Americanas (AMER3): ação sobe 6,25% após divulgar resultados ajustados de 2021 e 2022; quais são os próximos passos da varejista?

Analistas seguem cautelosos com ação, apesar de verem progressos com divulgação de balanços, e veem desafios para guidance de 2025

Equipe InfoMoney

Fachada da Americanas (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)
Fachada da Americanas (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

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A despeito do baixo valor de face dos ativos, que fazem com que variações de centavos virem grandes variações percentuais, o desempenho dos ativos da Americanas (AMER3), em recuperação judicial, na sessão pode ter surpreendido boa parte dos investidores.

Os papéis fecharam com ganhos de 6,25%, a R$ 0,85, após uma máxima de R$ 0,89 (+11,25%) após a apresentação dos balanços de 2021 e 2022, além de projeções para 2025.

Isso porque, após uma série de adiamentos, a companhia revisou o seu lucro líquido de R$ 544 milhões registrado em 2021 para prejuízo de R$ 6,2 bilhões. A empresa também calculou em R$ 12,9 bilhões o resultado negativo de 2022.

O prejuízo do ano passado deve-se a “fraco desempenho operacional, elevada despesa financeira e relevantes lançamentos extraordinários”, afirmou a companhia, reafirmando que foi “vítima de uma fraude sofisticada”, apesar da gestão anterior ter ficado sob comando da rede de varejo por cerca de duas décadas.

Porém, cabe ressaltar que a divulgação dos balanços é importante para que os principais credores da Americanas – que incluem bancos como Bradesco (BBDC4), Banco do Brasil (BBAS3), BTG Pactual (BPAC11), Itaú Unibanco (ITUB4) e Santander Brasil (SANB11) – possam dar andamento às discussões para aprovação do plano de recuperação judicial da companhia.

A proposta atualmente prevê uma capitalização de R$ 12 bilhões em dinheiro na empresa pelos chamados “acionistas de referência”, o trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Carlos Sicupira e Marcel Telles.

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A Americanas, responsável por um dos maiores pedidos de recuperação judicial da história do Brasil, também revisou o resultado operacional medido pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de 2021 de cerca de R$ 2,1 bilhões positivos para R$ 3,4 bilhões negativos. Em termos recorrentes, o Ebitda de 2021 passou de R$ 2,3 bilhões positivos para R$ 1,8 bilhão negativo.

O Ebitda de 2022 ficou negativo em R$ 6,2 bilhões, sendo que o recorrente ficou em R$ 2,9 bilhões também negativos.

Segundo a companhia, “os números das demonstrações financeiras também refletem, agora, a estimativa mais realista e transparente da realização dos ativos e passivos da companhia, com a necessidade de ajustes e provisões adicionais”.

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A companhia ainda divulgou projeções para 2025 levando em conta uma eventual aprovação do plano de recuperação judicial atualmente sendo negociado com os principais credores da empresa.

Segundo a Americanas, a expectativa é de Ebitda de mais de R$ 2,2 bilhões em 2025, com uma alavancagem medida pela relação dívida líquida/Ebitda menor de 0,75 vez.

A empresa afirmou que o plano “estratégico” de recuperação da empresa é focado “na fortaleza e resiliência do canal físico, complementado pela excelência operacional do digital”, de maneira semelhante como rivais como Casas Bahia (BHIA3) e Magazine Luiza (MGLU3), que estão centrando esforços já há alguns anos em complementar operações de lojas físicas com eficiências geradas por operações online.

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A Americanas também afirmou que o plano será complementado por um “portfólio de serviços financeiros customizados da (fintech) Ame e pela diversidade de mídia de nossa área de ‘advertising’ para gerar um pacote consistente de entregas a nossos clientes e parceiros”, também de maneira semelhante com esforços de rivais.

A rede afirma ainda que espera que com as ações “estará pronta para renovar seu papel de relevância no varejo brasileiro”, apesar de o varejo nacional estar pressionado pelo crescimento de grupos internacionais como Shopee e Aliexpress em um ambiente de baixo crescimento e juros ainda elevados.

A Americanas terminou 2022 com dívida líquida de R$ 26,3 bilhões, crescimento de mais de R$ 12 bilhões comparado com 2021, e patrimônio líquido negativo de R$ 26,7 bilhões. Ainda assim, a companhia estima voltar a patrimônio líquido positivo até o final de 2025.

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Segundo a companhia, a BDO RCS prestou serviços de auditoria externa do exercício de 2022 e reapresentação das informações comparativas de 2021. Antes da crise na empresa, a PwC prestava serviços para a Americanas.

Na visão do estrategista Filipe Villegas, da Genial Investimentos, a divulgação dos dados “acaba, entre aspas, sendo ‘positivo'”, pois o mercado consegue fazer conta. “Por mais que isso aqui tenha sido péssimo, muito ruim, eu vejo que o mercado, se quiser, pode olhar o copo meio cheio no sentido de que eu já sei o tamanho do buraco, já sei o tamanho do prejuízo e agora, daqui para a frente, qual é o tamanho do desafio”, afirmou.

“Nós vemos que essa valorização é resultado das expectativas do mercado com o plano de reestruturação”, avaliou para a Reuters o analista Luis Novaes, da Terra Investimentos. “Alguns investidores podem estar vendo potencial na empresa, considerando seu atual patamar de preço e assim decidem entrar nesse investimento arriscado.”

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Ele ressaltou, contudo, que ainda há muitas incertezas para projetar qualquer recuperação da companhia e, mesmo no nível atual em que o ativo é negociado, enxerga um investimento na empresa como arriscado.

Fernando Ferrer, analista da Empiricus Research, destaca ainda a melhor visão com o balanço fechado de 2022. “Houve prejuízo de 12,9 bilhões em 2022 e de 6,2 bilhões em 2021, ou seja, mais de R$ 19 bilhões nesses dois anos, além de uma dívida líquida de 26,3 bilhões. Então, obviamente, uma situação bem difícil”, aponta.

Porém, há um ponto importante. Segundo uma reportagem do jornal ‘Valor Econômico’, a Americanas e seus bancos credores devem chegar a um acordo em até 15 dias. Segundo analistas, dois pontos serão analisados com atenção: a condição da dívida e a alavancagem da empresa

“Uma das exigências dos bancos é que os balanços de 2021 e 2022 fossem fechados. Com essa divulgação, mesmo com números péssimos, há um avanço. Conseguimos ver uma luz no fim do túnel e os bancos concordando em chegar a um acordo, com uma capitalização de R$ 12 bilhões por parte dos acionistas de referência”, avalia.

Além disso, quando se olha as projeções divulgadas tanto de Ebitda quanto de endividamento, além de outras métricas para 2025, se confirma que a ideia é ter uma empresa menor, porém saudável, cita Ferrer.

“Então o que espero é fechamento de loja, redução mesmo do tamanho da companhia e da estrutura para realizar essa recuperação judicial e o turnaround na sequência”, aponta.

Contudo, 2023 mostra empresa perdendo relevância em meio a um cenário difícil para o varejo. Assim, o analista não vê a ação como atrativa, destacando preferência no setor pelo Mercado Livre (MELI34), que tem crescido bastante com as dificuldades da Americanas e também das Casas Bahia (BHIA3).

Victor Bueno, sócio e analista de ações da Nord Research, por sua vez, não vê como um avanço a apresentação dos resultados da empresa, principalmente os resultados reajustados de anos anteriores.

“Considero como uma obrigação da empresa divulgar esses números atualizados, números reajustados, para trazer ali uma certa transparência com os seus acionistas, coisa que infelizmente não aconteceu nesses últimos tempos em que foram detectadas tantas fraudes contábeis”, avalia.

Já sobre o guidance para 2025, Bueno acredita que seja bastante otimista e que a empresa terá que confirmar sistematicamente ao longo dos próximos semestres. “Ela vai  até 2025 ter que dar provas claras e concretas de que pode atingir esse objetivo”, aponta.

O analista aponta que o mercado de uma forma geral acaba ficando bastante receoso com relação a essa projeção. “A empresa vai ter que realmente confirmar, trazer provas muito claras de que pode atingir esses objetivos e voltar a trazer valor para os seus acionistas. (…) Enfim, ela vem fechando lojas, a operação vem sofrendo bastante, tem que demitir funcionários, então vai ter que também reestruturar as suas operações para conseguir atingir essa meta, senão não vai conseguir”, aponta.

O analista cita também o cenário macro, com a empresa atuando em um setor extremamente ligado ao ambiente de juros. “Mesmo que a gente esteja em um ciclo de queda da Selic, os juros vão continuar em patamares bastante elevados, isso vai continuar comprimindo o consumo da população e consequentemente comprimindo e pressionando o resultado da companhia, exatamente o que a gente vem acompanhando para outras empresas como a Magalu e Casas Bahia”, aponta.

(com Reuters e Estadão Conteúdo)