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A América Latina foi a região com melhor desempenho do mercado de ações no mundo neste início de ano, após ter sido a pior no ano passado. Brasil, Coreia do Sul e México foram os três mercados emergentes de melhor desempenho.
No Brasil especificamente, o fluxo de investidores estrangeiros na B3 apresentou um saldo positivo de R$ 6,82 bilhões, representando o melhor desempenho desde agosto de 2024, quando o volume líquido chegou a R$ 10,01 bilhões, aponta análise realizada pela Elos Ayta.
O Ibovespa acumulou uma alta de 4,86% em janeiro, também o melhor mês desde agosto de 2024, quando o índice encerrou com ganhos de 6,54%. Em dólares, o Ibovespa foi o terceiro melhor em ranking com os 21 principais índices globais analisados, também segundo a Elos Ayta, com uma alta de 11,38% (dada a desvalorização de 5,85% do dólar no mês). Assim, ficou atrás apenas do Euro Stoxx 50, da Zona do Euro, que subiu 16,12%, e do MSCI Colcap, da Colômbia, com avanço de 14,91%. Esse foi o melhor desempenho do Ibovespa em dólares desde novembro de 2023, quando o índice subiu 15,32%.
Segundo o Bradesco BBI, o movimento foi impulsionado pela rotação global para longe dos EUA e do setor de tecnologia, enquanto o duplo desconto de valuation e câmbio na América Latina só precisava de notícias “menos ruins” para diminuir. Os ganhos cambiais lideraram os retornos, como historicamente acontece, apesar do nosso foco tradicional nos lucros empresariais.
O Bradesco BBI vê a valorização da moeda e as avaliações de mercado impulsionando retornos positivos este ano, em contraste com o ano passado, enquanto a revisão para baixo das projeções de crescimento dos lucros pode ser um sinal positivo, indicando que o “remédio macroeconômico” está funcionando.
Além disso, analistas destacam que um janeiro positivo para o Ibovespa resultou em perdas no ano inteiro apenas uma vez nos últimos 30 anos – em 2001, quando o mercado caiu 17% em setembro após os atentados terroristas nos EUA.
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Para o BBI, a recuperação do Brasil tem uma base ampla, com investidores estrangeiros ampliando suas posições e investidores locais cobrindo posições vendidas próximas a níveis recordes.
“O fortalecimento do real, a baixa exposição ao governo Trump e a revisão para baixo das expectativas de lucros reduziram os riscos brasileiros à medida que nos aproximamos de um possível sinal de compra”, pontua BBI.
A equipe de análise do banco reiterou recomendação neutra para Brasil diante da desaceleração binária esperada para o segundo trimestre, mas com um sinal de compra, o que deu confiança ao banco para aumentar sua exposição ao risco. O BBI excluiu a fabricante de jatos Embraer (EMBR3) e adicionou o atacarejo Assaí (ASAI3) em seu portfólio. O banco também substituiu Eletrobras (ELET3) por Sabesp (SBSP3) e elevou a exposição à Vale, antecipando estímulos no Chile.
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O banco segue neutro com o Brasil dentro do portfólio de América Latina levando em conta um possível sinal de desaceleração do 2T, mas com um sinal de compra, “nos deixando confiantes o suficiente para aumentar nossa barra de risco”.
O Itaú BBA, por sua vez, em revisão para a América Latina, manteve exposição overweight (exposição acima da média) para o Brasil. O banco tem projeção para o Ibovespa a 145 mil pontos, implicando 15% de alta em relação às cotações da véspera (22% se considerarmos dividendos).
A tese no Brasil é baseada em quatro pilares. Em primeiro lugar, o valuation (considerado positivo) da Bolsa está negociado a um múltiplo de 7,2 vezes o preço sobre o lucro, o que, na visão do banco, precifica um cenário de baixa. Um segundo ponto é o momentum de lucros, considerado ligeiramente negativo pelo BBA. A expectativa é de um crescimento de dois dígitos nos lucros para 2025, mas com risco de revisões para baixo em um cenário de taxas/inflação mais altas.
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Em terceiro lugar, o macro está negativo. A equipe espera um ciclo de aperto monetário à frente, com menor crescimento do PIB e maior inflação, enquanto a perspectiva fiscal permanece incerta. Por fim, o posicionamento segue neutro: “o Ibovespa está se aproximando do território de sobrevenda, mas ainda é um cenário desafiador para a indústria de fundos local e para o humor dos estrangeiros”.
A XP também projeta o Ibovespa a 145 mil pontos ao final do ano e continua a ver uma oportunidade significativa em relação ao valuation atrativo da Bolsa no Brasil.
Brasil deve ter um ano difícil
O JPMorgan, por sua vez, comenta que a economia do Brasil deve enfrentar dificuldades neste ano, em função da desaceleração do crescimento, da inflação e das preocupações com a tendência de médio prazo da dívida pública.
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Com crescimento desacelerando de 3,5% em 2024 para 2,2% em 2025, apesar de ainda um número sólido, o número deve ser analisado com cautela, pois o crescimento do setor agrícola é um dos principais fatores de impulso.
“Para que o Banco Central interrompa o ciclo de alta dos juros antes do esperado, seria necessário ver uma valorização adicional do real para níveis próximos a R$ 5,70, o que não parece sustentável”, comenta JPMorgan.
Com relação ao fiscal, o JPMorgan avalia que grandes reformas nos programas do governo não são esperadas, mas algumas iniciativas podem se materializar, como a recente ampliação da oferta de crédito consignado para todos os trabalhadores.
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Além disso, o JPMorgan pontua que o Brasil pode ser impactado direta e indiretamente pelas tarifas dos EUA. Diferente de 2018, o país tem menos espaço para se beneficiar de uma guerra comercial entre EUA e China, e alguns setores brasileiros podem ser afetados.
Na mesma linha que o BBI, o JPMorgan avalia que o rali de janeiro no Brasil foi um movimento técnico e circunstancial, sem relação com uma melhora estrutural. “Os preços continuam atrativos, como nos últimos três anos, mas o melhor já passou, considerando o fortalecimento do dólar e o fechamento da curva de juros local” destaca.
O mercado brasileiro já subiu mais de 10% em dólares, o que o JPMorgan considera suficiente por ora.
O JPMorgan cita ainda que um fim antecipado do ciclo de alta dos juros, desde que seja justificado, serviria como um catalisador positivo da bolsa brasileira.
O banco também cita uma liderança mais austera no Congresso, que não aprove a isenção fiscal para quem ganha até R$ 5.000 por mês, bem como um compromisso mais forte com a sustentabilidade da dívida fiscal e reformas que aumentem a produtividade.