Ambev (ABEV3) fecha em alta de 4,7% após Grupo Petrópolis pedir recuperação judicial: qual impacto para as ações?

Ambev pode ganhar mercado com várias de suas marcas no caso de menor produção e cenário de dificuldade da concorrente

Vitor Azevedo

Fábrica da Ambev (Foto: Paulo Fridman/Corbis via Getty Images)
Fábrica da Ambev (Foto: Paulo Fridman/Corbis via Getty Images)

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As ações ordinárias da Ambev (ABEV3) registraram um dia positivo nesta terça-feira (28) e chegaram a disparar até 7,90%, a R$ 15,03, na máxima do dia. Os papéis, contudo, amenizaram os ganhos, fechando a sessão com avanço de 4,74%, a R$ 14,59.

Os papéis, além do dia positivo no mercado, foram impulsionados pela notícia de que o Grupo Petrópolis, concorrente direto da companhia, entrou com um pedido de recuperação judicial (RJ).

“A Itaipava, do Grupo Petrópolis, é a quinta cerveja mais consumida do país. No caso de a empresa reduzir sua produção, por conta da RJ, ou vir a fechar as portas, tende a existir uma migração de público consumidor da Itaipava para cervejas da mesma faixa. A Ambev tem em seu portfólio nomes como Skol, Brahma e Antartica, que têm a mesma faixa de preço da Itaipava”, diz Leandro Petrokas, diretor de research da Quantzed.

Quando uma companhia entra com um processo de recuperação judicial, é normal que ela, por exemplo, passe a ter mais dificuldades em suas negociações com fornecedores – que passam, entre outras coisas, a evitar parcelamentos e a vender produtos apenas “à vista”.

De acordo com Petrokas, é possível que a Ambev se beneficie das dificuldades da sua concorrente, mas os reflexos nas ações, com a forte alta, já podem ter incorporado a mudança de cenário.

“Agora, há um ponto de atenção de que as ações da Ambev, nesse nível de preço, comecem a negociar a um múltiplo um pouco mais elevado, diminuindo o potencial de alta. Vale o investidor que está pensando em investir na cervejaria, olhando a questão da Itaipava, se atentar, porque a RJ, às vezes, pode ser solucionada”, acrescenta. “Múltiplo alto combina com cenários de juros baixos, o que não é o caso neste momento”.

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Para Enrico Cozzolino, sócio e head de análise da Levante Investimentos, a notícia cria a oportunidade de uma maior dominância maior para a Ambev. “Favorece a concentração de mercado de grandes grupos e é por isso que temos a alta da Ambev”, detalha.

O Goldman Sachs, em relatório, também menciona que a fraqueza do Grupo Petrópolis pode ser positiva para a Ambev, abrindo espaço para consolidação e apoiando a ganha de força dos produtos premiums.

“Dito isso, notamos que o Grupo Petrópolis vem perdendo participação no últimos trimestres, e acreditamos que a Ambev já capturou parte disso nos últimos 18 meses”, destaca o banco americano, que tem recomendação de venda para as ações da Ambev.

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O Credit Suisse vai na mesma linha.

“Embora não tenhamos visibilidade de como isso pode impactar as operações do Grupo Petrópolis no curto prazo, acreditamos que a AmBev está melhor posicionada em termos de portfólio e alcance de distribuição para continuar absorvendo potenciais perdas de market share, como vem fazendo desde 2020”, comentam os analistas da instituição suíça. “Diante de seu pedido de recuperação judicial, o Grupo Petrópolis também pode se tornar um alvo atraente para M&A”.

O Itaú BBA, por fim, diz que o cenário é positivo no curto prazo, com o Grupo Petrópolis reotimizando seu capital, o que deve gerar um ambiente competitivo menos pressionado para a Ambev. “Mas é muito cedo para ser otimista com o longo prazo. Ainda não está claro se esta notícia levará a uma competição mais acirrada no Brasil, como no caso de um potencial player novo (e capitalizado) emergindo na indústria cervejeira brasileira”, debatem.

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Para a XP, a performance das ações na sessão desta terça corrigiu uma assimetria após o pânico causado pelo caso Americanas (AMER3), e não devido a uma mudança de fundamentos dado que o fraco balanço da Petrópolis e a queda do market share (com o consequente aumento do market share da AmBev e da Heineken) já eram bem conhecidos do mercado.

Os analistas do banco mantêm visão positiva para a AmBev em 2023 por conta desse avanço de market share, juntamente com o alívio das pressões de custos, traduzindo-se em margens mais altas. Além disso, projetam a AmBev em um valuation atrativo negociando a 16 vezes o múltiplo de Preço sobre Lucro (P/L) para 2023 e, portanto, reiteram recomendação de compra.

A XP ressalta que o pedido de recuperação judicial da Petropólis deve ser marginalmente positivo para a AmBev, se não neutro.