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A visão dos investidores globais sobre a América Latina tem se tornado mais positiva, com sinais construtivos no Brasil e um foco crescente na recuperação da Argentina, conforme ressaltam estrategistas do Bradesco BBI em relatório após conferência com 110 companhias e 300 investidores globais. Apesar de dificuldades econômicas e políticas em alguns países da região, o relatório aponta visão dos investidores globais com perspectivas mais favoráveis para os mercados financeiros de Brasil, México e, sobretudo, Argentina, que atraem atenção por diferentes motivos.
A Argentina surge como a estrela da região, atraindo o interesse de investidores pela possibilidade de uma recuperação econômica sustentada. Os analistas dizem que o país conseguiu avanços como ajustes fiscais, negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e acumulação de reservas, além de discutir a remoção de restrições de capital.
Embora a classificação da Argentina como mercado de fronteira (subconjunto de emergentes, com classificações de crédito mais baixas ou que são menores economicamente) pela Morgan Stanley Capital International (MSCI) ainda seja um obstáculo, os analistas esperam que uma eventual reclassificação para emergente em 2025 possa desencadear um fluxo expressivo de investimentos. Empresas como YPF, Vista, Geopark e Supervielle, segundo os especialistas, estão no radar dos investidores, refletindo uma aposta cautelosa, mas promissora no mercado argentino.
No Brasil, o mercado observa com otimismo a possibilidade de uma reancoragem fiscal e monetária. Um pacote fiscal forte, esperado como o principal legado do governo Lula, tem potencial para reforçar a credibilidade do país e reduzir o risco de deterioração econômica, tirando de cena a comparação com a gestão Dilma Rousseff, marcada por desajustes fiscais, segundo o BBI.
No âmbito monetário, os analistas dizem que a indicação de Gabriel Galípolo como presidente do Banco Central gerou confiança em sua capacidade de adotar uma postura técnica, consolidando a credibilidade da política econômica. Para o banco, os investidores também antecipam um ciclo eleitoral de 2026 marcado pela indefinição de candidatos na esquerda e pela divisão na direita, que pode afetar o cenário político de médio prazo.
No mercado acionário, os estrategistas pontuam que o Brasil enfrenta um paradoxo. Apesar das empresas entregarem forte crescimento de lucros, investidores estrangeiros mostram-se mais dispostos a correr riscos do que os locais, que ainda permanecem cautelosos. O BBI diz que o aguardado pacote fiscal é visto como divisor de águas para a retomada da confiança, com setores de consumo habilitados por tecnologia e exportadores ganhando destaque.
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O Bradesco BBI tem recomendação neutra para o Brasil, enquanto estão overweight (exposição acima da média) para México e Argentina.
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México: fundamentos resilientes e pragmatismo político
O México também mantém um papel de destaque, com investidores destacando a estabilidade das políticas econômicas e a execução pragmática da nova administração de Claudia Sheinbaum, dizem os estrategistas. A líder do partido Morena tem buscado equilibrar austeridade fiscal com incentivos ao crescimento, prometendo um déficit menor em 2025 e reforçando a confiança dos mercados.
Setores como infraestrutura, habitação e consumo, observa o BBI, têm apresentado boas perspectivas, enquanto a recuperação do interesse pelo nearshoring (relocação de cadeias produtivas próximas ao mercado consumidor) reforça o otimismo em relação à economia mexicana.
Por outro lado, o banco diz que o Chile continua a oferecer um ambiente macroeconômico relativamente estável, com opções atrativas em bancos e consumo. No entanto, preocupações com inflação acima do esperado e crescimento fraco têm limitado o entusiasmo dos investidores.
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Já na Colômbia, a fragmentação política e a ideologia marcante do governo atual geram incertezas, dificultando previsões mais positivas para o médio prazo.
Setores
O relatório do Bradesco BBI destaca ainda uma perspectiva variada para os principais setores econômicos da América Latina, com projeções sobre os desafios e oportunidades para 2025. No setor financeiro, o analista Eric Ito aponta que investidores estrangeiros permanecem cautelosos diante das condições macroeconômicas e políticas na região, especialmente no Brasil, México, Colômbia e Chile.
No Brasil, diz ele, as atenções estão voltadas para os efeitos do pacote fiscal na taxa de juros e como os bancos brasileiros, particularmente o Itaú (ITUB4), respondem ao cenário de juros elevados. No México, as preocupações giram em torno de regulamentações mais rígidas e da reforma judicial, enquanto os bancos na Colômbia enfrentam a pressão de juros mais baixos, e os chilenos lidam com um ambiente político mais estável, mas com crescimento econômico modesto.
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Victor Mizusaki, também do Bradesco BBI, observa que as empresas do setor de transporte e bens de capital têm focado na expansão de margens e desalavancagem para mitigar o impacto do custo de capital no Brasil. Destaques incluem a Localiza (RENT3) e a Movida (MOVI3), que aumentaram preços no aluguel de carros enquanto reduzem custos, buscando maior lucratividade. No entanto, o mercado de carros novos e usados continua sendo um risco para o setor.
No setor de saúde, o analista Marcio Osako afirma que o cenário permanece com dificuldades, com judicialização e dificuldades financeiras pressionando provedores como a Hapvida (HAPV3). Apesar disso, Osako diz que a empresa tem adotado medidas como reajustes de preços e integração de sistemas para melhorar a performance, enquanto a Rede D’Or (RDOR3) segue com um plano de expansão robusto de leitos operacionais. A perspectiva geral para o setor é neutra, segundo o especialista, mas a Hapvida se destaca como a principal escolha em termos de avaliação.
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Na educação, Osako destacou a Cogna (COGN3) como líder em iniciativas de controle de custos e eficiência, com projeções de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) acima de R$ 2,1 bilhões em 2024. A empresa também espera melhorias de margem a longo prazo e mantém um foco estratégico em fusões e aquisições, conforme o relatório. O analista comenta que a Afya (AFYA) aposta no fortalecimento de sua marca e no crescimento orgânico, com aumento de preços acima da inflação para admissões em 2025.
O setor de materiais foi analisado por Rafael Barcellos, que trouxe uma visão otimista sobre os preços de celulose e minério de ferro. A Suzano (SUZB3) e a Vale (VALE3) foram destacadas por sua sólida performance operacional e perspectivas positivas, especialmente com a recuperação do mercado de celulose e o equilíbrio entre oferta e demanda no mercado de minério.
Vicente Falanga, no segmento de petróleo e gás, mostrou-se cauteloso em relação às margens de distribuição de combustíveis no curto prazo, mas otimista sobre as iniciativas da Cosan (CSAN3) e o potencial de retomada dos campos da Brava. A perspectiva de longo prazo é positiva, com margens saudáveis sustentadas pela formalização do setor.
No agronegócio, Henrique Brustolin destacou o otimismo com as margens de lucro da avicultura, beneficiando empresas como JBS (JBSS3) e BRF (BRFS3). Ambas as empresas, segundo ele, estão bem posicionadas para aproveitar o ciclo positivo do setor e impulsionar o crescimento com balanços patrimoniais fortalecidos.
O varejo e o consumo, diz Pedro Pinto, mostraram sinais de recuperação, especialmente no segmento de vestuário e alimentos. No entanto, a cautela persiste entre os investidores devido à alta de juros e preocupações com liquidez. Guararapes (GUAR3), Carrefour Brasil (CRFB3) e Magazine Luiza (MGLU3) foram apontadas pelo analista como destaques em seus respectivos subsetores.
No setor imobiliário, o analista do BBI, Bruno Mendonça, destacou o otimismo da Iguatemi (IGTI11) com crescimento de vendas e oportunidades de fusões e aquisições. A perspectiva para 2025, projeta Mendonça, é de um foco renovado nos fundamentos operacionais, o que deve atrair novamente o interesse dos investidores.