As ações que podem ser boas oportunidades em meio à turbulência do mercado

Analistas ouvidos pelo InfoMoney falam sobre suas escolhas, que vão de ações "clássicas" até empresas "menos óbvias"

Mitchel Diniz

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SÃO PAULO – Encontrar setores na Bolsa resistentes a cenários turbulentos não é tão difícil quanto parece. Alguns são citados por dez entre dez analistas, como o das empresas exportadoras que tendem a se beneficiar com o dólar mais alto em momentos de aversão ao risco. A parte mais trabalhosa é identificar quais companhias, especificamente, têm mais resiliência ao cenário atual.

A empresa pode até ter receitas turbinadas pela alta do dólar, mas é provável que não consiga entregar os retornos esperados caso esteja muito endividada em moeda estrangeira. Da mesma forma que uma companhia totalmente exposta ao mercado interno pode vir a performar melhor do que outra que tem receitas majoritariamente vindas do exterior.

Dany Chvaicer, diretor de renda variável da Ébano Investimentos, diz que é importante entender para quais empresas os investidores estão indo e quais estão sendo evitadas. “Como a atual turbulência vem de uma crise política interna, os investidores evitam empresas estatais, mesmo ela tendo bons resultados. Tem menos gente procurando por elas, então os preços caem e isso pode ser prejudicial para a carteira com ações dessas companhias, principalmente no curto prazo”, afirma.

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Chvaicer diz que a Ébano tem evitado empresas voltadas apenas ao mercado interno, com uma notável exceção: o grupo hospitalar Rede D’Or (RDOR3), uma das três empresas apontadas pelo especialista como opção de investimento nesta fase conturbada do mercado. “Quanto mais a Rede D’Or se expande, maiores são as oportunidades que a empresa tem e os ganhos de margem. A empresa consegue barganhar com fornecedores, reduzindo custos e aumentando a rentabilidade. Além disso, o cenário macroeconômico é bastante positivo para o setor, com o envelhecimento da população”, afirma Chvaicer.

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Ele também cita outros dois exemplos de empresas resilientes: a Raízen (RAIZ4), “pelas chances e vantagens competitivas, com destaque para a enorme rede de distribuição, que além do Brasil, tem na Argentina terminais terrestres e portuários”; e a Vale (VALE3), que segundo Chvaicer, se destaca pelo baixo nível de endividamento e potencial para ser “uma das maiores pagadores de dividendos para este ano.”

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Recomendações clássicas

A Vale também é citada por Matheus Lima, analista da Top Gain, como empresa que, mesmo sofrendo nesses momentos de turbulência também para o minério, são de “altíssimo valor” no longo prazo e apresentam resultados constantemente positivos. “Apesar de, recentemente, ter sofrido com a queda no preço do minério de ferro, é uma ação com potencial de longo prazo. Essas quedas acabam gerando uma certa oportunidade”, diz Lima.

O analista destaca duas escolhas clássicas em momento de desvalorização do câmbio: Suzano (SUZB3) e Klabin (KLBN11), cujas receitas vêm principalmente da exportação de celulose. “São nossas principais referências quando falamos em alta do dólar e costumam ser boas quando acontece esse tipo de turbulência”, afirma.

A Suzano, aliás, voltou a ser top pick do Bradesco BBI. Os analistas Thiago Lofiego, Isabella Vasconcelos e Camila Barder calculam que cada 10 centavos de depreciação de real equivale a uma alta de 3% no lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) da companhia e de 2% no da Klabin. A recomendação é outperform (acima do desempenho do mercado) para a companhia, com preço-alvo de R$ 95 para Suzano (potencial de 85% de valorização) e R$ 40 para Klabin (potencial de alta de 65%).

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“Também vemos uma melhora nos fundamentos do mercado de celulose no curto prazo, puxados pela demanda de papel e recuperação de preços na China, à medida que os estoques reportados têm sido baixos”, dizem os analistas.

Opções menos óbvias

Flávio Conde, head de renda variável da Levante, diz que é possível encontrar opções “menos óbvias”, em diferentes tamanhos e setores. A Taesa (TAEE11) é uma das escolhas do analista, levando em conta que as receitas da empresa tendem a ser menos impactadas por uma possível crise hídrica. “Ela recebe antecipadamente por uma quantidade de energia, então mesmo que distribuidora demande menos, nada muda. O consumo de energia pode cair, mas a transmissora continua ganhando o mesmo”, explica Conde.

Outro destaque, na visão do analista, é a Telefônica Brasil (VIVT3), pelo baixo endividamento e por ser menos exposta a custos em dólar. Mesmo com a retomada do presencial, Conde acredita que a demanda por serviços da empresa por internet, TV e telefone não deve diminuir. O analista também menciona o Assai (ASAI3), por vender produtos básicos que têm demanda constante e a atender a demanda de clientes vindos de supermercado premium, que migram suas compras por conta do avança da inflação.

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No agronegócio, Conde vê potencial para ações da BrasilAgro (AGRO3), especializada no desenvolvimento e venda de terras agrícolas. “É uma outra forma de se proteger do dólar mais alto, que valoriza o produto da fazenda, e da inflação, que valoriza o preço das terras”.  O analista conclui a lista com 3R Petroleum (RRRP3). “É uma small cap que está comprando ativos maduros da Petrobras e desenvolvendo bem os campos que adquiriu nos leilões da Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP). E o preço da mercadoria dela, que é o petróleo, está subindo no mercado internacional, podendo chegar a US$ 95″, afirma Conde.

Curto prazo x longo prazo

Para Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP, e Jennie Li, estrategista de ações da casa, o preço das ações brasileiras já recuou a níveis bastante atrativos. Segundo eles destacaram em relatório, empresas do setor de commodities continuam sendo uma boa proteção contra a inflação mais alta a valorização do dólar. Ferreira também destaca empresas que dependem menos do ambiente macroeconômico e são capazes de entregar crescimento, mesmo em um cenário desafiador.

Por fim, o estrategista-chefe destaca o que chama de “boas empresas a preços atrativos”, para investidores com horizonte de longo prazo. “Existem muitas oportunidades a preços atrativos no momento, como Banco do Brasil (BBAS3), Multiplan (MULT3) e outras”, assina Ferreira.

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A equipe da Levante Ideia de Investimentos elencou uma série de dicas para investidores com diferentes perfis. Para estratégias de curto-prazo, a recomendação é aproveitar a volatilidade para comprar valor.

“Ou seja, monitorar ações de empresas sólidas, rentáveis e que têm um track record comprovado de superação de momentos de crise. A turbulência pode abrir oportunidades de compra desses papéis abaixo do seu preço justo, o que permitirá obter lucros”, dizem os analistas, em relatório.

Para a estratégia de longo prazo, a Levante traz três recomendações: evitar ações de empresas estatais, diante do risco político elevado dessas empresas; cautela com empresas voltadas ao mercado interno, com possibilidade de cenário adverso; e aproveitar o câmbio favorável para investir em empresas exportadoras.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados