Vivara perde R$ 1,3 bi de valor de mercado com “novo” CEO: até quando vai a pressão?

Ação da companhia caiu cerca de 14% ontem após troca de comando e mercado vê acúmulo de incertezas sobre companhia

Felipe Moreira

(Shutterstock)
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A Vivara (VIVA3) anunciou na última sexta-feira (15) que Paulo Kruglensky deixou o cargo de CEO, sendo substituído por Nelson Kaufman, fundador da empresa. O anúncio foi amplamente inesperado pelo mercado e a empresa realizou uma teleconferência ontem (18) para abordar as principais preocupações do mercado – mas que não contribuiu para conter os ânimos exaltados dos investidores.

O Bradesco BBI ressalta que a ação da Vivara acelerou as perdas na véspera e fechou em baixa de mais de 14% após o evento, indicando que houve desconforto ​​com o ruído de governança gerado com a mudança inesperada de comando, ainda mais por ser uma das empresas de melhor execução na bolsa nos últimos anos, levantando questões envolvendo sua governança corporativa.

Também contribuiu para a queda das ações o fato de o mercado não estar familiarizado com Kaufman, uma vez que, na época do IPO, era seu filho quem administrava a companhia. Nelson não tinha posições nem no conselho, ressalta a Nord Research. Nesta terça (19), a queda continuou e VIVA3 fechou com queda de 4,13%, a R$ 25,32. Ainda que fechando longe das mínimas do dia (R$ 23,91), a ação acumula perdas de 17,58% em apenas duas sessões, ou uma perda de R$ 1,27 bilhão de valor de mercado no período (de R$ 7,25 bilhões para R$ 5,98 bilhões).

A Nord ressalta que Paulo Kruglensky assumiu como CEO, em fevereiro de 2021, na contramão de anos desafiadores para o varejo, a Vivara viu sua receita saltar +96%, seu Ebitda +111% e seu lucro +161%. Neste período, o market share da Vivara saltou de 13% para 19%, dominando completamente seu mercado, que ainda é extremamente pulverizado. O CEO anterior entregou bons resultados, com as ações VIVA3 subindo 55% apenas no ano passado.

Assim, com as mudanças, segundo o BBI, o sentimento de incerteza poderá manter as ações sob pressão durante algum tempo e, olhando para o futuro, indicações consistentes de disciplina de capital e de qualidade dos resultados serão as chaves para reduzir o risco e reavaliar novamente a tese.

Por um lado, (i) o ruído de governança, (ii) uma potencial mudança na direção estratégica, afastando-se de uma trajetória vencedora até agora, e (iii) o apetite de risco da nova administração relativamente à disciplina de capital são pontos que precisam de ser abordados de forma mais clara, avalia o BBI. Por outro lado, os analistas do banco ponderam que Nelson possui profundas competências e expertise e sempre foi uma voz importante na trajetória de sucesso da Vivara ao longo dos últimos anos, como fundador e acionista de referência.

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Com relação à teleconferência com investidores, o BBI destaca que (i) nenhuma mudança material na alocação de capital é esperada (segundo comentário do CFO), (ii) a indicação de Nelson é de limitar a iniciativa de internacionalização em até 5% do Ebitda, ou lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, da Vivara (aproximadamente R$ 25 milhões) e (iii) que não há nenhuma intenção de abrir “Flashy Stores”, focando sim em clientes mal atendidos.

O BBI mantém recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) e preço-alvo de R$ 43 – que sugere nenhuma grande interrupção da estratégia da nova equipe de gestão na trajetória da empresa. Contudo, tem agora com maior vigilância diante de uma mudança tão imprevisível. O banco espera ver a empresa eliminar o risco de governança e ruído operacional gerado por este evento.

Na opinião da XP, a reação negativa do papel ao anúncio reflete as preocupações do mercado acerca de possíveis mudanças na estratégia da Vivara, enquanto os investidores tiveram poucas interações com o novo CEO.

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Como resultado, a XP menciona que a mudança de CEO traz incertezas para a tese, então os próximos passos serão monitorados de perto para definir o tom da performance da ação. A instituição financeira mantém recomendação de compra, uma vez que Nelson Kaufman tem forte expertise no negócio e comentou que não deve realizar mudanças muito disruptivas estrategicamente na avaliação dos analistas.

O JPMorgan, por sua vez, disse que saiu da teleconferência com pouca visibilidade sobre os próximos capítulos, enquanto o feedback do mercado em torno dos riscos de governança e execução, em meio a uma potencial alta rotatividade, superou os aspectos positivos do discurso.

Neste contexto, o banco americano destaca que reconstruir a confiança leva tempo e dependerá da entrega de resultados acima das expectativas, enquanto as iniciativas de curto prazo são improváveis de impactar materialmente os próximos trimestres.

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As principais mensagens do novo CEO, na avaliação do JPMorgan, foram: (1) a empresa pode ser mais ágil, com maior grau de responsabilidade por parte de seus gestores, e deve haver um foco renovado na experiência em loja e na oferta/disponibilidade de produtos – trazendo o feedback dos clientes para o processo de tomada de decisão; (2) a alocação de capital atual não muda, com o foco principal permanecendo na expansão da Life, no omnicanal e na reforma das lojas Vivara; (3) a expansão internacional ainda é uma aspiração da empresa, mas não será feita por meio de uma ação transformacional.

Por fim, em termos de sucessão, segundo Kaufman, não há substitutos claros para ele na empresa neste momento. Neste contexto, ele mencionou que, à medida que a gestão se aproxima das lojas e, consequentemente, de seus gestores, novos talentos podem surgir. “O CEO também destacou que isso não é uma prioridade atual para a empresa”, afirmou o banco. “Um novo diretor de RH está ingressando na empresa e talentos internos estão sendo identificados para um potencial plano de sucessão nos próximos anos.”

O banco, assim como as outras casas, segue com recomendação overweight (exposição acima da média, equivalente à compra) para VIVA3. Apesar de manter a recomendação positiva, o ponto em comum é que o momento é de incerteza para uma das mais resilientes empresas do setor de varejo e consumo da Bolsa.