Publicidade
Este ano foi marcado por uma série de dificuldades para o mercado brasileiro, que novamente ficou aquém das expectativas, com o índice Ibovespa apresentando uma queda de 24% em dólar, enquanto os mercados globais e emergentes seguiram em alta. Para 2025, o cenário continua incerto, com inflação em alta e expectativas de juros elevados, o que coloca em dúvida a recuperação da economia brasileira, segundo relatório da XP.
Os analistas da corretora apontam que, apesar de valuations (avaliação de valor) baixos e fundamentos sólidos nas empresas, a pressão da taxa de juros deve continuar a a fetar negativamente os mercados. O Ibovespa fechou novembro com uma queda de 3,1% em reais e 7,2% em dólares, acumulando uma desvalorização de 6,3% em reais e 24,7% em dólares no ano.
A desaceleração econômica interna, agravada pela deterioração fiscal e pela alta dos juros, impactou principalmente os setores mais cíclicos, como construtoras (-15,6%) e saúde (-11,8%), além de gerar pressões inflacionárias. Os estrategistas observam que, no mesmo período, a curva de juros se abriu fortemente, e o dólar atingiu um pico histórico de R$ 6, refletindo a perda de confiança no equilíbrio fiscal do país.
Continua depois da publicidade
Com uma visão nada animadora para 2025, a XP Investimentos mantém uma visão neutra sobre as ações brasileiras para o próximo ano. A alta das taxas de juros e a incerteza fiscal, dizem os analistas, continuam sendo os principais obstáculos para o mercado. Eles afirmam que a reforma fiscal recentemente aprovada pelo governo, com o aumento da isenção do imposto de renda, não conseguiu dissipar as preocupações dos investidores, sendo vista como um agravante para o quadro fiscal do país.
A corretora também destaca que, embora o valuation das ações brasileiras seja atraente, com um Preço/Lucro (P/L) de 8,2x, o potencial de valorização depende de uma melhoria do cenário interno. A taxa básica de juros, a Selic, projetada para ficar em torno de 15% durante boa parte do próximo ano, segundo os especialistas, ainda deverá pressionar o mercado, limitando o crescimento no curto e médio prazo.
Selic acima de 13% (de novo)
Ao considerar que a taxa Selic pode ultrapassar 13% nos próximos meses, analistas realizaram uma análise de sensibilidade para avaliar os efeitos dessa alta sobre o mercado de ações brasileiro. O estudo considera três fatores principais: impacto nos lucros, o preço sobre lucro projetado para 2025 e a alavancagem financeira, medida pela relação dívida líquida/Ebitda, métrica utilizada para avaliar a capacidade de uma empresa de pagar suas dívidas com base no seu lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização.
Continua depois da publicidade
A análise da corretora revela que alguns setores são mais sensíveis às alterações nas taxas de juros devido à sua estrutura de financiamento e à dinâmica de consumo. O setor de transportes, por exemplo, está projetado para uma queda de 19,5% nos lucros devido ao aumento da Selic, enquanto propriedades comerciais deve ver uma redução de 6,2%. Mineração e siderurgia também são setores impactados, com uma diminuição de 5,7% no lucro.
Os estrategistas afirmam que esses setores possuem uma dependência de financiamento e estão expostos às flutuações no custo do capital. Além disso, o aumento nas taxas de juros tende a afetar negativamente o consumo, o que impacta diretamente a demanda nesses setores.
Por outro lado, há setores que devem apresentar bom posicionamento diante da alta da Selic. Bens de capital, alimentos e bebidas e agro são menos sensíveis às taxas de juros, com impactos mais limitados. Bens de capital, por exemplo, registrou um pequeno aumento de 0,9%, enquanto alimentos e bebidas teve uma leve queda de 0,9%, e o agro viu uma redução de 1,5%.
Continua depois da publicidade
Esses setores se beneficiam de uma estrutura de dívida atrelada a índices diferentes da Selic, como a inflação, e têm maior proteção contra os impactos das flutuações nos juros. Além disso, empresas dessas áreas frequentemente contam com receitas dolarizadas, o que proporciona uma proteção adicional contra a alta da Selic e a valorização do dólar.
Empresas com os preços/lucros mais baixos em 2025
No que diz respeito aos P/L projetados para 2025, algumas empresas se destacam, como PetroReconcavo (RECV3), Minerva (BEEF3) e Brava (BRVA3). A PetroReconcavo (RECV3), com um P/L projetado de 2,2x, é uma das que mais se beneficiam da atual dinâmica, com uma alavancagem financeira muito baixa e receitas dolarizadas. Sua estrutura de capital e a geração de fluxo de caixa livre garantem uma boa proteção contra os impactos da Selic, segundo a XP.
Minerva (BEEF3), com um P/L projetado de 2,8x, também apresenta uma baixa alavancagem financeira, embora tenha aumentado sua dívida devido à aquisição de plantas da Marfrig (MRFG3). A maior parte de sua dívida está protegida via hedge, estratégia financeira utilizada para reduzir ou eliminar o risco de movimentos adversos nos preços de ativos, o que limita o impacto da alta da Selic.
Continua depois da publicidade
Já Brava (BRVA3), com um P/L de 4,5x, continua a enfrentar volatilidade, mas a empresa se beneficia de uma alavancagem mais controlada e um mercado que ainda tem dúvidas sobre suas metas de produção para 2025, conforme a corretora.
Quem deve ser afetado pela alta da Selic
Entre as empresas com maior alavancagem financeira, destaque para Marfrig (MRFG3), Azul (AZUL4) e Braskem (BRKM5), segundo relatório da XP. A Marfrig (MRFG3), com uma dívida líquida/Ebitda projetada de 6,4x, deve sentir um impacto considerável da alta da Selic. A empresa já enfrenta desafios financeiros, mas a dívida dolarizada e a participação na BRF (BRFS3) ajudam a mitigar os efeitos.
A Azul (AZUL4), por sua vez, com uma dívida líquida/Ebitda de 4,5x, tem sido fortemente impactada pela desvalorização do real, que aumentou consideravelmente sua dívida em dólar. Além disso, a empresa enfrenta desafios operacionais devido ao atraso na entrega de aeronaves e questões relacionadas à sua dívida, de acordo com os analistas.
Continua depois da publicidade
Braskem (BRKM5), com uma alavancagem de 3,8x, também deverá sofrer com o aumento das taxas de juros, devido ao seu alto custo financeiro e um Ebitda considerado deprimido. A companhia, no entanto, observa a corretora, espera um alívio no futuro, à medida que o excesso de oferta no mercado petroquímico diminui e os preços de importação aumentam.
Expectativas de lucros e projeções para 2025
As estimativas de lucro por ação (LPA) para as ações do Ibovespa para os próximos 12 e 24 meses foram revisadas para cima. O crescimento médio do LPA para 2024 está projetado para -1,3%, mas para 2025 a expectativa é de um aumento de 15,7%. O Ibovespa, como um todo, deve crescer 5,1% em 2024 e 14,2% em 2025, segundo projeção da corretora.
Entre os setores que mais se destacam em termos de crescimento, estão alimentos e bebidas (18,9% de crescimento esperado para 2024), educação (108,5% em 2024) e construção civil (47,6% de crescimento em 2024). Por outro lado, setores como propriedades comerciais e mineração e siderurgia devem enfrentar retrações de -48,8% e -7,2%, respectivamente.
XP altera carteira de ações
Como parte de sua estratégia, a XP ajustou sua carteira de ações, adicionando JBS (JBSS3), devido à força do ciclo de aves e à alta dolarização de suas receitas. Além disso, a corretora aumentou sua posição em Petrobras (PETR4), com o foco em empresas com receitas dolarizadas e baixa alavancagem, reduziu sua exposição ao Itaú Unibanco (ITUB4) devido ao desempenho superior da ação, e retirou Vivara (VIVA3) da carteira devido ao cenário macroeconômico desfavorável.
Além disso, a Copel (CPLE6) foi adicionada à carteira porque, segundo a corretora, demonstra sólidas perspectivas de crescimento, impulsionadas pela estratégia de foco em ativos renováveis.
SÉRIE GRATUITA
Curso de Fundos Imobiliários
Minicurso Renda Extra Imobiliária ensina como buscar uma renda passiva com Fundos Imobiliários começando com pouco