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Os números divulgados pela Ambev (ABEV3) no quarto trimestre de 2023 (4T23) trouxeram indicações “mistas”, mas com uma projeção para 2024 que trouxe revisão para baixo nas estimativas para a companhia, segundo apontaram os analistas de mercado. Os ativos ABEV3 fecharam em queda de 6,46%, a R$ 12,58, na sessão desta quinta-feira (29).
A gigante de bebidas apresentou lucro líquido consolidado de R$ 4,528 bilhões no quarto trimestre de 2023, o que representa uma queda de 10,9% em relação ao mesmo período do ano anterior. O Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado foi de R$ 7,151 bilhões, montante 0,6% maior ante igual etapa do ano anterior no conceito reportado e avanço de 49% no conceito orgânico, mas 6% abaixo do consenso, conforme destacou o Bradesco BBI.
A divisão LAS (América Latina Sul) foi o destaque negativo do 4T23, com Ebitda 34% abaixo do consenso, impactado principalmente pelas operações na Argentina, ressalta o banco. A XP também destacou que as discussões fiscais em andamento estão pesando sobre suas perspectivas, além dos efeitos adversos da hiperinflação argentina. “Ao mesmo tempo, a recuperação operacional foi sólida, e a companhia sustentou sua recuperação de lucros com expansão de margem em todas as linhas. No entanto, o ajuste para a inflação da Argentina, sem efeito caixa, manchou o resultado consolidado, o qual veio abaixo das nossas estimativas”, avaliam os analistas da casa.
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No Brasil, os volumes consolidados de cerveja caíram 1% em base anual, em 26,3 milhões de hectolitros (hl), como esperado pelo BBI, com a Ambev crescendo os volumes na categoria premium na casa dos 25%, embora os volumes no segmento core tenham caído na casa de um dígito. O dado, por sua vez, ficou 2% abaixo da projeção da XP, embora sombreado por um aumento de preço (NR/hl) de 7,2%, “que merece ser aplaudido”, na visão dos analistas.
Guidance frusta
Para o Itaú BBA, o operacional foi ligeiramente abaixo do que projetava, com o principal miss vindo de efeito “one off” em Argentina, mas com alguma decepção em todas as unidades de negócio do exterior. “Apesar disso, achamos que a decepção deva ser parcialmente ignorada pelos investidores pelo efeito contábil e one-off de Argentina. Em CAC (América Central e Caribe), a recuperação foi um pouco menor do que o mercado tinha, e no Canadá a queda foi mais intensa também”, avalia.
O banco avalia, contudo, que o guidance (projeção) de custos aparece como o principal ponto de discussão – e ele veio pior do que o consenso. A Ambev detalhou que, assumindo os preços atuais das commodities e do câmbio (hedge real/dólar para 2024 em 4,97), espera que o CPV (Custo de Produtos Vendidos) por hectolitro excluindo depreciação e amortização em Cerveja Brasil (excluindo produtos de marketplace não Ambev) diminua entre 0,5% e 3,0% no ano.
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O BBA tinha expectativa de queda de 8% ano a ano, enquanto via o buy side projetando uma queda entre 6% e 9%. O Bradesco BBI, por sua vez, apontou que o guidance implica em uma melhoria de margem Ebitda (Ebitda sobre receita líquida) de 0,8 ponto a 2 pontos percentuais, enquanto o consenso esperava uma melhora de 2 pontos, no topo da projeção.
Já o BTG Pactual vê que um guidance de custos menos otimista para 2024 trará outra rodada de risco de surpresas negativas para as suas estimativas, que estavam bastante alinhadas com o consenso. “Inserir o novo guidance de custos reduziria cerca de 4% dos nossos lucros para 2024, enquanto permanecemos preocupados com o que o ambiente macro na Argentina poderia fazer com os volumes na região”, destacam os analistas.
Para o banco, a história de recuperação das margens está bem encaminhada, mas em um ritmo mais lento, e o momento de crescimento da receita líquida está claramente desaparecendo. “As pressões competitivas parecem estar retornando no Brasil, com a participação de mercado caindo pela primeira vez desde o início da pandemia, e a inflação da cerveja recuando”, avalia o banco, que tem recomendação neutra para os ativos.
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A XP, na contramão, vê uma projeção de queda do CPV melhor do que esperava, mas em linha com as recentes tendências de commodities. “Com impostos mais altos e a Argentina como ventos contrários, além de um guidance não surpreendente, o desempenho operacional deve permanecer nos bastidores e, portanto, esperamos que as ações devolvam parte do desempenho positivo de ontem”, ponderou também em relatório antes da abertura do mercado.
Executivos da Ambev falam em teleconferência
Durante a teleconferência de resultados, feita na tarde desta quinta, os executivos da empresa tentaram explicar que a projeção de custos acima do esperado para 2024 se deu pelo aumento da participação das marcas premium no mix da Ambev. “No entanto, há um beneficio dessa mix do lado da receita e do lucro”, ponderou o CFO Lucas Lira.
Para o ano, o foco da Ambev é continuar avançando no segmento premium. Após investimentos em produção, no entanto, o que resta agora, segundo a companhia, é mais um trabalho de marketing.
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“Em 2023 fizemos uma afirmação do lado premium. Conseguimos conquistar pontos com Corona, Stella, Spatten. Vamos alocar mais recursos no marketing para essas marcas”, explicou Jereissati. “Vamos colocar mais investimentos em vendas e marketing, mas de forma disciplinada em termos de Capex. Após anos de investimentos em tecnologia e produção, estamos confortáveis nesse ponto”.
Apesar da recepção não muito positiva do mercado, o CEO, Jean Jereissati, falou que a empresa está confiante para 2024. “Começamos bem o ano, com Carnaval sendo forte. Além disso, apesar de todo o ruído de mudanças, com a discussão tributária, a geração de caixa livre acelerou em 2023 e deve continuar robusto em 2024”, explica. Eles colocaram, no entanto, as mudanças tributárias, como no caso das alterações do JCP, como os principais riscos para o ano.
Quanto à Argentina, a Ambev defendeu que, agora, é um momento de correção de curso. “O que estamos fazendo é nos proteger em frente à inflação e tentando entender o que acontecerá com os consumidores da Argentina”, expôs.
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