Alinhada com expectativas, decisão da Moody’s deve impactar no longo prazo

Para Citi, grau de investimento sinaliza melhora sustentada das contas públicas e reforça projeções positivas

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SÃO PAULO – Por mais esperada que fosse, a decisão da agência de classificação de risco Moody’s em elevar a nota para dívida brasileira ao grau de investimento foi avaliada como positiva para muitos analistas. Ainda assim, muitos podem ficar decepcionados com seu impacto limitado sobre o mercado no curto prazo.

Se no início da crise o mercado desconfiava até da manutenção do grau de investimento já conferido ao Brasil pelas agências S&P e Fitch, o seu desenrolar deixou clara a resistência da economia do País frente às turbulências.

Para os investidores, bastou somar este cenário favorável às inconfidências de autoridades, como o Ministro Guido Mantega, e depoimentos positivos de economistas da instituição, para que a Moody’s seguisse as outras agências. Faltava apenas a chancela oficial, conferida na última terça-feira (22).

Repercussão

Embora não tenha sido surpreendente, o anúncio foi comemorado por autoridades econômicas brasileiras. Em agosto, o Ministro da Fazenda já apontava setembro como uma data provável para a elevação do rating pela Moody’s.

Menos empolgados, os analistas receberam em tom positivo a mudança, mas ressaltaram o fato de esta já ter sido antecipada pelos mercados. “Uma boa notícia, mas que soa um tanto quanto velha, se ponderada a percepção de risco dos ativos brasileiros frente os nossos pares”, afirmou a equipe da Gradual Investimentos.

Longe de ser uma ação isolada, os analistas da Ativa Corretora acreditam que “a elevação fecha um ciclo iniciado em 2008”, sendo um reforço da “tendência positiva para novos fluxos de investimento”, na visão da corretora Ágora.

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Dinheiro novo

Para muitos analistas, um dos efeitos mais importantes da elevação da dívida brasileira ao grau de investimento foi a abertura do mercado doméstico a diversos fundos internacionais, que possuem limites para investimentos em países classificados no grau especulativo – posição que o Brasil ocupava.

“Esse upgrade vai permitir que alguns dos fundos internacionais que tinham restrições em aplicar no Brasil (…) agora o façam”, disse Miriam Tavares, diretora de câmbio da AGK Corretora, que no entanto admite que a mudança foi defasada e já estava “em boa parte precificada”.

Entretanto, parte dos analistas acredita que, mesmo em relação aos investidores institucionais estrangeiros, haverá poucas diferenças, uma vez que a exigência feita na maioria de seus estatutos é de que duas, das três grandes casas de classificação de risco, concedam o grau de investimento. Isto já tinha ocorrido.

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“Vale ressaltar que os efeitos do grau de investimento só se fazem sentir a médio e longo prazo, já que já havíamos obtido uma excelência do risco-Brasil na casa dos 220 pontos base, além dos efeitos de redução do risco cambial ao longo dos últimos meses”, avaliou a corretora Ágora.

Controle fiscal

Segundo o estrategista Geoffrey Dennis, do Citi, um dos fatores mais positivos da ação da Moody’s resulta da sinalização positiva em relação à situação fiscal brasileira, uma vez que a elevação de risco foi dada pela agência que confere maior peso ao equilíbrio fiscal em sua decisão.

“Um upgrade agora sinaliza a confiança da Moody’s de que a queda no nível de endividamento do Brasil desde 2002 é sustentada”, afirmou Dennis, o que deve dispersar os temores sobre a deterioração fiscal brasileira, suscitados com a elevação dos gastos e a redução das receitas por conta da crise.

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De acordo com o analista do Citi, a notícia apenas reforça a expectativa de desempenho acima da média do mercado brasileiro, que é baseada em projeção de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2010 de 5%, a manutenção de juro básico em um dígito até 2011 e em um real fortalecido.