O lucro bruto no ano foi de aproximadamente R$ 5,0 bilhões e a margem bruta atingiu a marca de 19,5% da receita líquida, “impactada pelo real custo de mercadorias vendidas, que já não contava com a fraude de lançamentos de contratos fictícios de VPC que reduziam o custo”, explica a Americanas. “Outro impacto relevante foi a provisão de obsolescência de estoques no valor de R$ 744 milhões, que teve contrapartida na linha de custos de mercadoria vendida.”
As despesas gerais e administrativas, por sua vez, atingiram a marca de R$ 9,0 bilhões, representando 35,0% da receita líquida e constituída por R$ 4,8 bilhões de despesas com vendas e R$ 4,2 bilhões de gerais e administrativas.
O resultado financeiro consolidado do exercício social de 2022 foi negativo em R$ 5,2 bilhões, um salto de 230,7% sobre as perdas financeiras do ano de 2021.
A varejista destaca que o valor “já considera as despesas de juros dos contratos de risco sacado e contratos de capital de giro devidamente contabilizados”.
No ano de 2022, a Americanas aumentou significativamente sua dívida bruta, ao mesmo tempo em que reduziu os níveis de caixa e recebíveis, resultando em uma dívida líquida de R$ 26,3 bilhões, o que representa uma variação de mais de R$ 12 bilhões comparado com 2021.
A companhia, responsável por um dos maiores pedidos de recuperação judicial da história do Brasil, também revisou o resultado operacional medido pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de 2021 de R$ 2,3 bilhões positivos para R$ 1,8 bilhão negativo. O Ebitda de 2022 ficou negativo em 6,2 bilhões de reais.
Com relação ao capital de giro, a varejista apresentou uma piora de R$ 1,2 bilhão na comparação anual, com a redução dos recebíveis não sendo suficiente para compensar a redução do financiamento dos estoques.
O resultado operacional negativo da Americanas ao longo do ano de 2022, considerando os ajustes extraordinários que impactaram o balanço, levou a um patrimônio líquido negativo de R$ 26,7 bilhões em 31 de dezembro de 2022.
Revisões de 2021
Sobre 2021, ao revisar o lucro de R$ 544 milhões para prejuízo de R$ 6,2 bilhões, a companhia apontou que o principal impacto vem de ajustes de R$ 5,459 bilhões no Ebitda. O Ebitda recorrente ficou negativo em R$ 1,780 bilhão, representando uma correção negativa de R$ 4,077 bilhões em relação ao Ebitda de R$ 2,3 bilhões divulgado originalmente, conforme destacado acima.
A receita líquida somou R$ 22,521 bilhões, conforme o novo balanço, implicando em uma revisão negativa de R$ 175 milhões em relação aos R$ 22,696 bilhões reportados em fevereiro de 2022.
O resultado de caixa líquido de R$ 1,738 bilhão no balanço de 2021 anterior foi revisado em R$ 15,583 bilhões, passando a uma dívida líquida de R$ 13,945 bilhões, conforme os ajustes apresentados.
De acordo com o release do resultado, o perfil de endividamento teve uma mudança relevante em consequência dos ajustes da fraude. Os contratos de risco sacado e de empréstimo de capital de giro, indevidamente contabilizados na conta de fornecedores, foram reclassificados para endividamento, o que resultou no aumento de R$ 15,6 bilhões na dívida bruta.
A companhia explicou ainda que houve a necessidade de reclassificação de todas as dívidas de longo prazo para curto prazo, em decorrência dos efeitos dos demais ajustes, passando, mesmo as mais longas, a serem exigíveis em curto prazo.
Projeções para 2025
A companhia ainda divulgou projeções para 2025 levando em conta uma eventual aprovação do plano de recuperação judicial atualmente sendo negociado com os principais credores da empresa.
Segundo a Americanas, a expectativa é de Ebitda de mais de R$ 2,2 bilhões em 2025, com uma alavancagem medida pela relação dívida líquida/Ebitda de menos de 0,75 vez.
Além disso, a companhia espera atingir uma dívida bruta financeira entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão e que o patrimônio líquido volte a ficar positivo.
Com os números divulgados, a prioridade agora é tentar chegar a um acordo com credores para salvar a rede de varejo. As demonstrações contábeis são peça essencial para os credores entenderem a viabilidade operacional da Americanas, comenta um banqueiro que ainda vai avaliar os números, segundo ele, “com lupa”. Um dos pontos de mais interesse é ver as aplicações do endividamento e dos níveis de alavancagem.
Após o rombo, revelado em 11 de janeiro, a publicação do balanço de 2022 foi anunciada para março. Depois, postergada para agosto, em seguida para outubro e depois para 13 de novembro. Na madrugada do dia 13, foi novamente adiada para esta quinta (16).
(com Reuters e Estadão Conteúdo)