Ambev (ABEV3): por que distribuição de R$ 10,5 bi em proventos não empolgou o BBI?

Valor representa um payout de 86% do lucro estimado em 2024.

Felipe Moreira

Copo de cerveja (Foto: Pexels/Oleksandr P)
Copo de cerveja (Foto: Pexels/Oleksandr P)

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A Ambev (ABEV3) anunciou na quarta-feira a distribuição de juros sobre capital próprio (JCP) no valor de R$ 3,85 bilhões em termos nominais, além de R$ 6,65 bilhões em dividendos. Juntos, os JCP e a distribuição de dividendos devem totalizar R$ 10,5 bilhões. Às 12h18, a ação da cervejaria caía 3,26%, a R$ 13,35.

Combinado com o programa de recompra de ações de R$ 2 bilhões anunciado em outubro de 2024 e o programa de recompra de ações de R$ 300 milhões anunciado em maio, isso resultaria em um retorno total de capital aos acionistas de R$ 12,8 bilhões, implicando uma taxa de pagamento (payout) de 86%, com base no lucro líquido ajustado de R$ 14,9 bilhões em 2024 previsto pelo BBI.

O Conselho de Administração também alterou a periodicidade de distribuição de dividendos para períodos mais curtos, potencialmente até trimestrais, em vez da atual distribuição anual.

O Bradesco BBI avalia que o anúncio não deve desencadear uma postura mais otimista em relação à Ambev no curto prazo. No final das contas, o pagamento total (incluindo dividendos, JCP e recompras) de 86% está praticamente em linha com sua média de 10 anos e se traduz em um rendimento de cerca de 6%, o que não se destaca no atual cenário de mercado de ações do Brasil.

A magnitude da distribuição ficou abaixo do esperado pelo BBI, “mas a falta de uma distribuição extraordinária de dividendos não é algo que deve pegar os investidores totalmente de surpresa neste momento”, comenta o banco.

Segundo BBI, isso se deve ao potencial da empresa de continuar monetizando créditos fiscais para compensar uma taxa efetiva de imposto de renda nominalmente mais alta, além do custo elevado da dívida no Brasil e incertezas persistentes sobre as políticas de imposto de renda do Brasil.

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O BBI também acredita que o escudo fiscal relacionado às distribuições de JCP ainda presente, mesmo que em uma magnitude menor do que no passado, aumenta as compensações para distribuições de caixa acima da marca de pagamento de 100%.

Com relação a periodicidade de pagamento de proventos, o BBI avalia que o movimento abre espaço para algumas distribuições adicionais relacionadas aos lucros do 2024, mas o banco ainda não vê condições externas que possam desencadear uma mudança na abordagem da empresa em relação à sua estrutura de capital.

Apesar da abordagem defensiva das ações da Ambev, o BBI ainda não identifica uma dinâmica ascendente suficientemente forte para justificar revisões de lucro que respaldem o recente desempenho superior do preço das ações, sem uma reclassificação de múltiplos. Por isso, mantém a classificação Neutra para o papel e o preço-alvo de R$ 13.

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Para analistas do Itaú BBA, a Ambev está se movendo na direção certa em termos de alocação de capital, mas em um ritmo mais lento duqe alguns previam.

“A distribuição total de capital aos acionistas (compreendendo dividendos, Juros sobre Capital Próprio e recompras de ações) resultou em um payout de 89%, o que foi 9% menor do que nossa previsão”, pontuaram Gustavo Troyano e Bruno Tomazetto, em relatório a clientes nesta quinta-feira.

Eles também citaram que o JCP ficou aquém em quase 20% em comparação com as expectativas do Itaú BBA.

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“A decisão de não acelerar a distribuição de capital parece alinhada com o histórico da Ambev, que historicamente priorizou a alocação conservadora de capital e a manutenção de um balanço patrimonial forte”, afirmaram.

Os analistas elogiaram a decisão da Ambev de potencialmente reduzir os intervalos para dividendos adicionais, mas acrescentaram que “alguns investidores podem estar esperando por um anúncio mais expressivo e podem ficar decepcionados com as notícias”.

(Com Reuters)