Após Fed, China vai ao resgate das ações brasileiras – e demanda nova estratégia

JPMorgan ressalta recuperação das ações de matérias-primas, que até então não registravam bom desempenho em 2024; cautela continua para ações de consumo

Lara Rizério

Bandeira do Brasil (Imagem de JoeBamz / Pixabay)
Bandeira do Brasil (Imagem de JoeBamz / Pixabay)

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Ultimamente otimista com as ações brasileiras, a equipe de estratégia do JPMorgan – liderada por Emy Shayo – destaca que tentar encontrar um lado positivo no Brasil não tem sido tão fácil nos últimos tempos.

“Olhando friamente, a história não é convincente”, avaliam os estrategistas, ao ressaltarem que as taxas de juros locais estão subindo. Eles avaliam que se sabe como o aperto monetário começa, mas não como termina.

Após a divulgação da ata do Copom (Comitê de Política Monetária) na última terça-feira (24), os economistas do banco aumentaram suas expectativas de aumento da Selic para um total de 150 pontos-base (pb), acima dos 100 pb anteriores, estendendo o ciclo para a primeira metade de 2025. Enquanto isso, continua esperando 200 pb em cortes no 2S25, para uma taxa terminal de 10%. “No geral, fechamos o ciclo para terminar 50 pb abaixo de onde o ciclo de aperto começou”, projetam.

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Por outro lado, de uma perspectiva global, há notícias positivas, o que leva ao cenário de “forças divergentes”, que dá o título do relatório do JPMorgan sobre as ações brasileiras.

O Federal Reserve iniciou o seu ciclo de cortes de juros “com força total” na semana passada e agora foi acompanhado pelas medidas de estímulo na China anunciadas nesta semana, o que causou uma recuperação do Ibovespa.” Embora não haja evidências de que esses dois fatores tenham levado a um melhor desempenho das ações no passado, achamos que o Fed entrando em um pouso suave é um antídoto muito poderoso para o aperto monetário local. Adicione a isso a possibilidade de preços mais altos de commodities devido à China, e temos um recibo que pode permitir que o Brasil seja resgatado do labirinto local”, avaliam Emy e equipe.

O banco aponta não se sentir confortável ​​em ser positivo em ações brasileiras em um momento em que as taxas estão subindo, uma vez que o Brasil raramente tem um bom desempenho durante o período de aumentos de juros locais.

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“Houve uma tentativa do mercado de vender esse aumento como uma pequena correção para construir credibilidade e restaurar o poder da política monetária antes das mudanças na composição do comitê do BC no fim de ano. Mas agora, o propósito dos aumentos tem várias dimensões: o crescimento é muito forte, o fiscal é muito frouxo, incêndios recentes levaram a uma inflação mais alta, expectativas de inflação subiram, entre outros fatores”, apontam os estrategistas.

Desde 2008, as ações nunca tiveram um desempenho positivo durante o período de aperto das taxas de juros. Por outro lado, as ações tiveram um bom desempenho nos dois primeiros ciclos de aperto das séries de 2002-2003 e 2004-2005 porque estavam acontecendo junto com o superciclo das commodities. Mas, após seu fim, o Brasil responde como esperado com taxas mais altas: desde então, o Ibovespa cai em média 11% e apenas dois setores têm desempenho médio positivo: TI e consumo básico.

Além disso, aponta a equipe, ao contrário do que se pensa, o real também não necessariamente se valorizou nesses períodos. “Taxas mais altas = menor crescimento = menos fluxos”, lembram os estrategistas.

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Ao observarem o desempenho histórico das ações brasileiras durante a flexibilização monetária do Fed, a visão é “mista”. Ao contrário do que se esperaria, as ações brasileiras não tiveram um bom desempenho durante esses períodos na história recente, em linha com o comportamento dos principais mercados latino-americanos e nos mercados emergentes em geral.

No entanto, apontam os estrategistas, é preciso levar em consideração que as circunstâncias da flexibilização do Fed agora são diferentes das dos últimos dois ciclos. Primeiro, porque as taxas dos Fed Funds estão bem em território positivo em termos reais. Segundo, porque parece que haverá flexibilização junto com pouso suave e desinflação nos EUA, o que é um ótimo cenário para os mercados emergentes. “Em suma, pode ser que esse ciclo de flexibilização ofereça melhores retornos de ações para os mercados emergentes do que antes, mas um crescimento maior dos mercados emergentes precisará vir à tona”, apontam.

Ao traçar um paralelo com o desempenho das ações brasileiras durante períodos de alta chinesa, o banco aponta que, quando a China se recuperou, o MSCI Brasil seguiu a linha positiva em 92% dos casos. Contudo, após a pandemia, a correlação positiva não existe mais. “A menos que o estímulo gere maior crescimento na China, permitindo preços mais altos sustentáveis ​​de commodities, o Brasil pode não necessariamente se recuperar”, avaliam.

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Os fluxos podem fluir do lado positivo: no passado, maiores posições na China acabaram impulsionando os fluxos para os mercados emergentes, trazendo recursos do “pote de ações globais” de US$ 30 trilhões. Atualmente, os mercados emergentes estão em um recorde de baixa exposição (underweight, exposição abaixo da média).

Hoje, os investimentos ativos em mercados emergentes estão em uma rota de resgate de 10 semanas consecutivas. A saída no acumulado do ano é de US$ 21 bilhões. Por outro lado, houve entradas na ordem de US$ 10 bilhões. “Uma pequena mudança nos recursos de fundos globais para os mercados emergentes também se espalharia para o Brasil. De fato, após o corte do Fed na quarta-feira, houve algumas entradas estrangeiras discretas no Brasil. Resta saber se isso se consolidará como uma tendência daqui para frente”, aponta o banco.

Recentemente, o Bradesco BBI aponta que, em conversas com investidores estrangeiros nos EUA, eles aparecem como mais tolerantes à crise de confiança fiscal e monetária do Brasil do que os investidores locais, mas continuam cautelosos. Tanto locais quanto estrangeiros têm posicionamento defensivo.

Estratégia

Os estrategistas apontam que o estímulo de política local se traduz em melhor desempenho para nomes cíclicos domésticos. O estímulo de política global pode se traduzir em um risco no cenário para valor e beta (indicador de volatilidade) alto, que no Brasil se relaciona principalmente a commodities.

Enquanto isso, o banco recomenda ficar longe de cíclicos domésticos, especialmente no que diz respeito aos setores que são mais sensíveis a taxas, como varejo e construtoras.

“Por outro lado, presumimos que a ausência de uma recessão pode levar o ambiente global a resgatar ações brasileiras. Nesse caso, materiais e petróleo seriam o lugar para estar, junto com os bancos tradicionais”, avalia o JPMorgan. Para os estrategistas, a boa notícia é que essas são empresas de grande capitalização que são robustas o suficiente para atrair o capital estrangeiro de volta ao Brasil. Na verdade, o Brasil viu algumas entradas estrangeiras discretas após a flexibilização do Fed na semana passada.

As empresas de matérias-primas são o setor de pior desempenho no MSCI Brasil, com queda de 31% no acumulado do ano, enquanto a Vale (VALE3) é a segunda maior ação no Ibovespa (+11,8%), apenas um pouco abaixo das ações combinadas da Petrobras (PETR3;PETR4).

O banco lembra que já há algum tempo aponta que o maior obstáculo ao índice foi o desempenho da Vale e talvez esses dias estejam chegando ao fim, considerando o impacto combinado do Fed + China. A melhora da Vale também inclui o valuation atrativo, melhoria operacional, fluxo de caixa significativo, overhang (fatores que geram pressão nas ações) chegando ao fim, entre outros.

Além disso, o banco vê que as ações da Petrobras também podem passar por melhora (o JPMorgan elevou a recomendação para os ativos para compra), especialmente se os preços do petróleo forem sustentados: a empresa ainda oferece rendimentos de fluxo de caixa livre (FCF) atrativos, o que pode levar a dividendos mais altos. Além disso, as manchetes fiscais ruins alinham o interesse do governo com o dos acionistas minoritários, pelo menos no curto prazo.

Os bancos tradicionais também podem se mostrar resilientes a taxas mais altas, aponta o JPMorgan, citando que o Itaú (ITUB4), em particular, tende a se sair bem em um ambiente de taxas mais altas, pois tem sido diligente em termos de crescimento de empréstimos. Um aumento na NII (margem financeira) seria bem-vindo para manter os ROEs (Retorno sobre patrimônio líquido) em expansão. O Bradesco (BBDC4) é a alternativa mais barata.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.