Apesar de alívio com IPCA-15, juros longos sobem com dólar e política no radar

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro para janeiro de 2026 encerrou em 15,435% e a do DI para janeiro de 2027 subiu para 15,855%; DI para janeiro de 2029 terminou com taxa de 15,625%

Estadão Conteúdo

Notas de real sobrepostas (Foto: Daniel Dan/Pexels)
Notas de real sobrepostas (Foto: Daniel Dan/Pexels)

Publicidade

Os juros futuros tomaram caminhos distintos nesta sexta-feira (27), dia marcado por liquidez reduzida. As taxas curtas experimentaram pequeno alívio, após resultado abaixo do esperado do IPCA-15 de dezembro, embora a abertura do índice desautorize apostas em arrefecimento significativo da inflação daqui para frente.

Já os juros intermediários e longos voltaram a subir com força, ainda refletindo um ambiente político conturbado, com a queda de braço entre o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso em torno das emendas parlamentares.

A alta do dólar, na ausência de intervenções do Banco Central, e do retorno dos Treasuries de 10 e 30 anos também contribuiu para o aumento dos prêmios.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 encerrou em 15,435%, de 15,37% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 subiu de 15,637% para 15,855%. O DI para janeiro de 2029 terminou com taxa de 15,625%, de 15,274%.

O IPCA-15 desacelerou de 0,62% em novembro para 0,34% em dezembro, leitura abaixo da mediana de Projeções Broadcast (0 45%). Analistas ouvidos pelo Broadcast ponderaram que o comportamento benigno do índice cheio esconde um quadro qualitativo ainda ruim, com núcleos e serviços ainda em níveis elevados.

A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, diz que a composição do IPCA-15 não foi positiva, uma vez que a desaceleração do índice ocorreu por resultado mais baixo de passagens aéreas e preços administrados. “Em contrapartida, tanto os serviços subjacentes quanto os bens industriais apresentaram piora na margem, indicando pressão inflacionária prospectiva”, afirma Damico.

Continua depois da publicidade

Investidores também absorveram dados do IGP-M. O índice desacelerou de 1,30% em novembro para 0,94% em dezembro, ficando abaixo da mediana das estimativas (1,07%) e dentro do intervalo previsto pelo Projeções Broadcast (0,81% a 1,15%). Com o resultado, o indicador encerrou 2024 com alta de 6,54%.

“Embora o IPCA-15 tenha vindo abaixo do consenso, a qualidade da inflação está muito ruim, com as medidas subjacentes já muito contaminadas. O IGP-M sem muito refresco também mostra que tem muita inflação para chegar no varejo ainda”, afirma o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, acrescentando que, a despeito do qualitativo ruim do IPCA-15, a leitura cheia abriu espaço para um ajuste na ponta curta de juros.

Dados de emprego não tiveram impacto relevante na formação das taxas. A avaliação geral é a de que o mercado de trabalho continua forte e corrobora o quadro de crescimento acima do potencial que respalda um aperto monetário mais intenso.

Continua depois da publicidade

A PNAD Contínua mostrou que a taxa de desocupação no Brasil ficou em 6,1% no trimestre encerrado em novembro, em linha com as expectativas dos analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast. Já o Caged trouxe geração de 106.625 carteiras assinadas em novembro, perto do piso das de Projeções Broadcast, que iam de 105 mil a 150 mil vagas, com mediana de 125 mil vagas.

“Os dados do mercado de trabalho mostraram resultados mistos, ainda que continuem indicando aquecimento. A taxa de desemprego atingiu o menor nível da série histórica”, afirma Damico, da Armor.

Além da agenda carregada, investidores monitoraram a chamada crise das emendas parlamentares deflagrada após o ministro Flávio Dino, do STF, suspender o pagamento de R$ 4,2 bilhões. A previsão era de liberação desses recursos até o fim do ano. Há receio de que o imbróglio prejudique a apreciação do Orçamento de 2025, na volta do recesso parlamentar, e mine a capacidade do governo de dar andamento à sua agenda no Congresso.

Continua depois da publicidade

Como prometido ontem à noite, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), enviou hoje pela manhã documento ao STF defendendo a lisura e legalidade na distribuição das emendas. Dino disse que a Câmara deixou de fornecer “informações imprescindíveis” sobre as emendas bloqueadas e pediu novos esclarecimentos para viabilizar o pagamento dos recursos, com prazo final às 20h desta sexta-feira.