Apesar de maior produção, Vale fica suscetível à economia na China, diz analista

Os resultados operacionais da mineradora no 3º trimestre foram em linha, mas mercado aguarda clareza das medidas de estímulo da China que podem impactar a empresa

Augusto Diniz

Conteúdo XP

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Após a divulgação da prévia operacional do terceiro trimestre, Lucas Laghi, head de mineração da XP, vê melhora no desempenho da Vale (VALE3), com a produção de minério de ferro com chances de atingir 360 milhões de toneladas/ano até o final da década.

Ele se baseia na análise a partir do relatório de produção e vendas do terceiro trimestre de 2024 (3T24) da mineradora, que apresentou um crescimento da produção da commodity de 5,5% no período em relação ao mesmo trimestre do ano passado. É o maior volume registrado desde 2018.

Vale: micro e macro

“A história micro da Vale tem melhorado, apesar de ser muito suscetível ao preço de minério de ferro e à dinâmica da China. E olhando para China, tudo pode acontecer, pois é difícil cravar algum grau de certeza sobre o país”, comentou, durante o programa Morning Call da XP nesta quarta-feira (16).

Segundo o analista, quando se avaliam os números econômicos da China, eles seguem fracos. “Quando se olha os dados da atividade econômica, se cria uma preocupação ao não atingimento do guidance de crescimento para esse ano, que é de 5% para o PIB”, disse.

“E quando a gente olha os segmentos da economia que estão piores, entra o mercado imobiliário da China, que tem uma grande relevância quando se pensa no consumo de aço e, logo, no consumo de minério de ferro”, acrescenta.

Preço do minério caiu

Para o head da XP, se pegar o preço do minério de ferro em setembro, ele chegou a bater US$ 88 a tonelada, seguindo um pessimismo extremo com a commodity, muito por conta da desaceleração do segmento de properties (imóveis).

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“E aí, a China funciona assim: o fato dela (a atividade) estar negativa, cria-se a necessidade de anunciar alguma medida de estímulo para compensar aquela atividade fraca. E se tem um otimismo em cima da commodity. Foi o que aconteceu no fim de setembro”, explicou.

“Houve uma série de estímulos, por meio de financiamentos, principalmente na parte de properties, mas a gente não viu nenhum estímulo significativo pelo lado fiscal, nenhum anúncio concreto”, avaliou.

Empreendimentos imobiliários

“O preço de minério saiu de US$ 88 e foi para US$ 110 a tonelada. Mas quando teve anúncio mais concreto, desapontou o mercado e o preço do minério caiu. Vai ter uma reunião amanhã (na China), que se espera que deem mais indicativos e uma clareza de como ela vai estabilizar o segmento de properties”, comentou.

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Ele afirmou que um dado chinês que a XP olha muito são os números dos novos empreendimentos imobiliários, que demandam muito aço no início da obra.

“Esse dado está 60% para baixo, comparado com 2019. É uma queda muito significativa que a gente está vendo na parte de properties. O interessante é que a produção de aço não caiu assim, porque a parte de infraestrutura e de manufatura tem compensado”, analisou.

Mas a grande discussão, segundo o analista, é quando o setor de properties vai estabilizar. “Até então tem sido tudo muito incerto. Tem muito indicativo, mas espera-se algo mais palpável por parte do governo”, afirmou. Todo esse quadro, no fundo, cria expectativa também sobre o resultado da Vale nos próximos trimestres.