Alta da Selic não é exagero e BC não pode se prender tanto ao Fed, diz Solange Srour

Economista avalia que mercado não está exigindo elevação por causa da transição no BC, mas sim porque os dados pedem isso

Bruna Furlani

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A precificação rápida de uma eventual alta da Selic em setembro trouxe questionamentos em várias rodas de conversas na Faria Lima na última semana. Embora alguns questionem se não é cedo demais para colocar na mesa uma possível mudança na rota de voo do Banco Central, Solange Srour, diretora de macroeconomia para o Brasil da UBS Global Wealth Management, entende que não.

Para ela, os fundamentos domésticos pedem que a autoridade monetária atue. “Não vejo uma alta de juros como um exagero. Só seria isso se alguns dos fundamentos domésticos estivessem melhores”, avaliou a especialista, em entrevista exclusiva ao InfoMoney, na manhã desta quarta-feira (21).

Entre os fundamentos citados pela economista estão a pujança da economia brasileira e a falta de capacidade ociosa, o que pressiona os fatores de produção. Isso sem contar aspectos ligados à alta de preços. “Temos também uma inflação que é benigna no curto prazo, mas que está piorando na margem. Os agentes estão aumentando as projeções de inflação para este ano”, acrescenta a executiva.

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No último Boletim Focus, o ponto médio das projeções de economistas para a inflação neste ano subiu de 4,20% para 4,22%, na quinta semana seguida de alta. Já a previsão para a inflação de 2025 caiu de 3,97% para 3,91%, enquanto a estimativa para 2026 foi mantida em 3,60%, percentual que está há 11 semanas. 

Apreciação do real

Ainda que os últimos dias tenham sido favoráveis para o câmbio com a apreciação do real em relação ao dólar, Srour avalia que a melhora não será capaz de trazer certo alívio ao Banco Central, já que os demais fundamentos domésticos continuariam a pesar contra uma postura mais frouxa da autoridade monetária. “Mesmo que o câmbio vá para R$ 5,30, isso ainda demandaria uma política restritiva para atingir a meta”, resumiu.

A economista também observa que a apreciação recente do real só foi causada pela sinalização de diretores do Banco Central de que a autoridade monetária não hesitará em subir os juros, se necessário. “Não foi uma coincidência. Foi resultado de um discurso mais duro [por parte dos diretores]”, acrescenta.

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Nas últimas semanas, Diogo Guillen e Gabriel Galípolo, diretores de política econômica e política monetária do BC, respectivamente, além do próprio presidente da instituição, Roberto Campos Neto, foram no sentido de que uma eventual alta de juros estaria na mesa, ainda que a última entrevista de Campos Neto ao jornal O Globo tenha sido lida como mais dovish (menos inclinada ao aperto monetário) pelo mercado.

“Mercado não está exigindo alta porque teremos um BC novo”

Ao ser questionada se as declarações recentes dos diretores foram feitas no sentido de “comprar” a credibilidade do novo BC, Srour defendeu que isso não é algo passível de ser comprado e que ela será testada a cada reunião, a depender da evolução dos dados e de como a autoridade monetária irá reagir. “Não acho que o mercado está exigindo algo do BC porque é um BC novo. Os dados demandam”, diz.

Srour também disse não ver que a autoridade monetária tenha sido colocada em uma “encruzilhada” ao mencionar sobre uma eventual alta de juros.

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“Eles tinham que fazer esse discurso para não ter que fazer um ciclo de juros muito agressivo em algum momento”, diz. “Se o BC não reconhece esses fundamentos e ficasse com discurso atrasado, provavelmente o câmbio não estaria onde está hoje e as expectativas [de inflação] estariam maiores. Eles teriam que fazer mais e com mais pressa”, acrescenta.

Precificação de alta de 0,25 ponto parece “justa”

Apesar disso, a especialista do UBS reconhece que, se a autoridade monetária não elevar os juros na reunião de setembro, poderá ocorrer um movimento adverso no mercado. Na visão de Srour, a precificação dos agentes financeiros de uma elevação de 0,25 ponto para setembro parece “justa”, embora um ajuste inicial dessa magnitude não faça “grande diferença” para reverter o cenário mais pra frente de inflação.

“Para iniciar com 0,50 ponto teria que ter um discurso mais coordenado. Essas sutilezas [no discurso] do Roberto [presidente do BC] e o Galípolo fazem diferença. Não parece que estão todos alinhados no grau [intensidade] do que vai precisar ser feito. Alguns estão mais preocupados com o externo, outros menos”, destaca.

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BC e Fed: ciclos monetários opostos

Mesmo diante de um cenário em que tudo caminha para que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) inicie um ciclo de afrouxamento monetário nos Estados Unidos na reunião de setembro, a economista defende que as idiossincrasias do Brasil não podem ser ignoradas na hora de avaliar a direção da política monetária.

“O BC não pode se prender tanto ao Fed numa situação em que a trajetória de inflação aqui está em risco”, diz. Para a profissional, o contexto doméstico de expectativas de inflação desancoradas, economia pujante e incerteza fiscal devem ser levados em conta, não apenas o externo.

Do lado fiscal, a economista cita que a probabilidade de o Governo cumprir a meta fiscal aumentou neste ano, mas com “medidas esporádicas” e que vão ser restritas a 2024. “Ainda não vimos nenhuma medida efetiva de redução de gastos. Vimos pente-fino, mas isso não resolve o problema estrutural”, pondera.

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Srour também chama atenção para os perigos do acordo feito entre os Três Poderes, na véspera (20), para estabelecer as diretrizes para guiar os repasses das emendas parlamentares ao Orçamento e que podem estressar ainda mais as contas públicas.

“As emendas já estão muito altas em relação aos gastos discricionários. Elas impedem um ajuste fiscal. O fato de elas já estarem muito altas e de serem impositivas é um dos fatores que podem levar ao desmoronamento do arcabouço”, avalia a economista.

A especialista lembra que a autoridade monetária só irá conseguir cumprir o seu objetivo se a “âncora fiscal estiver reforçada”. “Subir os juros e se comprometer com a meta é o máximo que o BC pode fazer. Para chegar numa inflação de 3% sem causar uma recessão, ele [BC] vai precisar da ajuda do fiscal e nosso cenário está ficando cada vez mais difícil”, finaliza.