Ambev mostra sua força e ações saltam 8,88% após balanço, mas por que alguns analistas seguem céticos?

Inovação no portfólio e a estratégia digital estão dando cada vez mais frutos, mas alta de custos e competição seguem no radar da companhia

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Para quem já esperava um resultado forte da Ambev (ABEV3), com expectativa de ganho de participação de mercado após os fracos números da Heineken no Brasil (veja mais clicando aqui), os números da companhia brasileira de bebidas não decepcionaram – muito pelo contrário.

Após o resultado, as ações chegaram a saltar 9,62%, a R$ 16,29 na máxima do dia, fechando a sessão desta quinta em alta de 8,88%, a R$ 16,18, com números que chegaram a superar as estimativas mais otimistas.

Mais além do lucro 125,7% acima na comparação anual, totalizando R$ 2,73 bilhões no primeiro trimestre de 2021, a AmBev registrou mais um trimestre sequencialmente forte, conforme destaca a XP, com um lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) normalizado de R$ 5,38 bilhões (alta de 26% na base anual e 22% do consenso dos analistas de mercado) com uma margem Ebitda (Ebitda sobre receita líquida) de 32%% (queda de 157 pontos base na comparação anual, mas  169 pontos-base acima do esperado pela XP).

Conforme destacam os analistas Leonardo Alencar e Larissa Pérez, com a companhia mantendo a excelência operacional como sua vantagem competitiva principal, a inovação no portfólio e a estratégia digital estão dando cada vez mais frutos, impulsionando o desempenho da empresa.

Dentre os frutos, avaliam, os produtos lançados há apenas um ano já teriam garantido uma posição entre os top 5 mais vendidos pela empresa, a exemplo da Brahma Duplo Malte, que contribui positivamente para um crescimento de 16% no ano nos volumes de Cerveja Brasil, um dos destaques do resultado.

A alta do volume de vendas de cerveja no Brasil ficou levemente abaixo da expectativa dos analistas, que era de 18%, mas o Ebitda normalizado superou o projetado em 24%, totalizando R$ 2,26 bilhões, mostrando números sólidos apesar do cancelamento do Carnaval juntamente com o ritmo lento de reabertura da economia e redução do auxílio emergencial.

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O destaque ficou, além do forte desempenho da Brahma Duplo Malte e para o portfólio premium crescendo quase 20%, para o crescimento de um dígito alto (cerca de 9%) para as marcas convencionais.

“Ou seja, mais uma vez vimos uma estratégia comercial bem-sucedida em Brasil Cerveja, com um aumento de preços mais fortes do que esperávamos em cima de uma base de volume sólida”, destacam Alencar e Larissa.

Assim, reforçam, as três principais estratégias implementadas em 2020 permanecem em vigor: aumentos de preços, inovação de portfólio e promoções inteligentes.

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De acordo com Larissa e Alencar, o forte ritmo de inovação não é só em produtos, mas principalmente em seu processo comercial: o Zé Delivery, por exemplo, recebeu 14 milhões de pedidos neste trimestre, mais da metade do volume consolidado de 2020, compensando eventuais fraquezas decorrentes do ambiente macroeconômico mais complicado. Além disso, 65% da base de clientes da AmBev já usa o serviço BEES, dentre outras iniciativas.

Eles ainda apontam que, no geral, o segmento core-plus (intermediário entre as marcas populares e as marcas premium) apresentou forte crescimento em todas as geografias, o que foi uma surpresa bastante positiva dado que ainda passamos por um momento muito desafiador, com um ritmo de vacinação mais lento do que o esperado impedindo a aceleração da reabertura de bares e restaurantes.

O volume no Brasil, somando cerveja e não alcoólicos, cresceu 12%, com preços crescendo 12,5%; na América Central (CAC), volumes aumentaram 10% e preços em reais 38%. Já na América do Sul, volumes aceleraram 12,5% e preços 19%; já o volume do Canadá aumentou 3% e preços 31% em reais.

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O Bradesco BBI aponta que a receita, o Ebitda e o lucro líquido da empresa ficaram acima do consenso, sendo que a receita líquida ficou 11% acima das estimativas, devido principalmente a uma média 9% mais alta de preços do que esperávamos

Dentre os preços, o Brasil foi o destaque, com a Ambev continuando a se beneficiar de um ambiente competitivo favorável, com concorrentes enfrentando restrições de capacidade e escassez de embalagens – como foi o caso da Heineken no primeiro trimestre.

Já a XP destaca que a surpresa negativa em meio a um resultado positivamente surpreendente foi a divisão de não-alcoólicos do Brasil, que apresentou resultados pressionados, com um Ebitda normalizado de R$ 295 milhões, queda de 5% ao ano e 19% abaixo do esperado pela XP, por conta de  preços 4% mais baixos do que o esperado, custos 4% mais altos do que o antecipado e, principalmente, um aumento de 7% nas despesas com vendas, gerais e administrativas,, enquanto era esperada uma redução na comparação anual.

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“O mix de embalagens desfavorável devido às restrições relacionadas à Covid-19 continuou definindo o tom para o trimestre, com a margem Ebitda do segmento contraindo 230 pontos-base em relação ao ano anterior. Durante o que poderia ser descrito como mais um trimestre ameno para o segmento, operacionalmente, entendemos que alguns dos destaques positivos incluem o forte desempenho da Sukita, bem como o lançamento do For Me e do Natu, uma versão 100% natural do Guaraná”, destacam os analistas.

O que separa otimistas dos pessimistas com o case? 

O resultado foi considerado unanimemente bom pelos analistas de mercado, mas eles ainda se dividem quando o assunto é a perspectiva para a empresa e para as suas ações.

Conforme aponta a compilação da Refinitiv com analistas de mercado, de quatorze casas que cobrem o papel, cinco têm recomendação de compra, seis de manutenção e três de vendo, com um preço-alvo médio de R$ 16,18, uma alta de cerca de 9% em relação ao fechamento de quarta-feira e praticamente sem potencial de valorização levando em conta o desempenho dos papéis nesta sessão.

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Um fator sabido que os custos da AmBev devem aumentar cerca de 20% ao longo de 2021, conforme a própria empresa anunciou no resultado passado. Nesse sentido, conforme aponta a XP, durante o primeiro trimestre, de fato pressões de custo levaram a reduções nas margens, principalmente devido aos altos preços das commodities e ao câmbio desvalorizado, assim como em função do mix de canais e embalagens desfavorável (consumo em casa favorece uso de latinhas de alumínio, com custos mais altos que as garrafas de vidro, mais usadas em bares com consumo compartilhado).

Em teleconferência, Jean Jereissati, CEO da Ambev, também destacou que o controle de custos será desafiador em 2021.

Os analistas do Bradesco BBI elevaram as projeções para 2021, mas reduziram as suas projeções para o próximo ano, esperando queda do Ebitda e do lucro líquido em 4% e 13% para 2022, respectivamente. Leandro Fontanesi e Matheus Sleiman, analistas do banco, assumem agora um aumento de 23% no custo dos produtos vendidos (COGs) por hectolitro para o segmento de cerveja no Brasil (em relação ao nível anterior), refletindo a recente alta nos preços das commodities (alumínio, milho, cevada maltada, entre outros).

Ao olharem para os múltiplos da companhia, com o papel sendo negociado a uma relação de preço sobre o lucro esperado para dois anos de 20,5 vezes, em linha com a média histórica, eles reiteraram recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 15,50 para os ativos ABEV3.

Ainda mais pessimistas, Bank of America e Morgan Stanley reiteraram a recomendação underperform (desempenho abaixo da média do mercado) e underweight (exposição abaixo da média do mercado) respectivamente após o resultado, com preço-alvo comum de R$ 14.

Para Ricardo Alves e Victor Tanaka, analistas do Morgan, além da alta das commodities, um ambiente competitivo potencialmente mais difícil no segundo semestre também deve afetar a percepção dos investidores sobre a companhia, com o foco se voltando cada vez mais para a perspectiva de lucratividade e custos para 2022.

O BofA, por sua vez, também destaca que o mix de marcas tem sido um fator positivo importante, mas ainda há incerteza sobre qual será a carteira de equilíbrio entre as marcas core plus (intermediárias) e as mainstreams (mais famosas).

Já entre os mais otimistas, a XP ressalta que continua otimista com a Ambev, apesar das incertezas de curto prazo, destacando recomendação de compra e com preço-alvo de R$ 17,15 por ação, ainda que haja volatilidade para os papéis em meio a esse cenário.

O Credit Suisse também segue otimista com a ação, com recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) e preço-alvo de R$ 18,00.

Marcella Recchia, analista do banco, destaca ainda a mudança de CEO da AB Inbev, controladora da Ambev, que deve ser vista como neutra ou marginalmente positiva para a companhia. Carlos Brito vai deixar o comando da companhia no dia 1º de julho, sendo substituído por Michel Dukeris também brasileiro.

Dukeris e Jean Jereissati, CEO da Ambev, já trabalharam juntos na região APAC (Ásia-Pacífico) e China e entregaram uma mudança no mercado local para uma fase mais premium, tendo sucesso com expansão de margem e crescimento de receita, destaca a analista.

Um outro fator que deve beneficiar a companhia é a reabertura da economia conforme for aumentando o ritmo de vacinação; porém, a alta dos custos e o aumento da competição são temas que continuarão no radar da empresa. Assim, apesar do forte resultado evidenciado na disparada das ações, a Ambev segue dividindo opiniões entre os analistas, com alguns acreditando que o cenário macroeconômico deve preponderar, enquanto outros avaliam que a estratégia de inovação da companhia seguirá dando frutos bastante positivos nos próximos trimestres.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.