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A eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, ainda que antecipada pelos mercados globais recentemente com o “Trump Trade”, deve seguir reverberando – inclusive no Brasil.
O impacto do segundo mandato do republicano pode se refletir nos mercados emergentes e em setores específicos, considerando fatores como volatilidade do câmbio, balança comercial e exposição de empresas a mercados americanos e chineses.
O retorno de Trump à Casa Branca tende a levar a uma valorização do dólar e aumento nos rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA. As promessas do novo presidente sobre tarifas e imigração são vistas como inflacionárias por analistas, o que é favorável para o dólar. Esses movimentos pressionariam os países latino-americanos com desvalorização cambial e a necessidade de manter ou elevar as taxas de juros para conter uma possível inflação importada, especialmente em países com elevada dívida externa e inflação controlada pelo câmbio.
Para a economista da instituição financeira Asa, Andressa Durão, os impactos são juros mais altos em resposta à vitória de um governo mais expansionista, com suas promessas de políticas fiscais e comerciais. Em relação à moeda, Durão também projeta dólar mais forte e petróleo em queda com a ideia de que Trump pode acelerar um cessar-fogo no Oriente Médio, além da promessa de incentivar a produção doméstica de energia.
O movimento inicial das ações, analisa ela, foi de alta, com expectativas de cortes de impostos adicionais e desregulamentação. “Essas medidas, contudo, podem ser limitadas, caso a Câmara, que ainda não está definida, se torne democrata . As maiores chances são de uma onda vermelha, cenário em que Trump conseguiria aprovar medidas que dependem do Congresso, como as questões fiscais e algumas regulatórias”, diz.
A economista não acredita que o resultado da eleição vai mudar a decisão de corte de 0,25 ponto percentual por parte do Federal Reserve (Fed, o banco americano), mas deixa a instituição financeira americana em posição de cautela com o risco inflacionário.
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No caso do Brasil, analistas do Bradesco BBI dizem que a combinação de dólar valorizado e títulos americanos em alta tornaria o real mais vulnerável, apesar da potente balança comercial. A vitória de Donald Trump pode intensificar ainda mais a pressão de alta sobre o dólar no Brasil, também segundo analistas consultados pela Reuters.
O governo Trump, historicamente avesso à dependência de produtos chineses, tende a retomar políticas protecionistas e reavaliar acordos comerciais. O aumento das tarifas sobre importações chinesas, caso sejam implementadas novas barreiras de 10%, poderia impactar significativamente as exportações de commodities da América Latina, um mercado dependente das trocas comerciais tanto com EUA quanto com a China, alertam os analistas.
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Empresas brasileiras com grande exposição à China e exportadores de produtos industrializados podem sofrer com a queda na demanda chinesa, que por sua vez já enfrenta dificuldades econômicas.
O Brasil, maior exportador de produtos agrícolas para os dois mercados, precisaria reavaliar suas parcerias estratégicas em um contexto de guerra comercial EUA-China. Para exportadores de carne bovina e soja, por exemplo, isso significa um potencial ajuste nos contratos de venda e a busca por novos mercados para absorver o excedente.
Oportunidades para setores específicos
Se por um lado o retorno de Trump à presidência representa desafios para o setor externo de países latino-americanos, algumas empresas brasileiras e chilenas, especialmente aquelas com exposição ao mercado americano, poderiam se beneficiar do incentivo ao setor energético e das políticas de desregulamentação econômica defendidas pelos republicanos, apontam os estrategistas do BBI. O setor de petróleo e gás, com empresas como a brasileira Petrobras (PETR4) poderá observar um crescimento nas exportações para os EUA, caso Trump mantenha o estímulo fiscal para o setor energético.
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No entanto, empresas latino-americanas com dívidas em dólar e dependência do mercado doméstico, como Lojas Renner (LREN3) e Magazine Luiza (MGLU3), podem ser prejudicadas, sobretudo diante de um cenário de juros elevados, de acordo com o relatório. A valorização do dólar pressionaria os custos operacionais de empresas no setor de varejo e construção civil, aumentando o endividamento e impactando a margem de lucro. Para o setor de aviação, Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4) também enfrentariam dificuldades, com o encarecimento de combustíveis e custos de leasing em dólar, reduzindo o potencial de expansão.
Segundo relatório da XP Investimentos, setores de exportação de commodities, como o agronegócio, tendem a se beneficiar com a vitória de Trump. Esse segmento foi favorecido durante a guerra comercial com a China em sua presidência anterior, quando a demanda chinesa se voltou ao mercado brasileiro como alternativa aos produtos americanos. A lista da XP inclui empresas como SLC Agrícola (SLCE3) e BrasilAgro (AGRO3), que podem observar aumento na demanda por grãos brasileiros.
Além do agronegócio, outros segmentos como o de mineração e siderurgia podem se destacar. A Gerdau (GGBR4), com forte atuação nos EUA, poderia se beneficiar das tarifas impostas aos produtos chineses, aumentando os preços do aço. Já a Braskem (BRKM5) pode ver um efeito positivo com a valorização do dólar, favorecendo sua receita em moeda americana.
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Contudo, os estrategistas da XP também alertam que algumas políticas econômicas de Trump podem trazer desafios para o Brasil. Uma proposta de tarifa global de 10% sobre importações pode impactar produtos brasileiros como petróleo, aço semiacabado e café. Além disso, os analistas avisam que a expansão da produção de petróleo nos EUA, impulsionada por políticas de facilitação ambiental durante o governo Trump, pode pressionar os preços globais de petróleo para baixo, influenciando diretamente empresas de óleo e gás.
Segundo a XP, entre as ações que podem capitalizar essa situação estão:
- SLC Agrícola (SLCE3) e BrasilAgro (AGRO3) – empresas do agronegócio, com potencial de aumento na demanda chinesa por grãos brasileiros, caso ocorra uma nova rodada de tarifas americanas sobre produtos chineses.
- Gerdau (GGBR4) – a siderúrgica, com operações relevantes nos EUA, poderia ver uma valorização no preço do aço devido a tarifas sobre produtos chineses, elevando a demanda local.
- Braskem (BRKM5) – no setor petroquímico, a empresa pode ser beneficiada por um dólar mais forte, uma vez que suas receitas são em dólares e parte dos custos em reais.
Para o Morgan Stanley, a reeleição de Trump pode trazer incertezas adicionais para o Brasil. Os analistas concordam que Trump tem uma abordagem mais protecionista em relação ao comércio, o que pode resultar em uma pressão negativa sobre as relações comerciais e financeiras com os EUA.
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Isso, diz eles, poderia exacerbar a fragilidade do real e aumentar as preocupações sobre a sustentabilidade fiscal do Brasil, resultando em um cenário menos favorável para os investimentos. A falta de clareza nas políticas econômicas de Trump, conforme os especialistas do banco, pode dificultar a avaliação do impacto sobre o Brasil, criando um ambiente de volatilidade.
Algumas ações que podem se dar bem com a vitória de Trump, segundo o Morgan:
JBS (JBSS3) – a empresa pode se beneficiar do fortalecimento das exportações de carne, mas também pode enfrentar desafios se houver barreiras comerciais.
Petrobras (PETR4) – poderia ver sua situação financeira melhorar com a recuperação nos preços das commodities energéticas, especialmente se as políticas de Trump favorecem a indústria de energia.
Itaú Unibanco (ITUB4) – um dos maiores bancos do Brasil, poderá se beneficiar de um aumento no consumo e no crédito, embora a incerteza econômica possa afetar sua performance.
Walmart do México – a performance do Walmart no México pode ser impactada por políticas protecionistas de Trump, afetando indiretamente o Brasil.
Petróleo e dólar devem beneficiar Braskem e Petrobras
O movimento de valorização imediata do dólar e a queda nos preços do petróleo vai beneficiar algumas empresas brasileiras e argentinas, especialmente a Braskem (BRKM5), ao mesmo tempo que deve gerar pressão em outros setores, como o de combustíveis e empresas sensíveis a juros, dizem analistas do Bradesco BBI.
O cenário que se instala agora, segundo o relatório, é visto como positivo para a Braskem porque a empresa tem sua receita atrelada ao dólar e depende de insumos petroquímicos cujo preço deve cair. Os estrategistas pontuam que companhia se encontra em posição vantajosa, com suas ações em níveis historicamente baixos, o que cria uma oportunidade potencial para os investidores, aponta o documento.
Isso quer dizer que a valorização do dólar fortalece as receitas da Braskem, enquanto a queda no petróleo diminui seus custos de produção, criando uma dinâmica vantajosa para a companhia.
A Petrobras (PETR4) também é mencionada pelo BBI como potencial beneficiada, mas com ressalvas. O relatório sugere que, embora a queda nos preços do petróleo seja desfavorável para a empresa, a desvalorização do real pode compensar parte das perdas ao fortalecer o lucro na moeda local. Além disso, os analistas apontam que Trump pode influenciar as eleições brasileiras em 2026, o que cria um cenário mais favorável para a Petrobras em comparação com suas concorrentes menores.
Empresas sensíveis a juros devem ficar alertas
Com a depreciação do real, a expectativa é de uma pressão inflacionária no Brasil, o que pode levar a aumentos nas taxas de juros, projeta o BBI. Esse cenário coloca empresas altamente sensíveis aos juros, como a Cosan (CSAN3) e a Oceanpact (OPCT3), em uma situação desafiadora.
No entanto, em um cenário de longo prazo, caso Trump implemente políticas de corte de gastos, as expectativas para as taxas de juros nos Estados Unidos poderiam diminuir, criando uma perspectiva mais favorável para essas empresas.
As distribuidoras de combustíveis, por sua vez, podem enfrentar desafios devido à expectativa de inflação e alta de juros no Brasil, mas o relatório aponta que essa reação negativa pode ser moderada. O avanço da agenda de combate à informalidade no setor e os bons resultados trimestrais, como o forte desempenho da Vibra (VBBR3), ajudam a conter possíveis impactos negativos. Assim, as distribuidoras podem ter maior resiliência a essa pressão no curto prazo.
O banco recomenda que investidores reduzam a exposição a empresas fortemente atreladas ao preço do petróleo, como Prio (PRIO3) e Brava (BRAV3).