As 3 principais conclusões do BofA sobre minério, aço e celulose após viagem à China

Analistas do banco foram ao país asiático e conversaram com players das grandes indústrias para entender cenários

Vitor Azevedo

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Analistas do Bank of America foram à China tentar entender como participantes da indústria do país, que é o maior consumidor de commodities do mundo, estão avaliando as perspectivas para esses produtos não manufaturados. De forma geral, o que eles viram é um certo otimismo para a celulose e um cenário neutro para o aço e o minério de ferro. 

Três conclusões foram tiradas após o encontro: 1) os mercados de celulose estão mais apertados do que os analistas do banco pensavam, apoiando os aumentos dos preços da celulose, 2) na China, o mercado imobiliário ainda enfrentará mais quedas e 3) o pior momento para o minério de ferro e o aço pode ter ficado para trás.

Em relação à celulose, os participantes da indústria parecem concordar que a relação entre oferta e demanda parece mais apertada do que o esperado. “Ouvimos de várias fontes que os estoques dos produtores de celulose e nos portos da Europa estão baixos, há uma forte demanda por celulose na Europa e na América do Norte com os fabricantes de papel operando em altas taxas de operação e com as interrupções na oferta também estão fornecendo suporte”, explicam.

Eles lembram que as greves dos transportadores na Finlândia, a questão dos ataques a navios no Mar Vermelho e a seca que atinge o Canal do Panamá atrapalham a logística de distribuição da celulose. Na Europa, que costuma importar mais papel da China, as fábricas estão atuando com taxas de operação mais alta, já que a tradicional rota para o gigante asiático enfrenta problemas. 

Os fatores, segundo eles, apoiam os recentes anúncios de aumento de preço – caso da Suzano (SUZB3), por exemplo, que anunciou na última quinta-feira (21) novos aumentos no preço da tonelada de celulose vendida a clientes na Ásia, Europa e América do Norte a partir de abril -, e podem até mesmo levar a novos. 

O BofA ainda menciona que a Semana da Celulose de Xangai (SPW) começou mais animada do que o último evento. Em 2023, após o encontro dos participantes do mercado, a commodity teve seu preço caindo, com poucos acordos fechados entre compradores e vendedores.

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Já para o minério de ferro e para o aço, a visão dos players ouvidos pelo BofA é de que 2024 deve ser marcado por uma dinâmica flat ou de queda quando o assunto é a relação entre oferta e demanda. 

Para as siderúrgicas, o cenário até traz tons mais positivos. Apesar da demanda por aço ainda pouco animadora, o recuo recente do preço do minério de ferro deve manter as margens mais saudáveis. Fora isso, a maioria das produtoras de aço espera ver um aumento na demanda por infraestrutura no segundo semestre, com estímulos na China, e vê a política de estímulos para a renovação de equipamentos e eletrodomésticos como um gatilho para melhoria na demanda à frente.

Quanto ao setor imobiliário chinês, a visão captada pelo banco americano é de que ele deve enfrentar uma contração durante vários anos – assim, o fundo ainda não foi atingido. “Segundo o Escritório Nacional de Estatísticas (NBS), o volume e valor de vendas de novas residências está declinando entre 25% e 33% desde o início do ano, enquanto a área de conclusão residencial diminuiu 20% desde o início do ano e as novas construções estão em queda de 31% desde o início do ano”, expõe.

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A crise das grandes construtoras, apesar da intervenção do governo, fez com que a construção estagnasse nos últimos anos e pavimentou o caminho para a crise do setor imobiliário. “Como resultado, as preocupações dos compradores de imóveis em adquirir novos desenvolvimentos aumentaram significativamente, especialmente dado que uma grande parte dessas transações foram historicamente concluídas no método de pré-venda, com os compradores de imóveis tendo que pagar hipotecas por alguns anos antes que as unidades residenciais fossem de fato entregues”, explicam. 

As restrições de liquidez das construtoras fizeram a confiança do consumidor em novos desenvolvimentos sendo de fato entregues diminuiu consideravelmente. Para agravar ainda mais a situação, os preços dos imóveis têm caído constantemente nos últimos anos, desencorajando ainda mais os compradores de tomar a decisão de comprar agora.

Embora o governo chinês tenha anunciado várias medidas nos últimos anos para compensar o declínio nos mercados imobiliários, essas medidas até agora se mostraram insuficientes para reverter efetivamente a tendência de baixa.