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SÃO PAULO (Reuters) – O ex-presidente-executivo da Americanas (AMER3) Sérgio Rial afirmou nesta terça-feira, em depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, que teve dificuldade de obter informações da gestão anterior da varejista durante a transição no comando da empresa e que, ao descobrir o rombo contábil na companhia, precisava extrair as informações “a conta-gotas” do departamento de contabilidade.
Rial foi convidado para falar sobre a crise na varejista em uma sessão da CAE para a qual também foram chamados o atual presidente-executivo da Americanas, Leonardo Coelho Pereira, e o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Ferreira, entre outros.
“O presidente anterior (Miguel Gutierrez), que tem vasta experiência como eu já mencionei, não fez a sua sucessão”, disse Rial aos senadores, lembrando que foi anunciado como presidente-executivo da companhia em agosto de 2022 para assumir o posto em 1º de janeiro deste ano.
“Era uma pessoa com características de CEO, tendo estado na empresa há tanto tempo, centralizador, no sentido de que as informações eram muito bem controladas, vamos dizer, por ele juntamente com sua diretoria”, disse Rial sobre Gutierrez, que atuou na Americanas por cerca de 30 anos, sendo cerca de 20 na presidência-executiva.
Rial disse que teve 21 reuniões com Gutierrez — que expressou, segundo relatou, preocupação com a possibilidade de dualidade no comando da empresa no período de transição –, além de visitar um único centro de distribuição da companhia e algumas poucas lojas com o então presidente da empresa.
“Nunca, nunca de maneira que eu pudesse entender prospectivamente o tamanho do desafio, principalmente financeiro que eu estaria encontrado”, relatou.
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Segundo Rial, que pediu demissão da presidência-executiva da Americanas cerca de 10 dias após ser empossado no cargo, Gutierrez não quis que o executivo participasse de reunião de fechamento do ano da companhia, medida que o ex-presidente da varejista classificou de “pouco comum”.
“Até o dia 26 de dezembro (de 2022) não se sabia prospectivamente o que seriam os resultados da Americanas para 2022. Na realidade, não sabemos até hoje. Na realidade o quarto trimestre, até agora, não foi publicado”, disse.
A Americanas anunciou na semana passada adiamento da publicação de seus resultados do ano passado, previstos para esta semana, em meio ao processo de apuração dos números no âmbito da recuperação judicial.
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Não foi possível obter um comentário de Gutierrez de imediato.
Rial disse ter tomado conhecimento do rombo contábil na empresa em 4 de janeiro, quando dois diretores disseram a ele que a dívida bancária da Americanas não foi devidamente contabilizada na rubrica “bancos” do balanço.
“Ou seja, a dívida bancária da empresa que, no terceiro trimestre era de 19 bilhões de reais… a dívida bancária dessa empresa se torna 35, 36 bilhões de reais, com um patrimônio líquido de 16. E, a partir daquele momento, eu tenho absoluta consciência de que a empresa tinha uma estrutura patrimonial de insolvência”, disse.
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A partir daí, afirmou, buscou entender a origem das incongruências e novamente enfrentou dificuldades em obter informações.
“Do dia 4 ao dia 11 (de janeiro) eu não recebi algo no papel, eu não recebi algo como fosse um mapa, eu extraía as informações a conta-gotas dia após dia de maneira incessante com o ex-diretor financeiro. Não havia uma predisposição ‘deixa eu lhe explicar tudo o que aconteceu, deixa eu lhe explicar tudo como aconteceu e por que aconteceu’. Nada disso”, disse.
ACIONISTAS PRINCIPAIS
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Rial também buscou eximir de responsabilidade os três principais acionistas da Americanas — Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira — afirmando que eles demonstraram choque e surpresa com a revelação do rombo na companhia. Ele disse ainda ter certeza que os principais acionistas “continuarão a dar credibilidade para a empresa”.
Na mesma audiência, o atual presidente da varejista, Leonardo Coelho Pereirra, defendeu o plano de recuperação judicial da companhia e manifestou confiança no sucesso da medida.
“O fundamental é: existe possibilidade de recuperação desse ativo”, disse, acrescentando que a Americanas “aguentou muita malcriação nesses últimos 20, 30 anos”.
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Ele disse que a empresa de auditoria PriceWaterhouseCoopers segue atuando na companhia, mas agora com uma “auditoria sombra” que está sendo realizada pela Deloitte. O executivo acrescentou que não pode fazer prejulgamento sobre o que ocorreu na empresa e que lhe cabe assegurar a manutenção da Americanas e aguardar o resultado das investigações.
Questionado sobre a possibilidade de fraude, ele disse que “talvez seja essa a conclusão, mas eles precisam terminar o trabalho.”
Pereira disse ainda que o departamento financeiro da empresa foi reconstruído e que vem trabalhando para refazer o balanço da companhia. “Hoje nós temos duas auditorias fazendo a checagem dos números”, disse.
“A Americanas, depois da recuperação judicial, não pode errar mais”, acrescentou.