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O anúncio feito pelo presidente da Argentina, Javier Milei, na véspera de que o governo registrou seu terceiro superávit mensal consecutivo, trouxe mais subsídios para uma visão mais positiva de analistas do mercado sobre os ativos do país, ainda que desafios sigam no radar.
O excedente fiscal foi de 0,2% do PIB no 1T24 (primeiro trimestre de 2024), o primeiro já registrado em um trimestre desde 2008.
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Em discurso, Milei defendeu o ‘plano de estabilização de choque’, prometendo que o seu compromisso com a eliminação dos déficits não vacilaria ao longo do seu mandato.
O país alcançou a marca ao cortar três quartos das transferências para os governos provinciais, diluir a previdência, adiar pagamentos de subsídios (eletricidade, gás natural, entre outros) e suspender quase 90% das obras públicas.
Na avaliação do Bradesco BBI, o discurso do presidente Milei sobre o tão prometido superávit fiscal traz notícias que de certa forma já eram esperadas pelo mercado. Contudo, tem uma conotação de confirmação de que este é o único caminho para a recuperação da economia do país . O terceiro discurso do presidente em quase cinco meses no poder também visa dar sinais de luz no fim do túnel e continuar a construir credibilidade para pressionar o Congresso a aprovar as mudanças necessárias para fazer avançar as políticas liberais do governo.
O mercado esperava que algum anúncio adicional fosse feito, porém, Milei não trouxe mais medidas. “Pensamos que a remoção das restrições cambiais requer níveis sólidos de acumulação líquida de reservas por parte do Banco Central argentino, o que poderá ocorrer durante o segundo semestre se o país obtiver ajuda externa (talvez do FMI)”, avalia o banco.
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O BBI destaca que o esforço para continuar a alcançar excedentes fiscais nos próximos trimestres será cada vez mais difícil, uma vez que haverá pressão de gastos com o ajuste da previdência, a necessidade de pagar subsídios e provavelmente ajudas sociais.
Por outro lado, reforçam: “continuamos construtivos com os ativos argentinos em 2024 (ações e renda fixa), já que os próximos gatilhos incorporam uma entrada robusta de dólares devido à temporada de colheita (abril-junho), a continuidade da desaceleração da inflação, novas negociações com o FMI e outras entidades e a possibilidade de remover restrições cambiais”, avalia o banco.
O Itaú BBA aponta que recentemente melhorou a previsão do fiscal do país, reforçando que os resultados “são impressionantes até agora, ultrapassando confortavelmente as metas do FMI”.
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“Prevemos agora um excedente fiscal primário de 0,5% do PIB em 2024 (contra 0% do PIB no nosso cenário anterior). Embora o início do ano seja promissor para as contas orçamentais, manter contrações acentuadas das despesas para alcançar um excedente primário parece ser um desafio num cenário estagflacionário. Dito isto, a aprovação do pacote fiscal em discussão no Congresso poderia melhorar ainda mais as nossas previsões fiscais”, avaliam os economistas.
Na visão do JPMorgan em relatório desta semana, com a visão de juros mais altos em geral para os países emergentes, há uma percepção também mais geral de redução do apetite dos investidores, com exceção do caso específico da Argentina.
O banco ressalta que o balanço do banco central está sendo normalizado, mas ainda não é suficiente para remover os controles de capital sem arriscar a estabilidade monetária. Políticas macroeconômicas sólidas deverão continuar em busca do equilíbrio, permitindo eventualmente o levantamento dos controles de capitais. “Dito isto, é fundamental evitar o risco de elevada volatilidade cambial. O objetivo é migrar para um regime de câmbio flutuante gerenciado”, avalia.
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Em recente viagem à Argentina e de se reunir com diversas empresas do país, a equipe de estratégia do Itaú BBA ressaltou que há um sentimento de esperança, ao mesmo tempo em que as famílias enfrentam uma pressão crescente dos ajustes tarifários, que deverão atingir o pico entre abril e maio, como parte do roteiro do governo para alcançar um superávit fiscal no ano.
Do ponto de vista do mercado, há poucas vitórias imediatas a serem obtidas, exceto levando em conta oportunidades potenciais na exploração de petróleo e gás no campo de Vaca Muerta. As perspectivas a médio prazo do setor energético poderão mudar após a eliminação progressiva dos subsídios à energia, mas este processo é complexo e exigirá novos ajustes regulatórios, o que levará um tempo considerável. Ainda olhando para setores, os investidores têm sentimentos contraditórios em relação ao setor bancário devido às mudanças estruturais iminentes na forma como os bancos geram receitas. No entanto, a história da consolidação pode ser positiva.