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SÃO PAULO – Um dos temas que mais tem agitado o mercado financeiro é o temor sobre a alta da inflação nos Estados Unidos. Enquanto as bolsas já tiveram dias de pânico com os dados recentes, o Federal Reserve (banco central dos EUA) segue com um discurso de que a inflação alta é um fenômeno passageiro.
E dois dos nomes mais importantes do mercado nos últimos anos têm visões muito distintas sobre esse cenário. De um lado, Ben Bernanke, ex-chairman do Fed entre 2006 e 2014, concorda com o BC americano de que a inflação não deve permanecer alta por muito tempo, enquanto do outro, Mohamed El-Erian, economista e consultor-chefe do grupo Allianz, está bastante preocupado com o risco inflacionário.
Durante painel na Expert XP, os dois discutiram suas visões, com Bernanke reforçando que vê a inflação alta como algo passageiro, principalmente em um cenário em que ela ficou bem abaixo da meta de 2% do Fed por bastante tempo, sendo “normal” que agora ela possa ficar um período acima desse patamar.
Mesmo assim, ele concorda que a inflação está mais alta que o previsto, citando uma série de fatores para isso acontecer, dentre eles a reabertura econômica, destacando, por exemplo, algumas categorias específicas como o caso do preço de carros usados, que podem explicar a visão de que o cenário deve se reverter ao longo do tempo.
O economista ainda lembrou do debate sobre a pressão inflacionária do pacote trilionário aprovado recentemente no Congresso americano, mas que, segundo ele, “são voltados a projetos de infraestrutura e falamos de coisas para os próximos 10 anos”. Além disso, ele falou que, os preços das commodities caíram e ficaram mais estáveis neste meio de ano, indicando uma inflação mais moderada para os próximos meses.
Segundo Bernanke, é fato que uma inflação mais alta tem riscos, como impactos nos preços de alugueis, que acompanham a alta do preço das moradias. Há também um ambiente de impacto na cadeia de suprimentos, com portos fechados, por exemplo, o que pode trazer ainda mais problemas de inflação.
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O ex-chair do Fed diz que alguns setores estão projetando uma inflação mais alta, mas quando o cenário é visto de uma ótica mais ampla, as projeções de inflação permanecem em níveis próximos aos que o Fed está confortável.
Já El-Erian começou sua resposta dizendo que quer estar errado em sua visão, mas que está bastante preocupado com o cenário atual. Ele diz que enquanto se fala muito sobre o CPI (inflação ao consumidor), o PPI (inflação ao produtor) também está alto, indicando que existe mais pressão inflacionária.
Ele diz que as próprias empresas já não acreditam que a inflação será passageira, mas que a alta de preços irá durar por mais tempo. “Eu perco muito tempo falando com empresas, e elas não acham que a inflação é de curto prazo. Então, muitas delas já passaram a aumentar seus preços, confiantes de que a inflação vai durar mais tempo”, afirma.
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“Temos que ter a mente aberta para a possibilidade de uma inflação mais alta e persistente”, complementa, ressaltando que os EUA não devem voltar para os níveis dos anos 1970, mas mesmo assim, acima do previsto inicialmente.
Para o economista, a cadeia de suprimentos não é um impacto de curto prazo, isso porque elas estão sendo “redesenhadas” em um cenário em que as empresas estão focando em resiliência.
Enquanto isso, ele vê o problema do mercado de trabalho como um “quebra-cabeça” em que ninguém sabe o que vai acontecer, com mais de 10 milhões de vagas. “Nós torcemos para que isso seja temporário”, afirma destacando a dificuldade de projetar os impactos.
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As diferentes visões dos dois também levam a projeções bem diferentes, enquanto Bernanke vê a inflação rondando a marca de 2,5% no próximo ano, patamar que ele considera ainda confortável, El-Erian diz que vê os preços aumentando em um nível “mais próximo de 3% do que de 2%”.
A dupla ainda debateu sobre os modelos macroeconômicos, com El-Erian apontando que eles não conseguem captar grandes mudanças estruturais, sendo necessário o Fed ter um contato mais próximo com as empresas e utilizar outras formas para entender os impactados em cenário com mudanças tão fortes como o atual.
Por fim, ele ainda ressaltou que sua divergência com Bernanke se dá mais pela trajetória que devemos ter e não sobre onde os EUA irão chegar.
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“Eu e ele [Bernanke] não pensamos diferentes em termos de destino. Se nos perguntarem sobre o que vemos para o futuro dos EUA e da economia daqui a cinco anos, não acho que vamos ser muito diferentes sobre como o destino irá se parecer. O que nós divergimos é sobre a jornada, minha preocupação é que a jornada seja desnecessariamente tumultuada […] Eu concordo com o Ben, nós iremos emergir como uma economia mais produtiva, mas é o processo que levará a isso [que preocupa]”, conclui.
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