Argentina e Brasil na Copa América 2024 – da economia: quem ganha?

Foram considerados desempenho das bolsas, câmbio, juros, contas públicas e dados macroeconômicos

Rodrigo Petry Vitor Azevedo

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Começou a Copa América 2024 e as duas grandes favoritas são as seleções da Argentina e do Brasil. Atual campeã mundial, a Argentina de Messi pode levar vantagem, esportivamente, frente à brasileira, em reconstrução, após o fracasso da última Copa do Mundo no Catar.

Na economia, porém, o Brasil leva vantagem, evidentemente, nos últimos anos, já que o país vizinho foi castigado pela hiperinflação e uma grande recessão – isso, mesmo com todos os problemas internos brasileiros.

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Entretanto, como um legítimo “azarão”, a economia argentina vem surpreendendo em 2024, seis meses após o começo do governo de Javier Milei. E isso fica claro pelas projeções para as contas públicas.

Logo após a vitória de Milei, muitos analistas apontavam que a Argentina poderia estar mergulhando num “mar de incertezas” – dados todos os desafios que seu governo enfrentaria.

Mas, passada metade do ano, essas incertezas foram se dissipando, enquanto por aqui, no Brasil, preocupações fiscais e ruídos políticos vem afastando investidores, levando o real a perder mais valor do que o peso, em 2024, frente ao dólar.

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Na comparação internacional, entre a percepção de segurança para investimentos estrangeiros, as moedas são um grande balizador – de qual país é mais ou menos arriscado.

Aproveitando essa “vitória” argentina – não de Messi, mas de Milei – sobre o Brasil na taxa de câmbio, em 2024, o InfoMoney selecionou uma série de indicadores econômicos, para ver quem vem levando a melhor.

Fora o câmbio, no que mais os “hermanos” levam vantagem? Confira a seguir:

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Copa América 2024: Argentina e Brasil

Governados por figuras políticas antagônicas e de espectros políticos divergentes – Argentina, à direta, e Brasil, à esquerda – o movimento do câmbio chamou a atenção de analistas.

Os méritos dos vizinhos encontram-se, essencialmente, no movimento de reformas econômicas, que vão gerar grandes cortes de gastos, o chamado “ajuste fiscal”.

Aqui, não estamos entrando nos méritos das consequências sociais destas medidas, mas sim de que o governo Milei busca o equilíbrio das contas públicas.

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Isso, em um horizonte de médio e longo prazos, tende a reduzir a inflação e a necessidade, consequentemente, de altas taxas de juros, melhorando a economia.

E, parafraseando, um antigo ditado sobre a virtude da “mulher de César”, não basta estar buscando essa melhora, precisa parecer que se está em buscando.

Por aqui, enquanto isso, a desconfiança impera, sobre a capacidade do governo em realizar os cortes de gastos. O governo brasileiro, por exemplo, revisou – para pior – a meta de superávit para 2025. 

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Fora isso, o governo brasileiro busca fechar as contas públicas em 2024 com mais receitas, oriundas de aumento de impostos, do que por meio de corte de gastos.

No entanto, vem encontrando resistências no Congresso a certas iniciativas, gerando dúvidas, inclusive, sobre o encerramento das contas públicas em 2024.

Dito isso, vamos a campo para comparar, a seguir, os desempenhos e as expectativas para 2024 de alguns indicadores e financeiros, de Brasil e Argentina.

Os dados foram compilados para o InfoMoney pela Austin Rating. As informações macroeconômicos têm como fonte o FMI, que aplica metodologia passível de comparação entre países. Assim, alguns dados podem se diferenciar em relação aos do Banco Central do Brasil, mais especificamente sobre as contas públicas.

Argentinos vencem

Taxa de Câmbio em 2024 em relação ao dólar:

Peso argentino: -10,80%

Real brasileiro: -11,00%

Bolsas de Valores em 2024 em termos nominais:

Merval (Argentina): +69,6%

Ibovespa (Brasil): -10,2%

Bolsas de Valores em 2024 em termos reais:

Merval (Argentina): -1,3%

Ibovespa (Brasil): -12,2%

Resultado nominal líquido do governo geral (% do PIB)* – maior, melhor

Argentina: 0%

Brasil: -6,3%

Resultado primário líquido do governo geral (% do PIB)* – maior, melhor

Argentina: +2,2%

Brasil: -0,6%

Dívida Bruta do governo geral (% do PIB)* – menor, melhor

Argentina: 86,2%

Brasil: 86,7%

Saldo de transações correntes (% do PIB)* – maior, melhor

Argentina: 0,9%

Brasil: -1,4%

Exportações de bens e serviços (Variação %)*

Argentina: 27,1%

Brasil: 3,0%

Brasileiros vencem

Crescimento do PIB*:

Brasil: +2,2%

Argentina: -2,8%

Taxa de inflação**:

Brasil: 3,93%

Argentina: 276,4%

Taxa de juros:

Brasil: 10,50% ao ano

Argentina: 40,00% ao ano

Empate

Taxa de desemprego* (% da população economicamente ativa)

Brasil: 8%

Argentina: 8%

*Projeção do FMI para 2024

** Últimos dados disponíveis

Quem vence em 2024?

Para 2024, dos 12 indicadores utilizados, a Argentina venceu em 8, o Brasil em 3 e houve 1 empate.

O resultado pode até surpreender, mas ele acontece, sobretudo nas comparações sobre as contas públicas.

Neste quesito, a Argentina está à frente do Brasil, em 2024, na maior parte deles, exatamente, pelo esforço do governo Milei de ajuste das contas, o que foi levado em consideração pelo FMI.

Também não estão sendo considerados indicadores sociais, como expectativa de vida, nível de educação, taxa de pobreza e índice de desenvolvimento humano.

Outro fator, importante de se reforçar, é a base de comparação, favorável aos argentinos, já que o país busca se recuperar, em meio a uma severa crise econômica.

Como foi em 2023?

Quando olhamos, para 2023, quando não havia esse esforço fiscal, implementado agora pelo governo Milei, o desempenho foi amplamente favorável ao Brasil.

Como ocorreu no câmbio, quando o real se valorizou 7,8% e o peso argentino perdeu 78%. Nas exportações de bens e serviços, o Brasil avançou 9,4%, enquanto na Argentina houve queda de 12,9%.

Ou, ainda, na dívida bruta em relação ao PIB, quando a argentina estava, em 2023, em 154% e a brasileira em 84,7% (aqui, o menor porcentual é melhor). Nas transações correntes, o saldo ano passado também foi melhor para o Brasil.

Sem contar o crescimento do PIB, principal indicador de riqueza de um país, cujo brasileiro avançou 2,9% e o argentino recuou 1,6%.

Recuperação versus “tempos estáveis”

Ademais, não há também como comparar o momento econômico brasileiro em termos de estabilidade, mesmo diante das recentes preocupações fiscais.

No Brasil, a economia vem de tempos mais estáveis, com três anos de crescimento ininterrupto. A inflação também está em patamares baixos, como a acumulada em 2023, sendo de 4,62% — abaixo, inclusive, da média histórica do país — e, em 2022, foi de 5,79%.

Argentina

Já na Argentina, a palavra é recuperação. Por muito tempo, o governo por lá “imprimiu” dinheiro deliberadamente para manter serviços públicos elevados.

Isso, no entanto, também gerou uma inflação fora do controle. Em 2023, por exemplo, os preços subiram 211,4%, e, em 2022, 95% – e os números altos se arrastam pelos anos. 

Eleito para “dar um jeito” na inflação, em seu primeiro ano de mandato, Milei tratou de cortar os gastos (o que também implicou na redução dos serviços públicos).

Até maio, por exemplo, o país já registrava cinco meses consecutivos de superávit primário, totalizando US$ 2,5 bilhões, algo que não se via desde 2008.

Inflação

Além disso, nos últimos meses, a inflação argentina vem desacelerando (apesar de um repique em junho, que Milei atribui à não aprovação de medidas pelo Congresso).

Alguns especialistas já apontam que o recuo se dá como resultado dos menores gastos públicos. 

Os mesmos cortes de subsídios, por fim, também explicam em parte o recuo do PIB. O estado argentino está diminuindo o dinheiro público da economia, o que resultará em menor crescimento econômico.

Os menores gastos públicos diminuem o risco de emprestar para o país, com a perspectiva de que o governo conseguirá arcar com seus compromissos financeiros no futuro.

Diante de tudo isso, o FMI já enxerga, também, que o país deve caminhar para juros reais em território positivo.

Copa América 2024

Por fim, não menos importantes, para encerrar essa Copa América, há outro quesito a se considerar, o futebolístico.

E neste o Brasil está bem atrás: Argentina venceu 15 copas e o Brasil, apenas 9.