oferecer dados a projetos em blockchain.
“Desde tudo o que aconteceu com a FTX, projetos de dados on-chain, como os de oráculos, serão mais importantes porque trazem as informações que serão utilizadas nas corretoras descentralizadas”, projeta o trader e investidor Vinícius Terranova.
“Os dados providos pela Chainlink são usados por todo mundo, é um projeto com muito uso. A moeda sofreu? Sofreu, mas justamente por isso está interessante”, avalia.
A COO da Kodo Assets aposta na Chainlink praticamente desde que o projeto surgiu. “A tese de Chainlink é tão óbvia que recomendei ela ainda em 2017, quando valia centavos, e teve gente que investiu US$ 50 mil e ficou ‘trilhardário’, porque ela chegou a valer US$ 54 na máxima de 2021”, conta Margarido. “Teve gente que se aposentou durante a pandemia”.
Em 2023, diz Margarido, a Chainlink segue promissora porque a empresa, depois de resolver o problema de acesso a dados por contratos inteligentes, começou a trabalhar com a interoperabilidade entre blockchains, algo que se mostrou um problema crucial a ser resolvido no ano que passou.
“Além da questão fundamentalista, a Chainlink é uma escolha óbvia porque resolve muitos problemas que ninguém mais está resolvendo”, conta a diretora da Kodo. Para ela, o token LINK, que funciona como uma espécie de licença para uso dos dados providos pela Chainlink, é um dos poucos casos de tokens de utilidade (ou utility tokens) que caminha para a valorizar conforme seu uso aumenta.
Para a especialista, o LINK seria como uma licença de software valiosa que está com preço muito abaixo do mercado – como, por exemplo, uma licença do AutoCad, que custa R$ 8 mil por ano, mas está “em promoção” por R$ 30.
Leia também: O que é e como funciona a Chainlink
Menções honrosas
Além das criptos acima, os analistas recomendam os seguintes ativos para ficar de olho como potenciais boas adições para o portfólio ao longo de 2023 – todas compõem o portfólio de Vinícius Terranova, com exceção da The Graph, recomendada por Fernando Pereira, da Bitget.
- The Graph (GRT): Assim como a Chainlink, se enquadra entre os projetos cripto de dados e oferece APIs abertas para projetos DeFi
- Cosmos (ATOM): Projeto pioneiro de interoperabilidade, permite hospedar blockchains inteiras com suas próprias moedas nativas
- Binance Coin (BNB): Moeda nativa da BNB Chain e da corretora Binance, tem crescente número de casos de uso, incluindo participação em rodadas de compras antecipadas de tokens
- Avalanche (AVAX): Rival do Ethereum com tecnologia elogiada, que oferece versões diferentes de blockchain a depender do caso de uso do projeto a ser desenvolvido
- Optimism (OP): Assim como a Polygon, é um projeto de segunda camada conhecido por sua facilidade de uso, que visa acelerar e baratear transações no Ethereum
- Aave (AAVE): Protocolo de finanças descentralizadas que navegou bem e sobreviveu ao inverno cripto de 2022 – roda em Ethereum
- Curve (CRV): Corretora descentralizada para stablecoins, permite ganhar rendimento em cima desse tipo de ativo
- GMX (GMX): Corretora descentralizada de derivativos, conhecida por repassar ganhos da plataforma para detentores do token nativo (dividendos cripto)