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Os balanços trimestrais das grandes empresas de tecnologia dos Estados Unidos mostraram que a saúde financeira dessas companhias não está em sua melhor forma. Os números vieram mistos, mas todos, de alguma forma, mostraram que as techs começaram a sentir os efeitos de uma economia mais difícil.
O setor que brilhou nos piores anos da pandemia não passou incólume ao cenário de juros elevados para conter uma inflação galopante, que corrói o poder aquisitivo da população.
É importante lembrar que quase todas essas companhias fizeram demissões do último ano para cá. Só neste mês de janeiro, foram mais de 40 mil vagas de trabalho fechadas, incluindo cortes em big techs. Na avaliação dos analistas, contudo, o movimento é positivo e tendem a deixar as companhias mais eficientes.
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Além de reportar resultados que, em muitos casos, deixaram a desejar, algumas companhias também trouxeram previsões pouco animadoras para 2023. Como os balanços são uma fotografia de um período no passado, os guidances para este ano mexeram ainda mais com as ações das empresas de tecnologia. Confira abaixo:
Leia mais:
- Microsoft (MSFT34) lucra 14% a menos no trimestre, mas acima do esperado; guidance frustra mercado
- Snap tem prejuízo de US$ 288 milhões no 4T22 e ação despenca com previsão de queda nas receitas
- Netflix (NFLX34) vê lucro despencar 90,9% no 4º tri, mas tem crescimento de assinantes acima do esperado
Apple (AAPL34): previsão de crescimento de receita trouxe alento à temporada
O lucro da Apple entre outubro e dezembro do ano passado (primeiro trimestre fiscal de 2023 para a companhia), caiu 13,4% na comparação com um ano antes, para US$ 30 bilhões. O número ficou abaixo do consenso do mercado e, na avaliação do Morgan Stanley, refletiu um cenário de curto prazo mais severo em termos macroeconômicos e de produção.
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O resultado ficou 5% abaixo do projetado pelo banco, com resultados muito mais fracos que o esperado nos principais produtos da Apple – iPhone, Mac e seu acessórios wearables.
A empresa registrou uma receita de US$ 117,2 bilhões no primeiro trimestre de 2023, retração de 5,5% na comparação ano a ano. Foi a primeira queda de faturamento em quase quatro anos.
As vendas de computadores totalizaram US$ 7,74 bilhões, bem abaixo das estimativas de analistas de US$ 9,36 bilhões.
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Já as vendas de telefones no primeiro trimestre fiscal subiram para US$ 65,78 bilhões, enquanto Refinitiv esperava vendas de 68,29 bilhões.
“Os resultados mostram que a Apple não conseguiu evitar a desaceleração tecnológica que aflige muitos de seus concorrentes. A demanda por smartphones e computadores caiu no ano passado, e as restrições da Covid-19 na China aumentaram os problemas da Apple durante o período de vendas de fim de ano”, observam os analistas da Levante Ideias de Investimento.
De bate pronto, o mercado reagiu mal à notícia, mas ficou aliviado com o que os executivos da empresa disseram durante a teleconferência sobre os resultados. Para o trimestre que se encerra em março deste ano, a Apple prevê um crescimento de receita maior que o registrado um ano antes.
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“Durante o 4T22, alcançamos um marco importante e estamos entusiasmados em informar que agora temos mais de 2 bilhões de dispositivos ativos como parte de nossa crescente base instalada”, afirmou o CEO, Tim Cook.
O Morgan Stanley afirma que é raro ver a Apple errar ou rever o guidance para baixo em um trimestre e acredita que os aspectos positivos de longo prazo superam os negativos de curto prazo.
Amazon (AMZO34): resultado foi considerado neutro, mas guidance decepcionou
Com a Amazon, a situação foi praticamente contrária à da Apple. Ainda que o lucro da varejista on-line tenha despencado 99,8% no trimestre, para US$ 278 milhões (3 centavos de dólar por ação), as receitas da companhia superaram as expectativas, crescendo 9%, para US$ 149,2 bilhões. O consenso Refinitiv previa US$ 145,42 milhões em receitas no período.
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Assim, o balanço foi considerado neutro. O guidance, por sua vez, decepcionou. A Amazon projeta receita entre US$ 121 bilhões e US$ 126 bilhões no primeiro trimestre deste ano, representando um crescimento de 4% a 8% na base anual. Porém, os analistas esperavam que as vendas chegassem a US$ 125,1 bilhões, de acordo com consenso Refinitiv.
A companhia ainda apontou que o lucro operacional pode seguir em queda no trimestre atual, já que as demissões em massa apenas diminuem o impacto financeiro da maior restrição de gastos dos consumidores e clientes na nuvem.
A perspectiva da Amazon está particularmente ligada ao sucesso de sua divisão de computação em nuvem. Por muito tempo uma importante fonte de lucro, a Amazon Web Services viu o crescimento das vendas desacelerar.
A divisão ficou aquém das estimativas de mais de US$ 22 bilhões em vendas no quarto trimestre, para US$ 21,4 bilhões.
Mesmo com a resposta negativa do mercado ao guidance, os analistas que acompanham a empresa se mostram otimistas com a empresa no futuro.
Na avaliação do Morgan Stanley, os números do trimestre mostraram uma pequena melhora na rentabilidade do varejo, dando mais segurança ao banco sobre ganhos futuros. Os analistas reconhecem que a empresa enfrenta um cenário macroeconômico de incertezas, mas se mantêm bullish (apostando na alta) nos papéis da empresa.
Para o Morgan, os ventos contrários vindos do cenário adverso são transitórios.
“Embora os próximos trimestres permaneçam voláteis como resultado de incertezas macroeconômicas, as narrativas de longo prazo da Amazon devem atrair os investidores com uma atraente relação risco/ recompensa plurianual”, diz o relatório do Goldman Sachs.
Alphabet (GOGL34): Apesar de queda nas receitas com publicidade, analistas destacam inteligência artificial
O lucro da controladora do Google caiu de US$ 20,642 bilhões no quarto trimestre de 2021 para US$ 13,624 bilhões entre outubro e dezembro do ano passado, uma baixa de 34% e abaixo das estimativas dos analistas.
Já a receita totalizou US$ 76,048 bilhões no 4T22, um aumento de 0,96% na base de comparação anual, mas ligeiramente abaixo (0,63%) dos US$ 76,53 esperados pelo consenso Refinitiv.
Houve uma queda generalizada nas receitas de publicidade da companhia.
A receita de publicidade no YouTube foi de US$ 7,963 bilhões (queda de 7,8% na base anual) contra estimativa de US$ 8,25 bilhões (3,5% abaixo da projeção) da StreetAccount. Já a receita do Google Cloud foi de US$ 7,315 bilhões contra projeção de US$ 7,43 bilhões.
A receita de publicidade do Google, que inclui buscas e YouTube, caiu de US$ 61,2 bilhões para US$ 59 bilhões, já que os anunciantes – os maiores contribuintes para as vendas da Alphabet – diminuíram gastos para lidar com a inflação persistente, altas taxas de juros e temores de recessão.
“Continuamos esperando novas revisões para baixo durante o primeiro semestre de 2023, o que nos mantém à margem por enquanto. Além disso, preferimos esperar a resposta do Google ao ChatGPT para ter uma noção melhor dos impactos”, escreveram os analistas do Itaú BBA, citando o serviço de inteligência artificial (IA) da Microsoft.
O Morgan Stanley diz ver o Google bem posicionado para conduzir a próxima geração de tecnologias de IA, com múltiplos produtos a serem lançados nos próximos meses.
“Ainda que esses produtos devam pressionar o fluxo de caixa da empresa no curto prazo, estamos confiantes de que a redução de pessoal e iniciativas de eficiência vão proteger o caixa da companhia”, escreveram os analistas do banco.
“Mesmo que hajam dúvidas sobre o impacto da IA nos principais produtos ou na estrutura de custos, vemos a Alphabet como líder em investimento no segmento nos últimos 5-6 anos e a empresa está bem posicionada para capitalizar esta tendência na próxima década”, diz relatório do Goldman Sachs.
Meta (M1TA34): resultado surpreendeu positivamente
A dona do Facebook reportou lucro líquido de US$ 4,652 bilhões no quarto trimestre de 2022 (4T22), um recuo de 55% frente ao resultado líquido da mesma etapa de 2021.
A receita líquida do quarto trimestre de 2022 caiu de US$ 33,671 bilhões para US$ 32,165 bilhões, uma baixa de 4% na base anual, mas acima do consenso Refinitiv, que previa receita de US$ 31,53 bilhões.
Um dos destaques do balanço foi o número de usuários ativos diários (DAUs, na sigla em inglês), que atingiu a marca de 2 bilhões.
Já receita média por usuário (ARPU, na sigla em inglẽs) foi US$ 10,86 contra US$ 10,63 esperados, de acordo com a StreetAccount.
Junto com os números, a empresa anunciou um novo programa de recompra de ações de até US$ 40 bilhões. E previsões de receita entre US$ 26 e US$ 28,5 bilhões no primeiro trimestre deste ano.
Foi um dos balanços mais comemorados da safra de resultados das big techs. Afinal, o Facebook conseguiu reverter a queda de 2% no número de usuários ativos diariamente que ocorreu em 2021.
“A Meta deu tom importante sobre o aumento do potencial de monetização em sua plataforma e um foco na eficiência em toda a organização daqui em diante”, avaliou o Goldman Sachs.
“A mudança cultural da Meta, com foco na eficiência está se refletindo em redução de opex/capex enquanto os investimentos impulsionam o crescimento”, escreveram os analistas do Morgan Stanley.
A casa continua equal weight (desempenho na média do mercado) em relação a ação da empresa, mas vai observar os drivers de crescimento da receita a partir de agora.
“Também vemos essa mudança adicionando pressão sobre Google e Amazon, para oferecer mais eficiência”.