Americanas (AMER3): como o mercado viu confirmação de fraude por comitê da varejista

Para o Instituto Empresa, o resultado da investigação da Americanas precisa ser divulgado ao mercado

Equipe InfoMoney

Loja da Americanas (AMER3) no shopping Market Place, na zona sul de São Paulo (Lucas Sampaio/InfoMoney)
Loja da Americanas (AMER3) no shopping Market Place, na zona sul de São Paulo (Lucas Sampaio/InfoMoney)

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A Americanas (AMER3) anunciou na noite de terça-feira que uma investigação de um comitê independente encontrou a fraude contábil que acabou levando a companhia a de 95 anos a um fazer um dos maiores pedidos de recuperação judicial da história do Brasil em janeiro do ano passado.

A Polícia Federal está conduzindo uma investigação sobre a fraude de R$ 25,3 bilhões na Americanas.

“As evidências apresentadas pelo comitê confirmam a existência de fraude contábil, caracterizada, principalmente, por lançamentos indevidos na conta fornecedores, por meio de contratos fictícios de VPC (verbas de propaganda cooperada) e por operações financeiras conhecidas como ‘risco sacado’, dentre outras operações fraudulentas e incorretamente refletidas no balanço da companhia”, disse a Americanas em documento à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

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A varejista disse que tomará as medidas necessárias para informar as autoridades sobre as conclusões do comitê independente. A também disse que “continuará colaborando integralmente com as investigações em curso”.

O ex presidente-executivo da Americanas, Miguel Gutierrez, um dos principais alvos da investigação policial, foi brevemente preso em Madri no mês passado pela polícia espanhola antes de ser liberado. As autoridades brasileiras estão buscando sua extradição da Espanha, onde ele vive atualmente.

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Anna Saicali, ex-executiva da Americanas envolvida na suposta fraude contábil, entregou seu passaporte à polícia, o que a impede de deixar o Brasil por enquanto.

Os advogados que representam Gutierrez e Saicali disseram em declarações separadas que seus clientes negam qualquer irregularidade e estão colaborando com a investigação.

A história da varejista

A Americanas foi fundada em 1929 em Niterói (RJ) por um grupo que incluía empresários austríacos e norte-americanos.

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Os bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, adquiriram posteriormente uma participação dominante na empresa. Os três, que não foram citados na investigação policial, atualmente possuem cerca de 30% das ações e concordaram em colocar capital adicional para resgatar a empresa em dificuldades, o que vai elevar a parcela deles na companhia para 49,2% do capital social.

“Estou cético quanto ao futuro da Americanas, quanto à sustentabilidade de seu modelo de negócios”, disse o consultor André Pimentel, sócio-gerente da Performa Partners, que trabalhou em uma reestruturação da Americanas no início dos anos 2000.

A empresa vem lutando há anos contra a concorrência feroz de rivais mais experientes na Internet, como o Mercado Livre (MELI34); locais, como o Magazine Luiza (MGLU3), e mais recentemente contra grupos asiáticos como Aliexpress, Shopee e Shein.

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Expectativa por divulgação

Para o Instituto Empresa, o resultado da investigação da Americanas precisa ser divulgado ao mercado. “A companhia precisa revelar quais foram as questões que levaram a esta conclusão. É preciso dar transparência ao conteúdo do relatório por uma fraude que atingiu mais de 140 mil acionistas”, defende Eduardo Silva, presidente da entidade que defende os investidores minoritários e ingressou com arbitragens contra a companhia e seus controladores.

“Além de quem executava a fraude, precisamos saber quem eram os eventuais beneficiados de um esquema que remonta a 2007. Aliás, segundo decisão da B3 havia falhas inadmissíveis de controle que recaem sobre os principais acionistas. Tanto que a Americanas foi suspensa do Novo Mercado da B3”, comenta Silva.

Ele também defende que a única forma de os investidores obterem um ressarcimento no caso da Americanas é buscar reparação por meio de arbitragem. “Através de estruturas coletivas, os minoritários podem ver seu direito discutido nas arbitragens que são impositivas por força dos Estatutos de muitas Companhias de capital aberto. Ainda que individualmente minoritários pudessem arcar com os custos da Câmara, os valores são proibitivos e se trata de uma advocacia altamente especializada”, observa. O presidente do Instituto Empresa faz a ressalva que o processo arbitral também tramita em sigilo.

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As ações da Americanas exibiam alta de cerca de 9% nesta quarta-feira, cotadas a R$ 0,72.

(com Reuters)