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SÃO PAULO – Apesar de seguir o que esperava a maioria dos analistas ao manter a Selic em 2% ao ano, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) chamou atenção por anunciar o fim do chamado “forward guidance” (prescrição futura).
Com esse mecanismo, o Banco Central se comprometia a não elevar os juros enquanto as expectativas e projeções de inflação de seu cenário básico se mantivessem abaixo do centro da meta no horizonte relevante. E apesar do fim dessa prescrição, analistas apontam que os juros podem não subir já na próxima reunião.
O próprio Comitê reiterou em seu comunicado que o fim do “forward guidance” não implica mecanicamente uma elevação da taxa de juros, “pois a conjuntura econômica continua a prescrever, neste momento, estímulo extraordinariamente elevado frente às incertezas quanto à evolução da atividade”.
Para a equipe da XP Investimentos, a decisão do BC foi “um pouco hawkish”, com um comunicado indicando que a autoridade monetária está “mais dependente de dados”. Para os analistas, a ênfase do comunicado nas incertezas de crescimento no primeiro trimestre, assim como o fim do “forward guidance”, mostram um BC se preparando para iniciar um ciclo de alta de juros já na primeira metade do ano.
Caio Megale, economista-chefe da XP, ressaltou que, apesar desses indícios, o BC não terá pressa para elevar a Selic. Contudo, deve antecipar o ciclo de ajuste.
“Acreditamos que a elevada incerteza sugere cautela ao reduzir o grau de estímulo. Contudo, os dados recentes – atividade melhor no final do ano passado, choque inflacionário se prolongando – e a sinalização do comunicado nos fazem acreditar que o Copom optará por antecipar o ciclo de alta de juros para maio (antes, agosto). Projetamos agora a Selic em 3,50% no final de 2021 (antes 3,00%) e 4,50% em 2022 (antes 4,00%)”, apontou em relatório (confira aqui).
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Já para Helena Veronese, economista-chefe da Consulenza Investimentos, a decisão de hoje mostrou que a piora do cenário sanitário no curto prazo fez com que o risco fiscal voltasse ao radar do BC.
“Em paralelo, a autoridade monetária não deve iniciar imediatamente seu processo de alta de juros: a atividade fraca e ainda pendente de estímulos deve fazer, a nosso ver, com que tal processo se inicie apenas no segundo semestre do ano”, aponta a economista.
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Diante dessas dúvidas sobre quando tem início o ciclo de alta de juros, Leonardo Milane, sócio e economista da VLG Investimentos, destaca que serão as expectativas sobre a velocidade do Copom em subir a Selic que irão fazer preço no mercado daqui para frente.
“Caso o IPCA continue surpreendendo positivamente e/ou o risco fiscal aumente ainda mais, o BC será forçado a acelerar a alta da Selic para patamares acima de 3,5% antes do final desse ano”, afirma.