Americanas (AMER3): Rial renuncia ao comando após inconsistências contábeis de R$ 20 bi da empresa; novo CFO também deixa cargo

O Conselho de Administração nomeou de forma interina João Guerra para os cargos de Diretor-Presidente e Diretor de Relações com Investidores

Felipe Moreira Vitor Azevedo

Lojas Americanas
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A Americanas (AMER3) informou nesta quarta-feira (11) que encontrou numa análise preliminar o que chamou de “inconsistências contábeis” da ordem de R$ 20 bilhões ligadas à conta de fornecedores. Após a detecção dessas inconsistências, o presidente-executivo, Sergio Rial, decidiu deixar a companhia.

O grupo de varejo afirmou que, apesar de não conseguir determinar todos os impactos do problema no balanço da empresa “neste momento”, acredita que “o efeito caixa dessas inconsistências seja imaterial”.

Como referência, o atual valor de mercado da Americanas é de cerca de R$ 11 bilhões.

A Americanas afirmou que a decisão de Rial de sair da empresa ocorreu por conta da “consequente alteração de prioridades da administração” e que ele continuará como assessor dos acionistas de referência, os bilionários Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles.

As inconsistências foram detectadas em lançamentos contábeis redutores da conta de fornecedores em anos anteriores, incluindo 2022, e a cifra de R$ 20 bilhões refere-se à data-base de 30 de setembro passado, afirmou a Americanas no fato relevante.

Segundo a empresa, dona de sites de varejo como Submarino e Americanas.com e da Ame, a contabilidade identificou “operações de financiamento de compras em valores da mesma ordem acima, nas quais ela é devedora perante instituições financeiras e que não se encontram adequadamente refletidas na conta fornecedores nas demonstrações financeiras”.

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André Covre, diretor financeiro e de relações com investidores, também renunciou ao seu cargo na varejista. Tanto Rial quanto Covre foram empossados em 2 de janeiro 2023 e a saída tem efeito imediato.

A chegada de Rial, que ficou apenas 10 dias no comando da Americanas, era carregada de expectativas. Esperava-se que o executivo, ex-presidente do Santander Brasil (SANB11), trouxesse novas ideias para a varejista. Além disso, com a experiência que possui no setor financeiro, a projeção era de que Rial contribuísse significativamente para o avanço da Ame, a plataforma financeira da Americanas.

Com a saída de Rial e de Covre, o Conselho de Administração nomeou interinamente João Guerra para os cargos de presidente e diretor de RI. A empresa apontou que o executivo conta “com ampla trajetória na companhia nas áreas de tecnologia e recursos humanos, e não envolvido anteriormente na gestão contábil ou financeira”.

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O Conselho decidiu ainda criar um comitê independente para apurar as circunstâncias que ocasionaram as referidas inconsistências contábeis, que terá os poderes necessários para a condução de seus trabalhos.

Em carta a funcionários obtida pelo InfoMoney, Rial apontou que Guerra atuará no cotidiano da empresa até a finalização dos trabalhos de identificação de todas as inconsistências. “A posição de caixa é sólida em mais de R$ 8 bilhões e seguiremos pagando nossos fornecedores no prazo estipulado, [assim como] todas as nossas obrigações”, afirmou. Ele definiu a fase atual da empresa como árida e penosa por conta do ajuste e impacto do mercado, afirmando que o compromisso dos funcionários é crucial no momento.

As primeiras análises de mercado trazem uma visão negativa para a ação, mas também pontuando incertezas sobre quais são os efeitos dessas inconsistências contábeis.

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Anderson Meneses, CEO & Fundador da Alkin Research, destaca que a notícia surpreende bastante, já que Rial não completou nem uma quinzena na empresa. A ação vinha subindo nas últimas semanas, após um 2022 de forte queda para os ativos, com as ações entre as maiores perdas do Ibovespa.

Segundo Meneses, a notícia pode favorecer alguns pares do setor, porque quem busca exposição ao varejo, agora, dificilmente o fará pela Americanas. “Por enquanto, ainda não temos a determinada escala desse anúncio”, avalia.

Leandro Siqueira, sócio fundador da Varos Research, aponta que o fato relevante que a Americanas divulgou não é tão claro e a  própria empresa provavelmente está tentando entender o que aconteceu. “Só teremos uma visibilidade maior quando eles emitirem seu balanço, que eles vão ter que fazer isso. O mercado deve massacrar as ações”, avalia.

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De acordo com Siqueira, parece que Americanas deixou de registrar uma das contas do negócio que chama risco sacado, quando a empresa compra os produtos do fornecedor e ao invés de pagar nos próximos 90 dias, negocia com o banco para fazer um adiantamento para o fornecedor. O banco adianta e a varejista fica com a contraparte. “Parece que a Americanas removeu da conta de fornecedores a parte que o banco adiantou, mas não colocou a outra parte.”

(Com Reuters)