A Americanas (AMER3) afirmou nesta quinta-feira (19) que, embora ainda não tenha sido decidido, avalia entrar com um pedido de recuperação judicial em caráter de urgência “nos próximos dias” ou “nas próximas horas” diante de sua posição de caixa, uma semana após revelar um escândalo contábil de pelo menos R$ 20 bilhões.
A empresa apontou que, apesar de a Justiça do Rio de Janeiro determinar o bloqueio de R$ 1,2 bilhão da companhia em favor do BTG Pactual (BPAC11), a posição de caixa da companhia é de “apenas R$ 800 milhões”, sendo que “parcela significativa deste valor estava injustificadamente indisponível para movimentação pela Companhia na data de ontem (dia 18)”.
Na véspera, o BTG conseguiu na Justiça o direito de bloquear R$ 1,2 bilhão da Americanas sob custódia do banco, conforme decidiu o desembargador Flávio Marcelo Fernandes, da segunda instância do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ).
No mesmo dia, a Americanas informou que o Bradesco (BBDC4) reteve mais de R$ 450 milhões do caixa da companhia, o que, segundo a varejista, descumpre a proteção que a empresa obteve da Justiça contra o bloqueio de bens.
Segundo reportagem do Valor, Itaú (ITUB4) e Safra pediram à Justiça nesta quarta-feira que a Americanas só possa sacar dinheiro depositado em contas nesses bancos com autorização judicial.
“A companhia segue na busca por uma solução de curto prazo com os seus credores, para manter seu compromisso como geradora de milhares de empregos diretos e indiretos, amplo impacto social, fonte produtora e de estímulo à atividade econômica, além de ser uma relevante pagadora de tributos. A Americanas espera que os credores também se comprometam na busca de soluções”, destacou a varejista em comunicado.
A companhia também informou que o comitê independente criado para apurar o rombo bilionário já conta com uma substituição de integrante: Eduardo Flores, contador e ex-presidente do conselho fiscal da rival Via (VIIA3), foi nomeado no lugar de Pedro Mello. A Americanas não informou o motivo da troca.
Desde a divulgação de inconsistência contábil de R$ 20 bilhões, as ações da Americanas já caíram 85,50%, registrando uma baixa de 8,4% apenas na última quarta-feira.
Analistas de mercado destacaram nos últimos dias que o processo de RJ da varejista parecia iminente, ainda mais levando em conta a dificuldade de negociação com os credores.
Em relatório recente, a XP destacou que, com base em dados passados de recuperação judicial, vê quatro principais implicações não muito positivas para a Americanas (e para as suas ações) frente a uma recuperação judicial.
A empresa ficaria nesse estado delicado por um período longo, de no mínimo três anos. Sairia do Índice Bovespa (Ibovespa), porque deixaria de cumprir exigências para pertencer ao principal índice da B3, o que pode impactar negativamente a liquidez.
A “arrumação da casa”, ou seja, o rebalanceamento da estrutura de capital pode ser feito por venda de ativos, renegociação de dívidas, conversões de dívidas em ações e aumento de capital. No entanto, a dissolução da companhia não é descartada.
Em meio a tudo isso, espera-se muita volatilidade. “As ações tendem a sofrer durante processos de recuperação judicial, uma vez que as medidas são focadas nos credores e são geralmente diluitivas aos acionistas”, escreveram os analistas Daniela Eiger, Gustavo Senday e Thiago Suedt.