As 5 ações do Ibovespa que caíram mais de 20% em fevereiro – e as 4 únicas que conseguiram subir no mês

Ação da CVC registrou a maior baixa do Ibovespa, com queda de 29,51%, enquanto a maior alta ficou com a Marfrig, com ganhos de 10,03%

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Fevereiro foi marcado por uma forte queda do Ibovespa, de 8,43%, na maior queda mensal desde maio de 2018, quando o índice recuou 10,87% por conta da greve dos caminhoneiros no Brasil.

Desta vez, a questão que levou à forte baixa do mercado não foi interna, mas global. Boa parte das maiores quedas do Ibovespa tem relação com o surto de coronavírus, que atingiu novo patamar como fonte de preocupação nos mercados com o caso da Covid-19 se espalhando fortemente por países fora a China, com destaque na Europa para o aumento na Itália,

A pior queda do índice no mês ficou com a CVC (CVCB3), com baixa de 29,51%, conforme dados da Economatica. Também entre as maiores baixas do mês, estiveram as ações da Gol (GOLL4, -25,26%) e da Azul (AZUL4, -25,01%), refletindo justamente esse período de incerteza sobre o impacto da doença na demanda de viagens.

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Os papéis das três empresas tiveram expressiva queda especialmente nos últimos três pregões do mês, com a expectativa de que os resultados das companhias possam ser deteriorados também a depender do impacto da doença para a economia brasileira.

Segundo Betina Roxo, analista da XP Investimentos, o setor aéreo sofre como um todo. Contudo, pondera, no Brasil, ainda não se vê um impacto tão direto porque a economia ainda não está sofrendo, como aconteceu na China, por exemplo, onde houve cancelamento de voos.

“Além disso, essas empresas aéreas nacionais não têm participação no mercado lá fora, mas são empresas que 50% do custo são dolarizados”, explica a analista. “Estamos falando de empresas que cada 5% de depreciação do real, a margem cai 1 ponto percentual, o que atrapalha bastante os resultados”.

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Em relatório do fim de janeiro, o Bradesco BBI havia apontado esperar que o coronavírus tivesse impacto primeiramente sobre a demanda de tráfego internacional. “Também acreditamos que preocupações crescentes com viagens internacionais podem desviar a demanda para viagens domésticas de lazer, beneficiando empresas como Gol, Azul e e CVC. No entanto, se novos casos de coronavírus forem confirmados em mais países, a demanda doméstica também pode estar em risco”, afirmaram os analistas.

No caso da CVC, o analista Richard Cathcart ressaltou ainda que o impacto dependeria também se o surto se tornasse uma pandemia (e em que regiões) e que as viagens domésticas poderiam ganhar força ante viagens internacionais.  A ponderação foi que, caso fosse confirmada a doença no Brasil (o que ocorreu efetivamente na quarta-feira, 26), o cenário seria mais negativo. “No auge do zika em 2015-16, o tráfego aéreo doméstico e as vendas nas mesmas lojas da CVC enfraqueceram, embora seja difícil saber exatamente quanto disso foi causado pelo zika e quanto se deve ao enfraquecimento da economia”, avaliou.

Outra ação que é impactada fortemente pelo surto de coronavírus, assim como todo o setor dela, é a JBS (JBSS3), com baixa de 17,69% em fevereiro, que sofreu com o impacto do coronavírus no consumo de carnes global (e especialmente da China). Conforme relatório do Rabobank divulgado nesta sexta, as importações de carne bovina pela China recuarão no primeiro semestre deste ano devido à doença, com potencial de reprimir o movimento positivo recente das exportações de carne por conta da peste suína africana no gigante asiático.

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Amplos estoques chineses de carne bovina congelada, armazenados em mercados locais em meio aos preparativos para o feriado do Ano Novo Lunar, não foram consumidos em janeiro por causa do coronavírus, destacou o banco em análise.

Minerva, JBS e Marfrig estão entre alguns dos principais exportadores de carne bovina do Brasil. Enquanto Minerva (BEEF3) teve baixa, mas não tão expressiva, a JBS também foi de longe a pior ação do setor.

Além do cenário com o coronavírus e da forte alta recente dos ativos, algumas notícias da companhia também impactaram a visão dos investidores. No último dia 21, a Pilgrim’s Pride (PPC), da JBS, divulgou resultado do quarto trimestre, com receita líquida de US$ 3,06 bilhões (alta de 15,3% na base de comparação anual) e Ebitda em US$ 162 milhões (alta de 45,6% na comparação anual).

A receita líquida ficou 5% acima do consenso enquanto que, por outro lado, o Ebitda ficou 16% abaixo do consenso. A PPC apresentou uma margem Ebitda de 5,3% (alta de 1,1 ponto percentual), 1,4 ponto abaixo do consenso.

“Comentando os aspectos negativos do trimestre, a PPC destacou que os preços no México estavam abaixo das expectativas sazonais, dadas as fracas condições macroeconômicas”, destacou o Bradesco BBI, também avaliando que, após olhar os números da subsidiária americana da companhia, a avaliação é de que estavam um pouco otimistas em relação ao resultado do quarto trimestre da JBS, embora isso não mudasse a visão positiva sobre as ações.

Além disso, o Credit Suisse destacou que os números do quarto trimestre a serem apresentados pela JBS, no dia 25 de março, não serão tão positivos. “A operação local deve sofrer com o aumento de preços de gado em dezembro e de negociações mais difíceis com os operadores de China. Enxergamos o nível de margem próximo de 6,3%, contração frente aos 8,5% do terceiro trimestre de 2019”, afirmaram os analistas do banco suíço em relatório.

“De forma geral, houve uma combinação pouco favorável da [concorrente] Tyson voltando a operar a planta de Kansas, preços de porco em dólar retornando a preços normalizados, produção de aves nos Estados Unidos maior que a demanda e preços de gado no Brasil acima do patamar de 1 ano atrás. A Seara também deve sofrer um pouco com preços de grãos mais altos. O primeiro trimestre não deve ser muito fácil para a JBS, mas continuamos com o nosso call positivo para o papel”, disseram.

Saindo um pouco do noticiário sobre coronavírus, quem esteve nos holofotes dos investidores em fevereiro, e fechou o mês com forte queda, foi o IRB (IRBR3), com forte baixa de 25,83%. Os ativos foram fortemente impactados por duas cartas da gestora Squadra, que apontou inconsistências nos números da companhia, ao falar que existem indícios que reforçam que os lucros normalizados (recorrentes) estão significativamente inferiores aos lucros contábeis reportados nas demonstrações financeiras do IRB.

No dia 19, a resseguradora apresentou seus números de 2019, registrando um lucro 44,7% no ano passado maior que o registrado em 2018. Em teleconferência após o balanço, José Carlos Cardoso, CEO da empresa, afirmou: “Não temos dúvidas de que o guidance [expectativa para o ano] será atingido e que 2020 será o melhor ano da companhia”.

Mas o grande foco estava nas explicações da companhia sobre o caso Squadra. Até então, o IRB havia se pronunciado, mas sem grandes detalhes, pois estava em período de silêncio antes da divulgação do balanço. Os resultados do trimestre vieram com informações adicionais sobre alguns dos pontos questionados pela Squadra, como mais detalhes sobre sinistros, salvados e ressarcidos e compra e venda de shopping centers. Também foram auditados por duas das Big Four (as empresas contábeis especializadas em auditoria mais prestigiosas do mundo): PwC e Ernst & Young.

Nos últimos dias do mês, o IRB voltou a ganhar destaque por conta de duas notícias. No dia 27, os ativos subiram 6,66% com a notícia do jornal O Estado de S. Paulo (não confirmada) de que a Berkshire Hathaway, do megainvestidor Warren Buffett, teria triplicado sua posição na resseguradora brasileira. De acordo com a publicação, as compras teriam ocorrido entre os dias 6 e 18 de fevereiro.

Ainda ontem, foi veiculado no Valor a notícia de que o presidente do Conselho de Administração do IRB, Ivan Monteiro, teria pedido demissão do cargo no último dia 20, um dia após a teleconferência de resultados da empresa. Monteiro estaria “desconfortável” com a administração da companhia. Apesar da empresa ter divulgado um fato relevante na noite de ontem negando a renúncia do presidente do Conselho de Administração, a notícia teria sido confirmada por fontes próximas do jornal.

“A forte queda das ações em 2020 após as cartas da Squadra pode ter significado uma oportunidade de entrada para quem ainda permanece confiante na empresa. No entanto, entendemos que IRB manterá a alta volatilidade no curto prazo diante da maior incerteza sobre a veracidade de seus números contábeis e da menor previsibilidade dos lucros no futuro”, destaca a Levante Ideias de Investimento.

Outro papel com forte queda no mês foi a Ultrapar (UGPA3), com queda de 23,51%. Além da maior aversão ao risco do mercado, as ações UGPA3 sofreram com os resultados do quarto trimestre, revelados no dia 19 de fevereiro e que fizeram com que os papéis caíssem mais de 7% após o balanço.

A Ultrapar teve um prejuízo de R$ 259,5 milhões no quarto trimestre do ano passado, após ter tido lucro líquido de R$ 495 milhões em igual período do ano anterior. Embora o desempenho da Ipiranga, Ultragaz e Oxiteno tenha se mantido na média, o grupo teve uma redução do valor recuperável de ativos (“impairment”) de R$ 593 milhões na Extrafarma, o que prejudicou o Ebitda e outros resultados da holding.

Já a Ambev (ABEV3) fechou em forte queda no mês em meio aos temores de maior concorrência e de desafios para precificação que podem levar à compressão de margens. Os receios foram confirmados depois com o resultado do quarto trimestre, que fez a empresa perder R$ 20,7 bilhões em valor de mercado. Veja mais clicando aqui.

Confira as 5 maiores quedas do Ibovespa em fevereiro:

Empresas Ticker Cotação  Queda no mês
CVC Brasil CVCB3 R$ 25,73 -29,51%
IRB IRBR3 R$ 33,25 -25,83%
Gol GOLL4 R$ 25,60 -25,26%
Azul AZUL4 R$ 44,44 -25,01%
Ultrapar UGPA3 R$ 19,08 -23,51%

Apenas 4 altas no mês

Ironicamente, uma das únicas altas ficou com a ação de um frigorífico: trata-se da Marfrig (MRFG3), que viu seus papéis subirem na expectativa por um resultado bastante positivo, que foi divulgado no dia 19. A companhia registrou lucro líquido de R$ 27 milhões no quarto trimestre de 2019, ante prejuízo líquido de R$ 1,257 bilhão em igual período de 2018. No acumulado do ano, o lucro líquido caiu para R$ 218 milhões, ante R$ 1,4 bilhão no ano anterior.

Outra ação que subiu forte em um mês de queda do Ibovespa foi a Weg (WEGE3), na esteira de revisões de recomendações. No final de janeiro, o HSBC elevou a recomendação para a ação de manutenção para compra, enquanto o JPMorgan elevou a recomendação de venda para neutra no dia 21, destacando que a companhia poderia se beneficiar da tendência mundial de eletrificação, como veículos elétricos e automação, que deve ajudar a empresa a continuar crescendo a taxas fortes.

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A equipe do JP diz acreditar que o desempenho recente da companhia mostra que os investidores devem comparar a companhia às empresas de alta qualidade e crescimento da B3, devido ao seu histórico e execução. “Ainda que a Weg não seja totalmente comparável a qualquer empresa doméstica, vemos que sua avaliação continuará acompanhando de perto os pares domésticos (qualidade e crescimento) e não os estrangeiros, que são maiores e têm negócios mais complexos que a Weg, limitando seu potencial crescimento”, apontam os analistas.

Antes do relatório do JP, contudo, a companhia divulgou os resultados do quarto trimestre, considerados fortes. O lucro líquido da empresa cresceu 49,3% para R$ 500 milhões no período – sobre igual trimestre de 2018. A receita líquida de vendas avançou 20,9% para R$ 3,77 bilhões, expansão de 20,9% sobre igual trimestre do ano anterior.

“A WEG reportou avanços significativos e vem sequencialmente reforçando sua capacidade de gerar valor tanto via as aquisições quanto de forma orgânica. Apesar de reconhecermos o histórico sólido de execução da companhia, que continua a se reforçar ao longo do tempo, nós mantemos preferência relativa por nomes que (i) negociam em níveis de valuation mais atrativos e (ii) possuem uma alavancagem mais direta à atividade econômica local dentro do universo de cobertura”, ressaltou a XP Investimentos em relatório de análise do balanço da companhia.

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Em seguida, mas com altas menos expressivas, estiveram a Equatorial (EQTL3), com alta de 3,44%, enquanto o Itaú Unibanco (ITUB4) conseguiu fechar no azul, com ganhos de 0,26%.

Confira as 4 altas do Ibovespa em fevereiro: 

Empresas Ticker Cotação  Alta no mês
Marfrig MRFG3 R$ 12,07 +10,03%
Weg WEGE3 R$ 43,15 +9,86%
Equatorial EQTL3 R$ 24,66 +3,44%
Itaú Unibanco ITUB4 R$ 32,00 +0,52%

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.