“Efeito Americanas” e visões ruins para o 4º tri: o que explica a baixa de 9% da Ambev (ABEV3) em 4 pregões

Contudo, algumas casas de análise seguem com visão positiva para o papel, destacando ponto de inflexão com melhora de margens à frente

Lara Rizério

(Paulo Fridman/Corbis via Getty Images)
(Paulo Fridman/Corbis via Getty Images)

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As ações da Ambev (ABEV3) registraram sua quarta sessão seguida de queda nesta segunda-feira (16), mas com a sua baixa mais intensa nesta data, de 4,90%, a R$ 13,20. Já em quatro pregões, a baixa acumulada foi de 9,22%.

Os papéis da companhia são contaminados pelo caso Americanas (AMER3), uma vez que os acionistas de referência da varejista Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira também controlam a fabricante de bebidas. Investidores analisam a possibilidade de que os acionistas vendam parte de suas ações na Ambev para conter a crise da Americanas.

Mas, além disso, o noticiário das operações da própria companhia de bebidas não é positivo, em meio à prévia de casas de análise de um quarto trimestre decepcionante para a empresa ante as estimativas iniciais.

Nesta segunda, o Morgan Stanley reforçou recomendação underweight (exposição abaixo da média do mercado, equivalente à venda) para os papéis da Ambev, com preço-alvo de R$ 12 (de R$ 12,50 antes), valor 9% menor frente o fechamento desta segunda. O banco espera números fracos para o quarto trimestre de 2022 (4T22) e enxerga riscos para o resultado por razões como os ambientes macroeconômico e concorrencial no Brasil.

A Ambev divulgará seus números do último trimestre de 2022 no dia 2 de março.

A XP destaca que, ainda que não houvesse grandes expectativas em relação à recuperação das unidades de negócios internacionais da Ambev, os dados fortes da indústria de bebidas aliados à Copa do Mundo no fim do ano podem ter gerado boas expectativas no início do 4T22.

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“No entanto, o clima não ajudou com temperaturas abaixo da média e com um volume considerável de chuva, além do Brasil ter sido desclassificado precocemente mesmo vencendo o jogo faltando quatro minutos para o fim”, com os analistas da XP citando a derrota do Brasil na Copa do Mundo nas quartas de final para a Croácia.

Os custos das commodities ainda devem ser um vento contrário e, embora esperem uma melhora sequencial, os analistas da XP ainda estão projetando margens menores na base anual e um lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) ligeiramente menor de R$ 6,7 bilhões (-1% na base anual). O custo de hedge na Argentina deve continuar impactando o resultado e a XP estima um lucro líquido de R$ 2,4 bilhões (-38% ano a ano).

“Conforme mencionado, o clima não ajudou e a desclassificação precoce do Brasil impactou negativamente os volumes. Portanto, prevemos um aumento de 5% no volume em relação ao ano anterior, para 26,865 mil hectolitros. A estratégia de gestão de receita e premiumização deve continuar impulsionando a receita líquida por hectolitro, em nossa visão, para a qual prevemos alta de 10% ano a ano”, avalia a XP.

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Apesar de estimarem um aumento de 16% na receita em relação ao ano anterior, os custos devem continuar desfavoráveis ​​e projetam uma queda nas margens para 27,2% (+116 pontos-base na comparação com 3T22), representando um Ebitda de R$ 2,9 bilhões (+4% ano a ano).

As operações internacionais, por sua vez, ainda estão arrastando o resultado consolidado. Os analistas projetaram margens em queda em relação ao ano anterior para América Latina Sul (LAS) e América Central e Caribe (CAC), principalmente devido às difíceis perspectivas macro nas regiões que afetam negativamente a receita e com os custos das commodities como um vento contrário.

O Canadá permanece sem empolgar, com uma indústria frágil atrasando a recuperação. “O destaque negativo deve ser novamente o CAC, para o qual projetamos uma queda de 34% anual no Ebitda”, apontam os analistas.

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Também para o Itaú BBA, a Ambev divulgará resultados do 4T22 que devem ficar abaixo do que tinham inicialmente para o período, com a decepção do trimestre vindo principalmente da divisão de Cerveja Brasil.

“Apesar de acreditarmos que esse braço venha a reportar crescimento de volumes e de receitas, entendemos que esses valores serão aquém do esperado anteriormente. Além disso, acreditamos que as demais divisões da empresa como CAC  e América do Sul possam pressionar os resultados diante do cenário macroeconômico mais desafiador”, aponta. Assim, o banco calcula que a Ambev reportará Ebitda consolidado de R$ 7 bilhões e lucro líquido de R$ 4 bilhões.

“Mantemos nossa recomendação marketperform (desempenho em linha com a média do mercado, equivalente à neutra) para ABEV3, com preço-alvo de R$ 18 [ainda um upside de 36%] ao fim de 2023″, destaca o BBA.

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Ainda há otimismo

Por outro lado, a XP segue com recomendação de compra para os ativos, com preço-alvo de R$ 18,10, ou um potencial de valorização de 37% frente o fechamento desta segunda. “Apesar de ainda não no 4T22, o câmbio mais baixo e os preços do alumínio devem permitir uma recuperação de margem no início de 2023. Entretanto, o clima continuou frio em [boa parte de] janeiro, apesar da retomada dos eventos sociais ser positiva”, avalia.

Cabe destacar que, na semana passada, o UBS BB elevou a recomendação para as ações de venda para compra (ou seja, uma dupla elevação), além de subir o preço-alvo de R$ 14 para R$ 18.

Os analistas do banco pontuaram quatro fatores para a elevação de recomendação.

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Em primeiro lugar, a perspectiva de uma receita sólida, com crescimento médio de 8% ao ano entre 2023 e 2025, impulsionada por uma estratégia comercial comprovada, aumentos de preços anteriores e efeito positivo do mix de vendas.

Em segundo lugar, estimam que o Ebitda no Brasil deva atingir um ponto de inflexão no 3T23, impulsionando a expansão da margem de 27,8% em 2022 para 31% em 2024.

Em terceiro, o banco avalia que o mercado ignora o impacto positivo do BEES (plataforma digital B2B da Ambev, que encurta a relação entre a cervejaria e bares e restaurantes) no retorno sobre o capital investido (ROIC). Por fim, o UBS BB cita um ponto de entrada dado o desconto de 17% para a controladora ABI.

De acordo com compilação da Reuters com analistas, de 14 casas que cobrem o ativo ABEV3, nove possuem recomendação de compra, três neutra e dois de venda, com preço-alvo médio de R$ 17,31, o que corresponde a um potencial de valorização de 31% em relação ao fechamento desta segunda-feira.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.