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A primeira semana de 2022 não foi positiva para a bolsa brasileira – o Ibovespa, seu principal índice, acumulou uma queda de 2,03%, sentindo um impacto, principalmente, provindo da altas dos juros. Apesar da baixa nos ativos ter sido praticamente generalizada, algumas empresas, com a curva de DIs subindo constantemente, sofreram mais do que as outras.
O juros subiu por uma série de motivos: novas ameaças fiscais, envolvendo o governo atual e também sinalizações do presidenciável que está em primeiro lugar na pesquisas; alta da curva de juros nos EUA, que pressiona também a curva de países emergentes, uma vez que, geralmente, esses têm de elevarem suas taxas para se tornarem mais atrativos; inflação avançando, e por ai vai.
A alta da curva dos juros costuma derrubar qualquer tipo de ativos de risco. Isso porque a renda fixa é vista como um investimento que envolve ameaças muito menores do que a variável. Quando os rendimentos da renda fixa sobem, acompanhando a alta dos juros, há um fluxo de saída da renda variável para esses papéis. A dinâmica entre riscos e possíveis lucros é alterada.
Mas há outras explicações para as baixas. As quedas registradas por companhias de tecnologia, do varejo e da construção civil se destoaram, isso porque a alta dos juros, que derrubou as ações como um todo, costuma pesar mais sobre esses setores.
Alta dos juros é baque para a questão da “lucratividade futura”
Além da rotatividade de capital, companhias que têm seus valuations, o valor de mercado visto por investidores, muito conectados ao ritmo de crescimento acabam por terem maiores baixas, caso das empresas de tecnologia e também do setor de varejo.
Entre o primeiro grupo, por exemplo, o Banco Inter (BIDI11) acumulou queda de 6,70% nos primeiros pregões de 2022, ainda que diminuindo bastante as perdas semanais após o salto de 15,46% na sessão de sexta. Na semana, a Locaweb (LWSA3) recuou 24,39%, Positivo (POSI3) teve baixa de 24,40% e o Méliuz (CASH3), 19,14%, sendo destaques de baixa na semana.
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Já entre as empresas do varejo, destaque negativo para a Via (VIIA3), com queda de 20,57%, e para a Magazine Luiza (MGLU3), com baixa de 13,71%.
“Para esses dois grupos, o fator de impacto é parecido. Normalmente são empresas com ritmo de crescimento alto e quando projetamos um modelo de valuation, boa parte dele é estipulado pensando no futuro”, explica Henrique Esteter, especialista de mercados do InfoMoney.
Segundo ele, investidores, antes de realizarem seus aportes, fazem cálculos para tentarem chegar a uma projeção razoável do fluxo de caixa que a companhia, terá em breve, tendo como base também um crescimento projetado. Além disso, são analisados também os descontos, para entender, além de quanto a empresa ganhará, quanto ela gastará. “Quando há um aumento da taxa de juros, há um aumento da chamada taxa de desconto”, fala o especialista.
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A taxa de desconto é utilizada no cálculo do valuation de qualquer empresa. Ela é o divisor da equação e é composta, geralmente, pelo custo do capital próprio, que inclui, entre outras coisas, gastos operacionais e o custo da dívida – essa totalmente ligada à variação da taxa de juros. O fluxo de caixa fica com o papel de dividendo no cálculo.
“Como qualquer divisão, quanto maior o divisor, menor o resultado. Se pegamos a projeção para dois anos, ao invés de para um, esses juros maiores entram na conta elevados ao quadrado, pois há dois períodos de tempo na frente. É algo exponencial”, diz Esteter.
Companhias de tecnologia, mais até do que o varejo, têm, normalmente, uma grande necessidade de buscarem capitalizações “Esse setor precisa muito de crédito, de início, para depois ter, no longo prazo, lucratividade. Quando há um custo mais alto do crédito, a atratividade diminui”, comenta Rodrigo Franchini, head de relações institucionais da Monte Bravo investimentos.
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O varejo, segundo Franchini, é também um setor muito alavancado, por ter a necessidade constante de ter capital de giro elevado – utilizado, entre outras coisas, para comprar produtos que, posteriormente, serão vendidos. “As pessoas no Brasil, no momento, não têm dinheiro na mão. Não há consumo na ponta. As varejistas, então, diminuem seus fluxos por não saberem se valerá comprar produtos para revenda”.
Empresas de shopping centers também se destacaram na queda, com JHSF (JHSF3), brMalls (BRML3) com baixas respectivas de 17,38% e 12,39%.
Varejo e setor imobiliário são impactadas por queda na demanda
Já o setor imobiliário, no Brasil, tem sua performance intrinsicamente ligada ao acesso à credito. “Quando o juro está mais alto, o crédito fica mais caro e as pessoas pensam mais antes de fazer um empréstimo para comprar um bem. Naturalmente, há impactos no setor”, comenta Franchini.
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Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, vai no mesmo caminho. “Há dois anos, quando a taxa de juros estava em 2% e os índices de inflação, também utilizados em indexações de contrato, mais baixos, era muito mais fácil fazer um empréstimo para comprar um apartamento”, comentou. Na semana, MRV (MRVE3) e EzTec (EZTC3) caíram 11,83%.
Além disso, para ele, o mau momento da economia, que a alta do juros não ajuda a melhorar, também impacta essas frentes de negócio. “Você vê as pesquisa daquilo que o brasileiro espera para 2022 e grande parte quer empregos melhores, guardar dinheiro e o fim da pandemia. Consumir mais ficou apenas em quarto lugar no levantamento. As pessoas não pensam, no momento, em gastar mais”, contextualiza.
Com isso, há também uma menor lucratividade tanto para varejistas quanto para companhias do setor imobiliário. “O consumidor está mais acanhado”, considera Cruz.
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Setores que se beneficiam da alta dos juros
Entre as maiores altas da semana, um setor se destaca: o de bancos. Itaú (ITUB4) teve alta de 7,36% e Bradesco (BBDC4) de 4,11%. “Os bancos conseguem se financiar com uma taxa mais curta no curto prazo e emprestar para clientes a taxas mais caras no médio e longo prazo, ganhando por essa curva inclinada”, explica Mauro Morelli, da Davos Investimentos.
Além dos juros, que tornam essas instituições mais lucrativas, houve também um impulso vindo do Governo Federal, que sancionou a prorrogação da desoneração da folha de pagamento para 17 setores da economia sem aplicar compensações – anteriormente, era esperado que para bancar a medida o governo manteria a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), cobrada de bancos.
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